A Enoteca Saint Vin Saint foi criada há três anos pela vontade da chef Lis Cereja de ter um lugar onde pudesse colocar seus sonhos em prática: ter uma cozinha quase 100% orgânica, servir só pratos dos quais gosta pessoalmente e usar apenas os melhores ingredientes sazonais. E tinha mais: apaixonada por vinho (ela também é sommelière) e cansada de provar tantos carregados em conservantes, alterados para parecem o que não são, decidiu trabalhar apenas com rótulos orgânicos (no qual a fruta não recebe nenhum tipo de fertilizante), biodinâmico (a história é muito complicada pra explicar aqui, mas basicamente respeita os ciclos naturais da planta) e naturais (feitos de maneira artesanal, como há séculos).
O resultado é um ambiente deliciosamente parisiense e romântico– e que fica beeeem longe de ser cafona—, aconchegante, com menu apetitoso no qual dá vontade de provar tudo e vinhos surpreendentes.
Aliada ao seu marido, o sommelier Ramatis Russo (ex Emiliano), Lis prepara receitas que não seguem uma linha determinada ou uma culinária. O que as liga é o fato de serem delicadas, bem executas e, claro, combinarem lindamente com os vinhos oferecidos na carta que inclui rótulos de R$ 50 a R$ 500. Várias coisas me agradaram na Saint Vin Saint antes de mesmo de comer: o cardápio é uma lousa que circula entre os comensais e muda com frequência; Lis e Ramatis atendem as mesas, anotam os pedidos e conversam com os clientes como se o lugar fosse realmente sua casa; o jazz ao vivo é suave e agradável.
Para começar, os pães da casa-– que tem receitas de Lis porém são executados pelo padeiro do bairro, fato que a própria chef faz questão de esclarecer– são macios e robustos, e vem acompanhado de creme de gorgonzola, manteiga francesa e azeite temperado. Enquanto você escolhe um petisco entre a Tábua de queijos especiais (R$ 59), as Pimientas rellenas com carne picante (R$ 29) ou as Croquetas de bacalhau e batata (R$ 29), aproveite para pedir um vinho em taça, que custam ente R$ 25 e R$ 35– orgânicos e biodinâmicos tem lá seus problemas… o preço. São, ao menos, cinco opções diárias.
Mas eu decidi ir de menu degustação. São dois tipos: somente pratos (R$ 139 por pessoa; geralmente quatro etapas) ou pratos e vinhos harmonizando (R$ 179). Já que estava nunca enoteca, abracei o capeta e fui no segundo.
A refeição começou com uma linda croqueta de paella valenciana de casca etérea e crocante, sobre tomate assado e azeite com alecrim. Então, o primeiro prato: Mar e Terra (que custa R$ 37 se pedido como principal fora da degustação). Imagine a vieira mais gorda e mais saborosa que você já viu. Então grelhe-a rapidamente e coloque-a sobre uma terrine caseira de foie gras marinada em Late Harvest e Moscatel, o que confere um adocicado que casa feliz com a gordura. Então pegue esses dois ingredientes e disponha-os entre uma delicada salada de brotos com um fio de azeite trufado. Imaginou? Comer é bem melhor, garanto. O par do prato foi o francês Touraine Le Buisson Pouillex 2005 que, como a maioria dos vinhos da casa, é turvo por não ser filtrado– por isso não estranhe.
Na sequência, a Tatin de tomates (custa R$ 29 fora da degustação). Vermelhos, tenros e graúdos tomates orgânicos assados apenas com um fio de alho, sobre massa folhada finíssima e acompanhados de purê de alho finalizado com caldo de carne. O vinho que o acompanhou: Huasa de Pilen Alto 2010 que, sério, foi o mais perto que cheguei de lamber um cavalo suado. Aromas de estábulo, couro, terra. Personalidade forte pacas.
Para finalizar os salgados, um sublime Risoto de boeuf bourguignon (R$ 45 fora do menu degustação). O negócio é o seguinte: Lis faz a receita tradicional de boeuf bourguignon— carne no Pinot Noir que demora 12 horas para ficar pronta– e depois faz o processo tradicional do risoto que, aliás, tinha arroz perfeito, coisa rara. Eu queria comer direto da panela…. O parceiro foi o Montessu Isola dei Nuraghi 2006.
O final não poderia ser melhor e surpreendente: creme brulê de espumante brut da Pizzato (R$ 19). “Começamos a receitas reduzindo a garrafa de 750 ml para 200 ml”, diz Lis. O resultado é um creme que explode em sabores salgado, caramelado, doce, alcoólico, com uma capa caramelizada tão bem feita que dá vontade de bater palmas. Desculpe, baunilha, mas não senti a sua falta. Se for pra ser beeeem chata, acho que poderia estar um tiquinho mais cremoso. O vinho de sobremesa, o austríaco Heidi Schrock Beerenauslese 2008.
É possível comprar todos os vinhos que estão no cardápio na loja dentro do restaurante.
Enoteca Saint Vin Saint: Rua Professor Atílio Innocenti, 811, Vila Olímpia, tel.: 3846-0384
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