Sair de São Paulo às vezes é vital. Pelo menos pra mim. Poder respirar sem medo de encher o peito de partículas preto-morte de monóxido de carbono e andar com tranquilidade de não ser atropelada por um caminhão clandestino de lixo são apenas algumas das razões dessa suprema necessidade. O destino não precisa ser distante: Campos do Jordão, praia, alguma cidade pacata de Minas. Ou Visconde de Mauá, pra onde fui no final de semana passado (com trânsito, deu umas quatro horas e meia de viagem).
Fazia uns anos que não ia pra lá–cinco, na verdade. Fiquei positivamente surpresa, a começar pelo asfalto da serra, novo em folha, e das várias obras de melhorias que estão sendo feitas, tanto no caminho quanto em Visconde propriamente dita: um portal para controlar o acesso de turistas está em contrução e já foram finalizadas três estações de tratamento de esgoto, o que deu uma reavivada nítida no rio que corta Maringá, Maromba e Mauá. Há outros projetos em andamento, em boa parte criados e supervisionados pela Associação Turística e Comercial da Região de Visconde de Mauá. Ou seja: tem alguém cuidando da região, não só explorando. Coisa rara.
Foi bem do bom chegar lá– depois de horas de trânsito desgraçado– e encontrar uma cama grande, linda, fofa, com lençóis da Trousseaus e travesseiros de plumas de ganso. Melhor ainda foi me enfiar numa banheirona de frente pras montanhas e só para elas. Nenhum humano, nenhuma janela de cara pra mim. Só árvores e passarinhos.
Os amplos chalés da Mauá Brasil ficam distantes uns dos outros e são confortáveis, ótimos para dormir até tarde (principalmente porque o bom café da manhã rola das 9h/12h), uma das coisas que mais IDOLATRADO. Sou dorminhoca pacas.
Sabadão fui conhecer a criação de trutas do A Truta Rosa.
O diferencial do lugar são as trutas salmonadas, ou seja, alimentadas com ração especial importada, que dá a elas coloração salmão e as torna rica em vitamina A– o sabor muda muito pouco, na real. A produção do trutário é de 30 quilos por semana, entre a truta normal e a salmonada, comercializada basicamente em Visconde de Mauá. No mesmo espaço funciona uma loja que vende os peixes inteiros ou em filé (R$ 32 o quilo da normal, R$ 37 da defumada e R$ 43 da salmonada) e um restaurante, aberto somente aos sábados e domingo. Ali, comi um fresquérrimo Sashimi de truta salmonada (R$ 21, para duas pessoas), com peixe abatido cinco horas antes. Se não fosse almoçar depois, teria pedido também a Truta inteira assada na brasa com cogumelos (R$ 43), mas o Gosto com Gosto, e sua liiiinda comida mineira, estava a minha espera.
Eleito algumas vezes o melhor restaurante mineiro do Brasil pelo Guia 4 Rodas, o Gosto com Gosto, comandado pelo chef Monica Rangel, fica na vila de Mauá. A primeira coisa que você notará quando entrar é a quantidade e diversidade de garrafas de cachaças artesanais expostas nas prateleiras– mais de uma centena. A segunda coisa é o cheiro de linguiça e toucinho frito que emana da cozinha numa onda que desperta um apetite jurássico. O Gosto com Gosto é pra quem tem fome, muita fome: porções fartas de ingredientes substanciosos e encorpados, acompanhados de lindas e bem feitas caipirinhas (amo a de limão cravo) e, porque não, torresminho. Comecei pela entrada mista, uma chapa com linguiça (é possível optar pela de porco, lombo com bacon, frango, cordeiro ou picanha), quatro bolinhso de mandioca recheados com queijo, anéis de cebola e chutney de fruta da estação (R$ 23, 50). Como se já não fosse o suficiente, me joguei feliz no delicioso e fartíssimo tutu à mineira (R$ 79,50, para 2 pessoas): creme aveludado de feijão batido, incrível costelinha de porco ao molho de laranja, torresmo crocantíssimo, ovo, couve e arroz e ainda terminei no bufê (sim bufê! você come quanto quiser!) de doces caseiros (R$ 14, 50 por pessoa).
Ambrosia, doce de limão, bananada, goiabada, doce de cidra, doce de coco, doce de leite, tudo acompanhado de queijo minas. Que tesão. Como gosto desses sabores.
Com morte temporária, voltei pra pousada e só saí no dia seguinte. Adivinha o que fui fazer? Comer, claro. E num restaurante primoroso: Rosmarinus.
Situado na estradinha para Maringá, o Rosmarinus, comandado pelo gente boníssima e chef Julio Buschinellio, fica em um belo espaço à beira do riacho. É possível fazer sua refeição em uma mesa situada na sombra de árvores centenárias, ouvindo o barulho da água corrente. Ali, tudo é artesanal, dos azeites infusionados com ervas da horta orgânica à massa finíssima do sensacional sofiotti de queijo. Julio mora em Mauá e seu restaurante é quase uma extensão de si mesmo. Por isso, quando for lá, vá com calma. Peça um vinho da boa adega. Não dispense o couvert repleto de gostosuras como os pães artesanais e os legumes marinados. E, acima de tudo, curta.
Comecei o menu degustação com um estupendo carpaccio de truta salmonada (da A Truta Rosa) com flor de sal— que crocância boa!–, azeite de manjericão e capuchinha. Na sequência, Sofiotti de queijos com molho de tomate (R$ 19,60 a unidade): massa etérea recheada de mussarela de búfala, ricota e requeijão, coberta por molho caseiro de tomate adocicado que, sinceramente, é de ter crise de choro de tão gostoso.
Então, Truta Visconde de Mauá, receita criada há quase 10 anos através da parceria de seis chefs, que traz os ingredientes mais consumidos na região: filé truta rosa com crosta de aveia e raspas de llimão, acompanhada por purê de batatas com queijo meia cura e molho de azedinha com capim-limão. Sobremesa? Deliciosa compota de tomate, ainda crocante, com seu toque levemente ácido mantido, acompanahda de queijo cremoso. O preço dos pratos varia de R$ 35 a R$ 59 cada.
Voltarei mais a Visconde– correndo, de preferência. Para queimar pelo menos um milésimo das ótimas calorias que, certamente, vou ingerir na visita.
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