Não ia a Nova York há alguns anos: para quem trabalha com gastronomia, isso é uma falha e tanto.
Enfim, voltei no final de 2017 (a Avianca me convidou para participar do voo inaugural de seu novo trajeto diário São Paulo – Nova York). Desta vez, contudo, não quis comer os clássicos/estrelados/hypados. Minha vontade era conhecer locais que os moradores frequentam, aqueles que nem sempre constam nos guias mas tem qualidade de sobra. Queria também lugares com bom custo-benefício: ninguém merece dicas arrasa-conta-bancária numa das cidades mais caras do mundo… O resultado foi um roteiro delicioso, barato em sua maioria (a conta mais cara foi do Estela, e não passou de 60 dólares – incluindo bebida alcoólica), variado e fora do óbvio.
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ABCV
Inaugurado esse ano, o ABCV é a mais nova casa do grupo Jean-Georges, que conta também com o ABC Kitchen e o ABC Cocina, entre outros. O V, neste caso, refere-se a vegetables (vegetais): a casa tem delicioso, colorido e interessantíssimo menu vegetariano. Do tipo de local que mostra como a culinária sem carne pode – e deve – ser rica e prazerosa.
Os pratos são pensados para serem compartilhados, por isso o bacana é pedir vários. Algumas das sugestões: bowl de batata doce, couve de bruxelas, lascas de coco, sementes e nozes e avocado; tofu cozido, couve flor tostada, harissa, iogurte de coco e pistache; dosa (panquecas indianas de massa fermentada de arroz e lentilhas) com cheddar inglês, sambal, ovo e menta; beterrabas tostadas, mostarda Dijon, purê de avocado, aioli de chili e picles. A média de valor de cada gira em torno de 13 dólares.
O brunch aos finais de semana é EXCELENTE e bem concorrido. Portanto, chegue cedo.
Arcade Bakery
Essa escondida bakery fica no corredor de um edifício comercial, não tem mesas propriamente ditas (são bancos) e 80% da produção é de pães de fermentação natural, azedinhos, lindos e cheirosos (o restante, patisserie): ao entrar no prédio, o aroma já dá aquele barato. No almoço, serve belíssimas pizzas individuais de estilo napolitano.
Tudo, absolutamente tudo o que provei estava impecável. Conselho: compre várias pães e doces, passe no Whole Foods para alguma geleia, queijos e manteiga e faça um banquete no hotel.
Não abre aos finais de semana.
Bare Burger e Momofuku Nishi
Há dois anos estava curiosa para provar o Impossible Burger, hambúrguer vegetal criado por uma startup com investimento de Bill Gates, a Impossibile Foods. A grande diferença deste para outros burgers plant based é que ele tem textura e sabor de carne – e é tão gostoso que já vem sendo comercializado em dezenas de restaurantes americanos de primeiro time, como o Momofuku Nishi, de David Chang, um dos locais no qual o provei.
O que o difere? Tecnologia e pesquisa. É feito com base em trigo, proteína de batata, óleo de coco e heme, o ‘ingrediente’ secreto, encontrado em todos os seres vivos e o responsável por dar o sabor da carne, obtido através da fermentação da raíz da soja.
Segundo a companhia, “Heme dá ao sangue a capacidade de transportar oxigênio. É super abundante no músculo animal, e é isso que faz um hambúrguer tão saboroso. É também por isso que a carne é uma fonte particularmente boa de ferro. O heme encontrado no músculo animal é transportado por uma proteína chamada mioglobina. As plantas, particularmente as plantas de fixação de nitrogênio e as leguminosas, também possuem heme. O heme encontrado nestas plantas é transportado por leghemoglobina, que está intimamente relacionado com a mioglobina. Leghemoglobina na planta de soja é chamado leghemoglobina de soja”.
Se você quer entender porque acho isso tão importante e incrível, clique AQUI.
