Não existe possibilidade de ir ao Bar da Dona Onça e não pedir os bolinhos de espinafre (R$ 26). Seja porque lembra minha infância – minha mãe sempre fez muitos bolinhos de legumes e verduras para nos fazer aprender a gostar deles -, seja por serem absolutamente leves, feitos apenas com as folhas, sem uma gota de massa, levemente refogadas em alho e cebola. O fato é que aqueles bolinhos resumem, para mim, a cozinha de Janaina Rueda: simples, saborosa e feita com carinho imenso.
Janaina, a Dona Onça, tem personalidade forte, sim. É do grupo “ame-a ou deixe-a”. O que mais gosto nela é o que mais gosto em sua comida: autenticidade, vergonha zero de ser o que é. Atribuo a isso o sucesso absoluto de seu bar, no térreo do Copan: seja segunda ou domingo, é raro encontrar uma mesa vaga no salão. É fácil encontrar todas as mesas da espera lotadas.
Vá lá aos sábados para comer uma das melhores feijoadas da cidade (R$ 76, para duas pessoas). Vá lá em um dia de semana a noite para tomar algumas doses da ótima Cachaça da Laje e matar uma Panelinha de frutos do mar e feijão branco ao perfume de curry (R$ 49) – o caldo, com toque de leite de coco, é ideal para chuchar o pão francês que acompanha o prato. Vá quando quiser, mas vá. E volte, porque Janaina não para de criar novidades e, hoje, o menu tem quase 90 opções.
Um dos meus vícios é a versão de Janaina e Jefferson Rueda (ô, dupla!) do codeguim – nome popular do cotechino, receita trazida pelos italianos de uma lingüiça gelatinosa feita com a pele do porco, paleta, papada, noz moscada e pimenta do reino -, acompanhada de lentilhas de puy em seu caldo, refogadas com pancetta, tomate e outras coisinhas (R$ 36). Uma vez que você prove a maciez e a magnitude de seu sabor untuoso, danou-se, vai querer sempre.
Com paleta bovina feita na panela de pressão, então desfiada, é recheado o Agnolotti Dal plin, servido no próprio molho (R$ 46) – chuche o pão também, por favor! Aliás, chuche o pão em todos os molhos, apuradíssimos lentamente, repletos de gosto.Curto demais também a Linguiça de porco artesanal com vinagrete e pão francês (R$ 39).
Depois de tudo isso, você percebe que nem olhou os pratos principais. Olhe. Peça. Receitas esquecidas pela maioria dos restaurantes paulistanos, olhadas torto por muita gente, são estrelas no Dona Onça. Comida aconchegante, de “sustança”, para lembrar como a simplicidade pode ser deliciosa: Fígado acebolado com purê de batata (R$ 42), Dobradinha com feijão branco, paio e legumes, acompanhada de arroz (R$ 42), Arroz de galinha caipira com quiabo (R$ 49). E, ele, o arroz de suã – retirado da vértebra inferior do lombo do porco-, repleto de temperos, repolho e, mais uma vez, um caldo de arrasar (R$ 39).
Outra coisa que peço toda vez que vou lá é a porção de Minichurros com doce de leite ($ 16). Fininhos, meio macios por dentro, polvilhados com açúcar e canela, vem com um pote de doce de leite molinho e morno. Desde que Jefferson Rueda me ensinou a picar a massa em pedaços pequenos, jogar no doce de leite e misturar tudo, só como assim: pescaria de churros 😉
Curto bastante também o Cheesecake de catupiry brulê com calda de goiabada cascão morna (R$ 16) e o tradicional e caseirão Pavê de sonho de valsa (R$ 16).
Dona Onça é o reduto de quem gosta de comer bem, de verdade. Longe de modismos e perto de uma cozinheira que ama seu ofício – e sente-se realizada ao ver o salão cheio de gente feliz.
Bar da Dona Onça: Av. Ipiranga, 200, Centro, tel.: 3129-7619
Comente
Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados