Hotel Yeatman: o Douro e a cidade do Porto aos pés da cama

Almoço em um dia de primavera no Yeatman

Sabia que o hotel seria bonito e luxuoso, claro: pesquisei na internet e chequei fotos, como sempre faço. Mas no momento em que abri a porta do meu quarto e vi, através da imensa sacada, o Douro banhado pelo sol e a cidade do Porto inteira ali, ao pé da minha cama, a respiração faltou por um instante. A vista sensacional, completamente desimpedida e eterna, somada ao vento fresco da primavera européia, me fez agradecer a todos os santos por estar ali.

Fato: o Yeatman é muito melhor ao vivo do que em qualquer folheto turístico.

Meu quarto: gigante, lindo, com banheira imensa e um visual sensacional

The Yeatman, inaugurado no segundo semestre de 2010, pertence ao mesmo grupo da vinícola Taylor’s (que, como se vê pelo nome, é inglês), produtora de um dos vinhos do porto mais famosos e localizada do outro lado da rua– e a degustação de dois rótulos é gratuita, assim como a visita em suas caves.

Drinques no hotel: esse de vinho do porto branco com água tônica é mucho do bão

Novíssimo, lindamente espaçoso– apesar de seus 83 quartos é virtualmente impossível encontrar uma ambiente dele que pareça lotado–, foi construído no lugar de um armazém antigo em Gaia, município defronte ao Porto, do outro lado do Douro, que por séculos funcionou como área industrial e até hoje é o único lugar no mundo no qual se pode envelhecer vinhos doces que recebem a denominação de Porto– sim, o vinho do porto é, na verdade, vinho de Gaia. Mas então, neste terreno em desnível foi erguido um dos hotéis mais sensacionais de Portugal, em que todos os hóspedes, de qualquer quarto, desfrutam da imagem quase poética do Douro e as mudanças de luz da cidade à sua frente.

Mimo do hotel

É um hotel “vínico”, ou seja, tudo gira em torno do vinho. Seja na adega de 25 mil garrafas com mais de 1000 rótulos portugueses, de todas as regiões; seja nos quartos “patrocinados” por vinícolas– por 3 mil euros ao ano, ela pode decorar o quarto que, além disso, leva seu nome na porta–, nos jantares harmonizados que rolam todas as quintas por 50 euros ou mesmo no lindo spa da Caudalíe, marca francesa cujos produtos são feitos à base de uva.

Visual da sacada do meu quarto

Por mais incrível que pareça, as diárias não são exclusivas para milionários. Pelo contrário: na baixa temporada, entre novembro e janeiro, o quarto padrão sai por 150 euros, ou seja, bem mais barato que muita pousada no nordeste brasileiro. Na alta, fica em 300 euros; o mais caro, uma suíte imeeeeeeeeeeeeeeeeeeensa, 700 euros. Mas, olha, dê-se de presente um dia lá e você vai entender porque vale cada centavo, cada segundo.

Vista da sacada-- QUALQUER sacada-- do Hotel Yeatman: o Douro e as luzes da cidade do Porto

No primeiro dia por lá, tudo o que queria era ficar na cadeira da minha sacada, ou na mesa do restaurante, olhando para a paisagem. Sério, lindo demais. Tranquilo demais. Depois de um vôo de 10 horas, apertado e com criança berrando ao lado, tudo o que queria era paz– então enchi a imensa banheira, abri a janela que a separava do quarto, e fiquei ali, tomando um copo de espumante, olhando as gaivotas que vinham pousar no jardim, imersa na água quente.

O banho romano-- quentinho-- no spa do hotel

Nestes momentos, pouca coisa parece ter urgência; a mente e o corpo são invadidos por um egoísmo doce e quente… entregar-se ao bem estar é tudo o que se quer. Terminado o banho revigorante (todos os produtos dos quartos também são da Caudalíe), me mandei pro spa. Daí, outro UAU.

Degustação de vinhos do Porto na Taylor's

Caminhando por entre uma nuvem fina de aroma de uva, cheguei a sala à meia luz e deitei na maca aquecida. Enquanto as mãos da terapeuta percorriam tranquilamente meu corpo, desfazendo nós de tensão, o cheiro do óleo com tangerina amolecia meu cérebro feito folha de gelatina em água morna. Depois de cinquenta minutos de massagem, me arrastei até o banho romano, uma piscina coberta, escurinha, com água a 32 graus. Depois, sauna. Depois, espreguiçadeira de pedras quentes. Depois, um mergulho na piscina interna com, claro, vista para o Douro. Depois… bom, depois a única solução foi subir para o quarto e dormir numa das maiores e mais deliciosas camas que já tive o prazer de me jogar.

A piscina externa: mergulho olhando para as luzes da cidade do Porto

Acordei perto das 20hs, ainda meio zonza por conta do fuso horário. Morta de fome, fui para o bar petiscar algo antes do jantar e fui recebida por um drinque que, desde então, se tornou um vício para mim: copo alto com muito gelo, uma dose de vinho do porto branco seco, água tônica e um pedacinho de casca de laranja. Refrescante, tânico e com final doce. Depois dele, o menu degustação caiu bem dum tanto…

Lombo selado com carvão vegetal, batata trufada e purê de berinjela no restaurante do hotel

Camarão caramelizado, terrine de foie gras, lombo selado em carvão vegetal, brandade de bacalhau, carneiro com purê. E vinhos, muito. Em muita quantidade. A preços delirantes (rótulos premiados por 10, 15 euros a garrafa, que são vendidos na excelente loja do hotel). Conversa animada. Então, às 22hs, o céu se tornou azul escuro e as luzes da cidade se acenderam. Era a noite apenas começando.

A piscina aquecida à noite: vista pouca é bobagem

Fiquei cinco dias no Yeatman. Ficaria vinte. Ficaria trinta, explorando as ladeiras de Gaia onde o ar tem cheiro de vinho sendo envelhecido, passeando por todas as produtoras de Porto que ficam em um raio de 800 metros (Graham’s, Sandeman, Taylor’s, Croft, Ferreira, Fonseca…) e, em cada uma, fazendo uma degustação. Aprendendo sobre o vinho do Porto, tão querido aos ingleses, e suas diferenças: Vintage, envelhecido na garrafa; Tawny, com notas de mel e frutos secos, envelhecido em pequenos barris de madeira; Ruby, doce e pura fruta vermelha, envelhecido em grandes barris. Atravessando a ponte e passeando pelo cais repleto de turistas. Pegando um barco e descendo o Douro. Comendo doce de ovos. Mergulhando à noite na piscina externa do hotel. Devorando francesinhas (isso fica para um próximo post). Tomando espumante no farto e elegante café da manhã.

Suspirando.

Admirando.

Taí um hotel que faz bem para a alma.

Uau

The Yeatman:  Rua do Choupelo (Sta. Marinha), Vila Nova de Gaia, tel +351 22 013 3100

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