Sou sincera em dizer que o chef Flávio Miyamura não me impressionou em sua passagem pelo Eñe, de 2007 a 2011: comi muito melhor lá no primeiro ano do restaurante, quando os irmãos Torres ficavam na cozinha. Minhas várias outras visitas foram ligeiramente decepcionantes. Por isso fiquei tão curiosa para conhecer seu recém-inaugurado Miya, cujo alguns nomes da gastronomia que respeito já haviam elogiado via twitter.
O Miya – templo, em japonês, e o começo do sobrenome do chef – fica em um imóvel discreto na rua Fradique Coutinho, quase na Rua dos Pinheiros. Entrando, notará logo a bonita/rústica/aconchegante decoração, paredes de tijolos à vista, sofás confortáveis, iluminação indireta. Bem agradáveis ambos os ambientes, no primeiro e segundo andar.
O menu pode ser definido como cozinha autoral cruzada com comfort food e adicionada com pitadas de culinária japonesa, como nos casos da boa entrada composta por grandes e muito macios tentáculos de polvo com trio de tubérculos e yuzu (R$ 38), fruta cítrica do leste asiático e do ótimo e encorpado arroz cremoso de pato (carne tremendamente saborosa) com a crocância do edamame (R$ 42), a soja verde.
Antes das entradas, peça algo da seção “Para Compartilhar”. Tem sardinha empanada e servida com maionese de wasabi (R$ 21), croquetes de funghi (R$ 18) e, minha recomendação, o levíssimo terrine de foie gras com doce de leite (R$ 42), acompanhado de pão quentinho, que se mostrou uma mistura gostosamente inusitada e eficiente – o dulçor, ao ser misturado com a potência de sabor do fígado, cria uma composição ao mesmo tempo delicada e intensa. Entre as entradas – além do polvo que provei-, há opções como ovo perfeito com caldo de legumes, bacon e edamame (R$18) e vieiras com purê de couve-flor e sorbet de capim santo (R$ 25).
São 11 possibilidade de pratos principais, sendo 3 de peixes; na minha próxima visita vou me ater a conhecer mais “profundamente” esse olhete com legumes e confit de limão siciliano (R$ 42) ou o porco com missô e acelga japonesa ao molho de gergelim (R$ 38). Mas desta vez fui de arroz de pato, sobre o qual já comentei, e de ótimo hambúrguer com maionese de manjericão e batatas rústicas crocantes e bem temperadas (R$ 27).
Taí, Flávio Miyamura conseguiu um feito: me fazer ter vontade de retornar a um restaurante assim que saio dele. Agora posso dizer que sua cozinha me cativou.
Pena que as sobremesas- criativas e promissoras- não estão no nível do restante do menu. Provei duas: sorvete de mel com favo e queijo meia cura (R$ 16) e biscuit de castanha do pará com coulis de caqui e sorvete de doce de leite (R$ 16). Os sorvetes chegaram quase derretidos (e olha que o dia estava frio) e as proporções dos componentes estavam em desarmonia. Mas estou certa de que isso é só uma questão de tempo.
Miya: Rua Fradique Coutinho, 47, Vila Madalena, tel.: 2359-8760
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