Dependendo do objetivo pretendido pelo produto, os comerciais mostram o ato de comer como algo romântico, familiar, prático e/ ou ecológico. A publicidade e a indústria de alimentos adoram nos fazer pensar que os queijos são produzidos com leite de vaquinhas felizes que pastam ao por-do-sol e que o bacon estalando na frigideira nunca foi um porco vivo.
O fato é que as partes mais “feias” – também conhecidas como realidade – da produção de alimentos são propositalmente escondidas dos consumidores: manter-nos na ignorância nos impede de fazer escolhas mais sensatas e éticas.
Nos impede de exigir mudanças.
Nos mantém “na linha”.
Mas graças à democratização da informação e o aumento na produção e distribuição de documentários, fica cada dia mais fácil descobrir o que há por detrás do que a gente come.
Abaixo, algumas verdades ‘inconvenientes’ sobre o que povoa seu armário da cozinha e geladeira. E, por favor, não me venha com “ah, não quero nem saber”: ignorar não é e nem nunca foi solução pra nada. Nem para sua saúde (ou doença), nem para a do planeta.
Piscicultura
- Os peixes de criação marítima ou de rio (salmão, tilápia, truta, panga, etc) passam por reversão de sexo com o hormônio metiltestosterona ministrado na ração: como o macho cresce e ganha peso mais rápido, as fêmeas são convertidas em machos. Quando esse hormônio acaba em rios e mares, há a contaminação dos peixes nativos e o desequilíbrio da população, visto que boa parte das fêmeas se tornam machos, afetando a reprodução das espécies.
2. A grande parte do salmão consumido no mundo vem de fazendas marítimas espalhadas por países como Chile, Noruega e Canadá. O que é alardeado como um alimento saudável é, em realidade, um dos mais tóxicos do planeta por ser criado com excesso de antibióticos, corantes (naturais ou artificiais), ração de má qualidade e, muitas vezes, pesticidas.
3. As imensas populações confinadas de salmão são muito vulneráveis a doenças, como o piolho do mar, que deixa o peixe adoentado e abre a porta para infecções oportunistas. Para manter os animais vivos, mesmo que doentes, os produtores abusam no uso de antibióticos. “O uso de produtos químicos afeta o meio ambiente e “‘pode causar um dano importante no fundo do mar, na fauna circundante e na qualidade das águas’.
4. O Chile sofre recorrentes embargos internacionais por usar excesso de antibióticos na produção de salmão.
5. As doenças infecciosas do salmão de cativeiro vem se espalhando e, no Canadá, matando cada vez mais salmões selvagens.
Porcos
6. Visando ‘diminuir o odor da carne’ derivado dos hormônios, os leitões entre 7 e 12 dias de vida são castrados sem anestesia, tendo seus sacos escrotais cortados e os testículos removidos.
7. Também tem os dentes cortados ou lixados, sem anestesia, para evitar morderem um aos outros por conta do estresse que sofrem no confinamento – porcos são animais altamente inteligentes e sociáveis
8. Os leitões são habitualmente separados das suas mães depois de 2 a 4 semanas de vida, e são alojados com outros leitões que não conhecem. Se separados muito cedo, eles chamam pelas mães com sons frequentes e distintos.
9. As porcas passam a maior parte das suas vidas em celas de gestação – tão pequenas, que elas mal se conseguem mexer e muito menos virar-se. São continuamente engravidadas, até que sejam abatidas.
10. Por conta própria, os leitões tendem a ser desmamados com cerca de 15 semanas, mas nas criações industriais são desmamados com 15 dias – com essa idade, não conseguem digerir direito comida sólida, por isso recebem remédios contra diarreia.
Aves
11. Por lei, no Brasil, o adensamento médio de aves é de 32 quilos por metro quadrado. Levando-se em conta que cada galinha atinge cerca de 1600 gramas, temos cerca de 20 aves por metro quadrado.
12. Não há poleiros – parte do comportamento natural das aves é se empoleirar – e todas ficam no mesmo nível, o tempo todo, sobre o que é chamado de cama de frango.
13. O abate legal no Brasil se dá da seguinte maneira: as aves são penduradas em ganchos, pelos pés, e tem a cabeça mergulhada em água pela qual passa corrente elétrica alta suficiente para desacordá-la e baixa o bastante para não causar danos irreversíveis (hematomas ou morte). “Desmaiada”, tem o pescoço cortado, segue para a sangria, para a depenagem em água fervendo e para a retirada dos órgãos internos por uma mão mecânica.
