Paulo Barroso de Barros, o talentoso chef por detrás do premiado Due Cuochi (do qual acabou de sair da sociedade), e Paulo Kress, sócio do Kaá e do General Prime Burger, acabam de inaugurar o Italy, uma trattoria, na Oscar Freire. A idéia é servir comida italiana despretensiosa, a preços não abusivos, num dos pontos mais badalados e caros de São Paulo.
Há apenas uma semana da abertura, posso dizer algumas coisas: a comida é ótima, o preço é realmente bom (o prato mais caro custa R$ 52; o mais barato, R$ 28,50), mas o ambiente está longe de ser simples: meia luz, cozinha semi-aberta, adega a vista e muita gente endinheirada espalhada pelas mesas do salão já completamente lotado. Um sucesso logo de cara. Aqui faço um adendo: muita gente tem comentado comigo que a qualidade da comida tem oscilado demais, chegando a estar, por vezes, mal feita. Nas duas vezes em que estive lá, não notei isso.
Comece pelo carrinho de antepastos e conservas caseiras que circula de mesa em mesa pelos salões dispostos em dois andares e interligados por um elevador. Nele, no carrinho, mais de uma dezena de opções: presunto San Daniele fatiado na hora, gorgonzola, Grana Padano, caponata, linguiça curada, mini alcachofras, shiitake, abobrinhas no azeite, tomate recheado com ricota de búfala… O misto de conservas, para duas pessoas, custa R$ 29; de conservas e embutidos, R$ 35; de conservas, embutidos e queijos, R$ 42. Mas, na boa, se você comer tudo isso, não vai sobrar espaço para o principal. E isso seria um crime.
Dei uma olhada na vasta carta de vinhos mas não aguentaria tomar uma garrafa sozinha— meu acompanhante não estava numas. Então pedi uma taça de tinto chileno por R$ 15 (a mais cara custava R$ 23). Passei um bom tempo estudando o que pediria do extenso menu, daqueles que tornam a escolha quase infernal, de tão difícil: risoto de rúcula com carre de leitão caipira ao molho de mostarda (R$ 52), pici ao sugo de linguiça e funghi (R$ 34), tortelli de carne com presunto cru e fonduta de parmesão (R$ 34), Capellini ao pomodoro com lulas e alcaparras (R$ 32). Bom, depois de muito pensar, optei por uma das massas e das carnes que mais adoro: bigoli ao ragu de pato (R$ 41). Meu par foi de raviolini recheado de mandioquinha com queijo stracchino, acompanhado de peras e redução de vinho do Porto (R$ 37).
Meu bigoli, bem servido, gorducho, al dente, estava lindamente envolto pelo molho encorpado e aromático de pato, cuja carne tenra veio saborosa a ponto de, sem vergonha nenhuma, eu raspar o prato com o pão do couvert. Ficou tão limpo que parecia nem ter sido usado. E o ravioloni era um caso à parte: massa etérea, de tão fina, ao mesmo tempo com consistência perfeita, sem amolecer ou desfazer ao encostar na língua. A mistura adocicada da mandioquinha e do stracchino harmonizaram lindamente com a também adocicada redução de porto e os pedacinhos ainda crocantes e frescos da pera– o toque de perfeição ficou por conta da finalização de grana padano, que adicionou o contraponto salgado. As massas, todas feitas na casa, são um primor.
As sobremesas, apesar de corretas, não me impressionaram: Bongo com ganache de chocolate, um primo bem próximo do profiterole, recheado de leve creme de baunilha (R$12) e torta de amêndoas com pera acompanhada de sorvete de figo (R$ 21).
Saí do Italy com vontade de voltar e provar todo o menu. Não sei se é trattoria, mas Paulo Barroso está de parabéns. De novo.
Italy: Rua Oscar Freire, 450, Jardins: tel.: 3167-7489/ 3168-0833. Aconselhável reservar.
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