Nas minhas refeições a lazer, raros são os lugares nos quais me refugio. Posso contar nos dedos de uma mão e ainda sobra dedo. Visto que minha profissão exige que coma fora de casa todo dia, assim que aposento o bloco de anotações e a câmera fotográfica quero toneladas de sossego e nem um grama de afetação. Nada de cozinheiros com ego maiores que o pé-direito do restaurante.
Nada de cinco emulsões e dez espumas num menu-degustação de vinte etapas.
Nada de pratos com descrições mais extensas que o currículo do chef.
Nada de gastroesnobes se debatendo com a ânsia de sair correndo, no meio do serviço, para contar aos amigos o que comeram e “não estava no menu” (ah, mas isso eles fazem pelo Instagram, mesmo).
Nada da gororobada prepotente que inunda a gastronomia atualmente.
Nos meus momentos de lazer, desejo comida boa e ambiente agradável. Quero sossego. Vou falar, está complicado encontrar lugares que ofereçam isso… Eu encontro no Feed Food.
O quintal – o restaurante fica nos fundos da loja/galeria/espaço de eventos Cartel 011 – coberto por telhado transparente sempre me dá boas vindas. Assim como as mesas espalhadas pelo chão de pedrinhas que me transportam para a chácara da infância, a alegria da luz natural, a caipirinha de figo rami com limão, os clientes trabalhando em seus laptops durante a tarde. Pois é, ainda posso me esquecer por lá comendo umas melhores coxinhas da cidade, com massa de mandioquinha (R$ 23,50): o Feed Food não fecha entre almoço e jantar.
Comandado pelo casal Victor Vasconcellos (chef do Numero) e Adriana Cymes (chef do bufê Arroz de Festa), o Feed Food tem menu curto e sazonal, o que faz a cozinha trabalhar mais focada e o preparo ser rápido e padronizado: jamais comi algo lá que me desagradasse ou estivesse mais ou menos. Comida simples, bem feita, gostosa. E tem horas que “gostoso” é o que desejo mais do que tudo – mais que estrelas Michelin, prêmios, matérias de revistas emolduradas, palestras disputadas ou suposta genialidade. Que pentelhação comida ter se tornado algo tão pedante…
O fato é que morro de amores pela coxinha que citei acima e durante um tempo, me viciei no Noodles crocante com frango ao curry (R$ 29) – o troquei pelo picadinho na cerveja preta servido com nhoque romano que, para minha tristeza, saiu do cardápio (buááá!). Há alguns dias, apresentei a casa para dois amigos. Um deles pediu algo tão saudável e lugar-comum que tinha tudo pra ser rapidamente olvidável – Salmão grelhado com manteiga de wasabi e Julienne de legumes (R$ 39) – mas foi preparado com capricho: peixe apenas selado (e não torrado como a maioria dos lugares serve), legumes crocantes e coloridos.
O outro, argentino, foi de Medalhão de filé mignon ao ponto, lindo e vermelho, coberto por delicado molho poivre e purê de batatas aromatizado com confit de alho (R$ 43) e aprovou, com um prato completamente limpo. Eu fiquei no adocicado Risoto de abóbora com queijo Serra da Canastra, farofinha de amêndoa e avelã (R$ 32).
Mais um vício: rogel de doce de leite (R$ 16), camadas de massa folhada finíssimas entremeadas por doce de leite e cobertas com merengue italiano. Não bastasse, hoje em dia tarei no sabor totalmente fora do óbvio do consistente fudge de Ovomaltine servido com sorvete de caju (R$16). Olha, coisa louca… Para quem não curte chocolate, aconselho o Merengue de framboesa com lemon curd (R$ 15). Então, na minha última colherada do creme aveludado e azedinho, penso como esse mundinho poderia ser mais simples e prazeroso se as pessoas parassem de comer moda e comessem… o que lhes dá prazer. O que é GOSTOSO.
Feed Food: Rua Artur de Azevedo, 517, Pinheiros, tel.: 4305 7727
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