Estou para conhecer a Quinta da Canta há uns oito anos, desde a época em que era editora da Viagem e Turismo. Planejei, enrolei, adiei, o tempo passou e acabei não indo. Em alguns domingos, uma luzinha acendia no fundo do meu cérebro “Bem que eu poderia ir até lá hoje…”, mas daí apagava e eu ia fazer outra coisa. Mas domingo passado, aleluia!, fui. Ao colocar o primeiro bocado de pão caseiro de cará com manteiga temperada com mostarda em grão na boca, percebi a besteira que tinha feito em perder tanto tempo sem conhecer a casa de Sérgio Lima.
Para entender a Quinta da Canta não basta descrever pratos. É preciso contar um pouco de história. Sérgio Lima foi publicitário durante toda a sua vida. Gostava do que fazia, trabalhou em grandes multinacionais, mas o que mais lhe dava prazer era cozinhar para os amigos. As décadas se passaram e o amor pela culinária só se intensificava.
Então, quando se aposentou, comprou uma casa deliciosa na Serra da Cantareira. Alguns amigos o aconselharam a transformar o hobby em algo mais amplo: por que não estender esses jantares e almoços tão queridos também para desconhecidos?
Então Sérgio criou os almoços da Quinta da Canta, refeições longas, delicadas, deliciosas, com vários pratos, em que o comensal não só degusta as delícias preparadas por ele e sua mulher, Teresa, como curtem a brisa da serra, acompanham os esquilos correndo pelas árvores e chegam a conclusão que comer é bom, mas comer bem e com calma é um dos maiores prazeres que um ser humano pode ter em público.
A quinta fica numa bela área da serra. Nenhum barulho em volta, apenas o balançar das folhas. Para ficar imerso em tanto verde e calma você vai ter que dirigir um bocadinho: dá uns 24 quilômetros de Perdizes, onde moro. Sim, é longe. Sim, o caminho é confuso. Mas, ó, vale a pena. Mesmo. Muito. Assim que você chegar lá vai esquecer do trajeto, aposto. Aconteceu comigo.
O casal Sérgio e Teresa recebe, no máximo, 24 pessoas que ficam dispostas em mesas em diversas áreas da casa: na varanda de frente para a mata, no mezanino no meio das árvores, na sala da lareira… Lembre-se: APENAS COM RESERVA e somente aos sábados e domingos. Em cada final de semana preparam um menu degustação diferente– e fazem isso com o maior carinho do mundo. O número de pratos varia de 4 a 6, além de uma sobremesa.
Eu e meu namorado ficamos em uma mesa, delicada e belamente decorada, em uma das sacadas. Começamos a tomar nosso espumante às 13hs.
Depois de comer maravilhosamente, conversar sobre Frank Sinatra e gastronomia com Sérgio, bater um papo com o garçom (que durante a semana é diretor de uma importadora! “Trabalho como garçom aos finais de semana porque tinha muita dificuldade em lidar com pessoas. Era grosso. E não há nada melhor para entender o ser humano do que servi-lo”), tomar várias taças de vinho (vendidos a preços beeeem razoáveis) e ver o sol virar lua, notei o quanto a Quinta da Canta é especial. Já eram 18hs e tudo parecia ter sido um piscar de olhos.
A Quinta da Canta é um lugar que nos faz resgatar a magia de uma refeição como ela deveria ser: sossegada, deliciosa, sem prepotência e com muito prazer.
Quinta da Canta: tel.: 11 4485-2185 e 11 3331-2882 (só atende aos sábados e domingos, com reserva). O menu degustação custa R$ 125 por pessoa.
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