A inauguração do Attimo, no final de 2012, foi um sopro de ar fresco na gastronomia italiana de São Paulo: o chef Jefferson Rueda, então no comando da casa, uniu a tradição culinária do país ao seu louvável acento autoral, dando luz a autodenominada cozinha ‘ítalo-caipira’. Criatividade, frescor, impacto e qualidade impecável.
Com sua saída, em 2015 (para criar A Casa do Porco, menos atrelado a rigidez do serviço e modelo de um restaurante de luxo), o menu do local já deu uma guinada de volta à Europa. Sob a chefia de Francisco Pinheiro, as coisas se tornaram mais… padrão.
Mas é agora, com a chegada do chef Paulo Kotzent, que o Attimo se rendeu totalmente aos clássicos. Já não é de hoje que gosto bastante do trabalho de Paulo – ele já foi chef do extinto Santovino, do Piselli e da Bráz Trattoria -, e até por isso foi impossível não notar que ali, ainda, ele não está em seu melhor. Parece preso ao peso soterrador dos tais clássicos, sem leveza.
O cardápio perdeu personalidade e tornou-se genérico, com a presença de tudo o que se vê em todos os italianos no mesmo nível: Carpaccio (R$ 42), Cotoleta de porco à milanesa com rúcula e tomates confitados (R$ 69), Salada Caprese (R$ 38), massa fresca com recheio de queijo de cabra ao molho de tomate (R$ 69), Agnolotti dal Plin (R$ 64), nhoque de batata com ragu de ossobuco e tutano (R$ 59) …
O que se espera, nesses casos, é execução impecável. Infelizmente não foi isso o que aconteceu, especialmente com o Spaghetti alla carbonara (R$ 69). O creme – resultado da mistura da água do cozimento com queijo e gema – veio talhado e salgado demais. Esta última característica fruto da mistura de quantidades errôneas de pecorino e grana padano, somada a presença da pancetta curada.
O couvert também deixou a desejar: por R$ 16/por pessoa são servidos três tipos de pães em fatias, grissinis, manteiga e tomatinhos confitados. Só.
Houve, contudo, pontos altos. Os Tortelli de costelinha de porco com radicchio, feijão e erva doce (R$ 67) estavam perfeitamente cozidos e seu recheio e molhos, deliciosos. Acerto também no Linguine com vôngole cozido no vinho branco (R$73), com a picância salivante da pimenta calabresa e bottarga ralada, acentuando o sabor do mar.
Algumas sobremesas chegam a custar 30 reais. Contudo, o prazer que me dá comer o Bonet vale as três dezenas de dinheiros. O cremoso pudim de chocolate com café e base de biscoitos de amêndoas cede ao menor toque da colher e ganha ainda mais sedosidade ao ser misturado com o creme frio de vinho Marsala.
Hoje, o Attimo é um bom italiano – como tantos e tantos outros.
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