Felicidade, seu nome é almoço de domingo no Mocotó

AMO AMO AMO: dadinhos de tapioca com queijo coalho e molho agridoce e picante.

 

 É raro encontrar um paulistano que goste de comer e jamais tenha ouvido falar no Mocotó: de quatro anos pra cá, a casa do chef Rodrigo Oliveira (e ele também) saiu em todos os guias, sites, revistas e programas de tv possíveis. Apesar de ficar num bairro bem distante da rota gastronômica da cidade (Vila Medeiros), o Mocotó SEMPRE tem filas imensas na porta e não é difícil ter que encarar espera de mais de duas horas nos almoços de domingo; por isso, faça como eu e chegue antes do meio-dia. 

Porque tanta badalação? Porque Rodrigo simplesmente voltou a colocar a comida brasileira no roteiro dos “gourmands”, pessoinhas geralmente tão esnobes e preconceituosas. O simpático e pacato cozinheiro tornou-se querido de grandes nomes da gastronomia nacional como Alex Atala e Mara Salles, para citar só alguns. 

Carne seca desfiada com cebola e pimenta biquinho

Rodrigo usa ingredientes marcadamente brasileiros– especialmente da cozinha nordestina– com preparo e técnicas primorosas. Com o sucesso, o salão do Mocotó foi crescendo ao longo dos anos, ganhando mais mesas, mais rótulos de cachaças, mais salões, mas sem perder a característica de simplicidade, atendimento cordial e jeitão de casa de amigos. Aos domingos, é normal encontrar famílias inteiras lotando mesas com 15, 20 pessoas, em refeições que duram a tarde toda. Como a que tive último domingo, com 10 amigos: chegamos ao meio-dia e saímos às 17h30, completamente embriagados e bem felizinhos. 

Escondidinho de carne seca: cremosíssimo, feito com purê de mandioca (e eu adoro a pimenta biquinho láááá no meio)
Como diz Rodrigo, o carpacho: carpaccio para cabra macho (feito de carne de sol)

Assim que cheguei, pedi duas coisas das quais sou absolutamente fã: caipirinha de caju e dadinhos de tapioca com queijo coalho. As caipirinhas lá são um caso sério: super bem preparadas, com diveeeeeeeeeeeeeersas frutas e a possibilidade de escolher entre mais de 100 rótulos de cachaça. Além da de caju, fiquei amarradona na de tangerina, limão-cravo, limão siciliano, manjericão e umburana (também chamara de amburana, é uma semente extremamente aromática com sabor abaunilhado) e na de limão com rapadura. Ou seja: tomei umas cinco e fiquei meio torta; para compensar, me joguei nos magníficos, macios, quentinhos e viciantes dadinhos de tapioca com queijo coalho, os quais mergulho com fé no molho agridoce e picante que leva tangerina, canela, coentro e pimenta vermelha. 

Especialidade da casa, a Mocofava é uma combinação de caldo de mocotó com favada

A galera foi chegando, a mesa lotando, a fome apertando e, de repente, tínhamos  na nossa frente mocofava (caldo de mocotó temperadinho preparado com favada), o meu amado escondidinho de carne-seca (feito com purê de mandioca e requeijão e gratinado com queijo-coalho), carpaccio de carne de sol (que Rodrigo chama de “carpacho, o carpaccio de cabra-macho”), carne-seca desfiada e refogada com cebola roxa, cabrito ensopado, mandioca cozida, mais caipirinhas, doses de cachaça curtida com umburana, algumas cervejas, baião-de-dois acompanho de abóbora, mais torresminho… 

Baião-de-dois: “feijão com arroz” incrementado com queijo, linguiça, bacon e carne-deca

Acabou? Não. Doce é necessário para equilibrar a quantidade de sangue no álcool! Comecei pelo tradicionalíssimo sorvete artesanal de rapadura com calda de melado, passei para o mousse de chocolate com cachaça, fui para o pudim de tapioca com leite de coco e coco queimado, dei uma colherada no Cartola (doce tradicional nordestino feito com banana, queijo e canela), me joguei no creme brulê de doce de leite com umburana (olha ela de novo!) e terminei nos doces caseiros de jaca, de leite, ambrosia e de banana. Se morri, não! Ainda deu tempo de rir mais, falar mal de algumas pessoas, bem de outras, tomar mais uma dose de cachaça. 

Sorvete de rapadura com calda de melado: sensacional
Doces caseiros: jaca em calda, doce de leite, doce de banana, ambrosia e pedação de queijo coalho

Depois, com a chuva que caía torrencialmente lá fora, só me restou uma coisa: entrar no carro e deixar meu namorado lidar com o longo caminho de volta. O máximo que fiz foi tentar, em vão, acertar o GPS. 

Ah, sim, os preços: não coloquei nesse post porque depois de tanta bebida, a última coisa que lembrei foi do meu bloco. Mas digo uma coisa: uma refeição farta, para três pessoas, com uma caipirinha per-capita, não fica mais de R$ 90. E esse é o VALOR TOTAL. 

Novidade boa demais: creme brulê de doce de leite com umburana
Cartola: doce de bana com queijo
 Mocotó: Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100, Vila Medeiros, São Paulo, tel.: 2951-3056

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