Fico consternada toda vez que ouço notícias sobre o crescente desdém do governo turco pelos direitos humanos, de crença e civis – Istambul é uma das cidades que mais me encantam no planeta e não me vejo voltando tão cedo para lá. Não me vejo vagando por suas ruas repletas de milênios de história, por seus bazares inebriantes, por seus aromas: e o simples ato de andar traz milhões deles… carnes misturadas a pimentões e pimentas assando em espetos gigantes, romãs sendo espremidas na hora e tornando-se espessos sucos, infindáveis lojas de doces repletos de nozes e mel, turistas fumando narguilés.
Se a tristeza é grande pela aparente vitória da intolerância, a alegria de termos mais um ótimo representante da cozinha turca em São Paulo traz um certo alento: o Firin Salonu me faz sentir mais perto de Istambul.
Criado pelos sócios do Kebab Salonu – e também chefiado pelo talentoso Fred Caffarena -, o Firin Salonu tem como especialidade preparos de forno (firin), com grande foco nas pides, as esfirras turcas. Grandonas, ótimas para compartilhar, as pides(lê-se pidês) tem massa levemente adocicada, macia no centro e crocante nas pontas. São realmente ótimas.
Há seis coberturas, entre as quais as minhas favoritas são a Ispanak (R$ 29) – montada com espinafre refogado, cebola queijo de cabra Serra das Antas e uma dourada e molinha gema de ovo caipira – e a Mantar (R$ 31), com mussarela fresca, cogumelos defumados, alho e tahine.
Das mais pedidas, a Firin (R$ 35) traz pastirma (ou pastirma, pastourma, bastirma, basterma, basturma – carne bovina curada com especiarias), queijo artesanal com alho, rúcula, cebola roxa, manteiga noisette e picles de uva. A Kuzu (R$ 33) traz cordeiro picado na ponta da faca com tomate, cebola e berinjela, temperado com especiarias à moda turca.
Mas nem pense em não provar as entradas, tão gostosas e aromáticas quanto as pides. Recomendo vivamente o Ispanakli Yumurta (R$ 14) – espinafre cremoso assado com especiarias, ovos orgânicos e lascas de sujuk, linguiça bovina temperada – e o Karnabahar Kizartmasi (R$ 18) – pequenos buquês de couve flor crocantes ao cheirosíssimo molho de tahine e laranja sanguínea. Há também Picles artesanais (R$ 15) e Kömur, coalhada seca com chá preto defumado (R$ 16). Acompanhe tudo com Yufka (pão crocantíssimo com especiarias, R$ 10) e Lavas (R$ 8,50, 2 unidades), espécie de pão chato e macio parecido com pita.
Duas sobremesas do Firin estão entre as minhas preferidas da vida por serem fieis a cultura gastronômica do país-inspiração, usarem com maestria o açúcar e serem tão prazerosas quanto distantes das combinações óbvias para o paladar brasileiro. A primeira é o creme espesso, servido morno, de tahine com raspas e suco tangerina (R$ 16), o Firinda Tahin Helvasi; a segunda é o ridiculamente bom Kunefe (R$ 18). Doce mais popular hoje em dia na Turquia (tão consumido e conhecido lá quanto o pudim, por aqui), o Kunefe é preparado com crocantes e delicados fios de massa de sêmola, fior di latte (mozzarella fresca de vaca) quentinha e puxa-puxa, calda de açúcar mascavo e mel e castanhas de caju picadas.
Para beber, cervejas artesanais Schornstein, Tupiniquim, Júpiter, Invicta (entre R$ 14 e R$ 24).
Durante a semana, o Firin serve almoço beeeem ao estilo turco. Por R$ 25,90 você escolhe um assado, dois acompanhamentos e um pão. As receitas mudam diariamente.
O salão é simplíssimo, decorado sem muito charme, tem luz baixa demais e serviço confuso – mas quando a casa serve comida dessa categoria, isso tudo nem chega a me incomodar… Mas claro que se melhorar, só vou achar bom.
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