São Paulo tem lugares interessantíssimos, sem dúvida. Quando se refere a comida, fico bem atraída por estabelecimentos que associam (necessário) discurso sobre sustentabilidade com prática: não adianta ter salada orgânica e servir salmão do chile, por exemplo. Alardear que é ‘bio’ mas manter cardápio fixo o ano todo, ignorando solenemente a sazonalidade dos ingredientes. Coerência, esse artigo de luxo…
Isso posto, o Quitandoca é, há alguns anos, um dos meus lugares do coração. A pequena quitanda comercializa itens provenientes exclusivamente de pequenos produtores agroecológicos (não utilizam adubos químicos ou agrotóxicos), ajudando a manter comunidades – inclusive quilombos e assentamentos-, no campo, produzindo de maneira limpa e digna.
Compra-se sem intermediários: do agricultor para a prateleira. E quando os itens estão perto de vencer, mas ainda perfeitos para consumo, o Pitico, bar anexo e dos mesmos proprietários, os utiliza para preparar a comida dos funcionários.
Desde o mês passado, porém, a quitanda mudou. Um bocado: se transformou em café. Contudo, os legumes, verduras, frutas, grãos, sementes, etc, continuam ali, agora nas feiras que rolam às terças (9hs/15hs) e sábados (8h30/12h30). O delicioso bufê de café da manhã, aos domingos, também continua firme e forte.
O novo Quitandoca Café tem poucos e bem feitos itens (preparados com insumos agroecológicos, claro) que sofrerão alteração de acordo com a oferta de ingredientes: sustentabilidade tem tudo a ver com utilizar o que se tem em abundância no momento. Antigamente, antes dos tempos do ‘temos tudo, o tempo todo’, isso era conhecido como safra…
Coma o leve cuscuz nordestino de milho crioulo com queijo mineiro curado e manteiga de garam masala (R$ 10). A razão de ressaltar que o milho é crioulo? Bom, a maior parte do milho do mundo está nas mãos da grande indústria de sementes, que inunda o mercado com duas ou três variedades transgênicas e de “alto desempenho” (e altos preços para o agricultor). Então, milho crioulo é todo o milho que não foi apropriado pela indústria; variedades tradicionais que passam de geração em geração pelas mãos dos agricultores. É banco vivo de biodiversidade e sabor.
O sanduba de shiitake marinado, queijo de cabra, fatias de beterraba e rúcula (R$ 18) é montado na ótima baguete – aquecida e crocante – da padaria artesanal St. Chico, situada na vizinhança. Ele também está presente no sanduíche de presunto artesanal, rúcula, tomate e gostosa maionese caseira, levemente ácida, temperada com grãos de mostarda (R$ 18; pelo valor, poderia ter um pouco mais de presunto). Acompanhe com sucos de cenoura, salsão e maçã (R$ 10) ou de espinafre, limão cravo e uva (R$ 10), preparados na hora numa centrífuga.
Ótimo para beliscar enquanto o principal não chega, a porção de pastas vegetarianas – creme de inhame com cúrcuma (me lembra, muito, manteiga); coalhada com beterraba; pesto – vem escoltada por torradas (R$ 15).
Há também fatia de bolo do dia (R$ 5), queijo canastra com goiabada (R$ 7) e coalhada com granola (R$ 9). Para acompanhar, café coado da marca Montañita (Serra da Mantiqueira) ou espresso de Águas Claras, em Minas Gerais.
O Quitandoca Café abre de terça a sexta, entre 12hs e 19h e aos sábados, entre 9h e 17hs.
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