Quinta-feira, 13h30. Fazia uns 23 graus e o céu azul ficava ainda mais bonito quando as poucas nuvens se dissipavam e o sol aparecia. O agradável sol de outono. Sentada na área externa- um belo jardim – da nova casa de Roberto Ravioli, La Madonnina, tenho a leitura do menu interrompida pelo próprio, que chega em minha mesa todo esbaforido, com seus cabelos semi-grisalhos, quase na altura dos ombros, calça jeans batida e camiseta pólo: “Tudo bem por aqui? Correria essa vida de ir e vir de um restaurante pra outro!”. Não, a introdução foi privilégio meu: ele continuou a saudação em cada mesa, para cada cliente. Roberto Ravioli- conhecido por seus pares como um cara de simpatia não muito vasta -, estava atuando em seu papel de host, hoje muito mais recorrente do que o de chef, já que supervisiona seus três restaurantes (Emporio Ravioli, Ravioli Cucina Casalinga e La Madonnina) e tem profissionais que respondem pelas cozinhas de cada um. Mas essa simpatia evaporou quando… bom, deixemos isso pra daqui a pouco.
Belamente decorado, agradabilíssimo (Roberto, arquiteto de formação, foi o responsável pelo projeto). Lindas louças alemãs Rosenthal. Grandes rosas amarelas espalhadas pelos salões, assim como criativos arranjos de limão siciliano. A tela “La Madonnina” (que dá nome a casa), do artista italiano Enzo Venturini, dando as boas vindas, logo na entrada. O novo restaurante é mesmo um bom lugar para almoço de negócios ou para um jantar romântico (sim, é versátil). Pena que o menu não brilhe tanto quanto o ambiente.
Como curto pacas miúdos, comecei o almoço com polenta grelhada, fígado de frango refogado com cebola roxa caramelizada ao Marsala (R$ 29). A porção minúscula – duas garfadas deram fim ao prato- trazia polenta branca e fígado bem temperado. A outra entrada foi cumbuca de talleggio com gema de ovo caipira e raspas de trufa negra (R$ 45)- o creme, com gema um tantinho mais dura do que ideal, quase não tinha aroma ou sabor de trufa, visto que era em conserva. Pelo alto valor, custo-benefício ruim.
Meu namorado se deu bem com o belo Parmigiana (R$ 49): fininho, massa sequinha, ótimo molho e queijo de qualidade, que fazia deliciosas crostinhas crocantes na borda do prato. Mas não consigo achar normal não ser acompanhado de nada. Nem arroz, nem massa, nem pão italiano. Você fica lá com aquele queijo todo, aquele molho todo… Talvez seja só eu a achar isso, enfim.
Eu optei por um rigatoni à bolonhesa com ricota fresca (R$ 42). Mediano. Pouco molho, o que deixou a massa sem graça. Talvez devesse ter pedido o ravióli de galinha d’angola ao molho do assado (R$ 51) ou o tagliatelle com ragu de trilha (R$ 49). Vai saber.
Na sobremesa fomos de Crema al Mascarpone, Cioccolato e Castagna (R$ 21). Saborosas as castanhas portuguesas em sua calda e delicado o creme de mascarpone, porém o chocolate se resumia a esse poeira da foto que, pra mim, mais parece decoração.
Então paguei a conta de R$ 230 reais – nada de vinho, couvert ou café e apenas uma sobremesa- e me levantei para fazer a foto do salão, do canto, sem focar ninguém, como sempre. “Você é de que revista”, ouço de um Ravioli de cara fechada, me seguindo. “Nenhuma”, respondo. “Então porque está fazendo fotos das minhas coisas?”, ele continua. Ignorei e fui embora. Acho um absurdo esse tipo de abordagem.
Em tempos de internet, da grande influência dos blogs, do poder das redes sociais, de estabelecimentos que lotam por conta do compartilhamento de dicas e fotos de milhares de pessoas, ainda existem alguns que pensam que o prato/ambiente de um restaurante é “coisa sua”. Talvez seja bom, então, confiscar câmeras e telefones dos comensais no momento em que o garçom perguntar se a mesa quer o couvert.
La Madonnina: Rua Hélio Pellegrino, 204, Vila Nova Conceição, tel: 3842-0012 / 3045-8976 / 3045-4890
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