14. As penas viram farinha, componente de ração de animais de estimação e peixes criados para consumo humano.
15. Como não há legislação específica de bem estar animal para o “descarte” de pintinhos machos na produção de ovos, há algumas possibilidades de morte na hora da sexagem, momento no qual se confere o sexo:
– São jogados em grandes galões nos quais morrem asfixiados e/ou amassados pelo peso uns dos outros
– São direcionados por esteira até uma sala no qual vão, VIVOS, para um moedor. Ainda não é comum encontrar produtores que usem gás para desacordá-los.
16. As galinhas poedeiras de criação convencional – 98% do que se encontra no mercado – vivem amontoadas em gaiolas tão pequenas que jamais conseguem nem abrir as asas e tem as patas atrofiadas por conta das grades. A fim de evitar que biquem umas às outras por conta do estresse, existe a debicagem. Essa amputação, tida como normalíssima no Brasil, já é proibida em vários países por ser considerada mutilação e expor o bicho a dores constantes. Na Europa, o uso de gaiolas de bateria não é mais permitido e a debicagem com lâmina quente também é proibida na maioria dos países.
Gado
17. Somos 207 milhões de brasileiros e temos 218 milhões de cabeças de gado (dados de 2016). Tem mais vaca que gente no Brasil. No planeta, o número de bovinos é de quase UM BILHÃO.
18. Assim como para aves, caprinos, ovinos e suínos, é proibida no Brasil a utilização de hormônios para fins de engorda. Na criação convencional, antibióticos são liberados – e o volume usado é tão grande que já existe uma séria questão de resistência e criação de superbactérias. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, muitos criadores estão dando antibióticos para os animais sem nenhum tipo de controle. Isso cria não só resistência nos animais, mas também a transmissão dessa resistência para os humanos ao consumirem a carne.
19. A pecuária é principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado. “A pecuária responde por 65% dos desmatamentos na Amazônia”, diz o climatologista Carlos Afonso Nobre, que estuda há décadas o impacto das mudanças climáticas na região. “Este setor provoca um paradoxo impossível de resolver: se a produtividade da área é otimizada e a pecuária se torna mais rentável, traz mais capital e termina por aumentar o desmatamento. Se o manejo é primitivo, como é desde a implementação da pecuária na Amazônia, as pastagens aguentam, no máximo, 5 anos e depois são abandonadas”, explica.
20. Sabe aquela gelatina colorida e gostosinha? É feita com o colágeno, um derivado de ossos, restos de couro, ligamentos, tendões e cartilagens. Com o colágeno também se faz cosméticos (xampus, máscaras faciais) Com os ossos se faz farinha que vai para ração de animais de estimação.
Vinho
22. Dá para corrigir a acidez usando ácido tartárico em pó; enzimas diversas podem ser utilizadas para alterar a cor, melhorar a limpidez, abrir ou melhorar os compostos aromáticos e acelerar ou não o envelhecimento; para clarificar, há o Polivinil Polipirrolidona, o PVPP (um composto plástico), usado com o nome de Divergan; clara de ovo e gelatina são especialmente eficazes na clarificação dos vinhos tintos; a caseína, uma proteína de leite, é usada para clarificar os vinhos brancos e rosados; se o vinho estiver sem cor, existem compostos como o conhecido Mega Purple para aprofundar a cor vermelha no vinho tinto; Bentonita sódica para estabilizar; Ichtyocolle, usado para clarificar, vem bexigas natatórias de peixes…
23. Nenhum dos insumos precisa estar especificado no rótulo. A única exceção é o Anidrido sulfuroso (chamado de sulfito), um conservante.
Cerveja
24. A legislação brasileira libera o uso de muitas substâncias químicas para acelerar a fabricação da cerveja, mais químicos para mascarar o que este processo rápido causou de ruim na bebida e ainda mais químicos para conservá-la e estabilizá-la depois de pronta – e a grande maioria deles não precisa ser declarado no rótulo.
25. Sabe aquela cerveja preta docinha? Então, não leva nada de malte tostado, o que seria o correto. Ela é apenas a cerveja com muito corante caramelo, por isso fica escura e doce.
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