Black Seed Bagels
Bagel, uma instituição novaiorquina. Cada morador tem o seu favorito. Cada lista elege os melhores. Fiquei horas pesquisando na internet, em sites de padeiros e confeiteiros, quais eram os mais bem avaliados por quem entende do riscado. E cheguei ao Black Seed Bagels. Que alegria!
Textura impecável (macio porém firme, levemente ‘mastiguento’), preocupação com a origem dos insumos, praticamente sem turistas e com menu ‘queria comer tudo’.
Bibble & Sip
Aberto por descendentes de japoneses, este café/bakery produz delicadezas salgadas e doces (matchá, claro, super presente), muffins tesudos e sanduíches montados em etéreos croissants, além de servirem cafés bem tirados.
Também com poucos lugares para sentar, mas não se intimide: chegue cedo e tome café da manhã por ali. Mande ver no choux cream de chocolate branco com matchá e no de Earl Grey com baunilha e no folhado de pera com yuzu.
Dominique Ansel
A maioria dos turistas vai a essa patisserie – as filas são enormes! – por conta do Cronut, o cruzamento de donut e croissant criada por Dominique Ansel que virou uma febre em 2013. Tá, é bom, mas tem taaaaaaaanta coisa melhor…
Esse doceiro, que já foi o responsável pela confeitaria do principal restaurante do chef Daniel Boulud, desenvolve combinações criativas, lindamente apresentadas, equilibradas e bem longe do óbvio. O sucesso do moço resultou em filiais em Paris, Los Angeles, Tókyo, entre outras cidades.
Em suma: coma tudo o que quiser com zero culpa.
Estela
Com cozinha comandada pelo uruguaio Ignacio Mattos, o Estela é bem hype, sem dúvida: está na tal lista dos 50 Best Restaurants, vive lotado de gente rica e cheirosa, tem salão na penumbra (não consegui fazer fotos), etc e tal. Porém, vale cada garfada e não é caro: dá para comer bem por cerca de 60 dólares por pessoa. O cardápio, alterado com frequência, traz receitas contemporâneas, com amplo e interessantíssimo uso de vegetais, para serem compartilhadas no centro da mesa, por isso é indicado ir com companhia para poder tirar o máximo de proveito da refeição.
Jajaja Plantas Mexicanas
Minha melhor experiência gastronômica em Nova York desta vez. Para ter uma ideia de como amei, em seis dias, comi três vezes lá. Puta comida incrível, colorida, cheirosa, repleta de temperos, picante, divertida.
Este pequeno e sempre cheio restaurante é mexicano e vegano. E QUE SABOR, MINHA GENTE. QUE SABOR. Apaixonei pelo taco de tempurá de couve flor, linhaça, cenoura, queso azul vegano (a base de castanha de cajú fermentada) e flores de maçã. Outros de matar: Pupusas (tortillas gordinhas) recheadas com creme de feijão, chili serrano, shitake desidratado e sour cream (também a base de castanha) e tortilla crocante de milho azul com queijo de hemp, chipotle e picles de cebola roxa.
Além disso, ainda serve drinques bons pacas ( com o de tequila reposado, leite de coco e matchá) e a conta não pesa nada nada nada no bolso. Para voltar muitas vezes!
Pi Bakerie
Aberta há poucos meses, a Pi Bakerie é o céu da culinária grega que abraça: massas, folhados, bolos, doces, moussaka, tortas … Ao entrar na iluminada deli, já rola uma salivação porque tudo está lindamente exposto. Vá, sem hesitar, no que eles chamam de Painerli, espécie de pide com diversos recheios e massa fofa e aveludada. Coma também o Kolokithopita, ‘escondidinho’ de abobrinha ralada, queijos feta, Kephalotiri e Kasseri, ovos e ervas frescas.
Se curtir doce, não perca a Portokalopita Pi (massa phylo, laranja e iogurte grego) e a Baklava. Para ir tanto no café da manhã quanto no almoço.
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