Marcos Freitas era sommelier do Gero. Rodrigo Queiroz, chef do Gero. Cid Simão, gerente do Nonno Rugero. Amigos, a cerca de um ano e meio começaram a pensar, descompromissadamente, em abrir um restaurante juntos. Tantas foram as noites passadas conversando sobre o assunto (depois de fechados os salões), que o garçom do turno da manhã nem estranhava mais encontrar três copos de vinho usados deixados em cima da mesa. “Além da alusão ao guia de vinhos Gambero Rosso (que atribui de uma a três taças– bicchieri– como pontuação), o nome nasceu também do fato de sempre deixarmos nossos copos sobre a mesa”, diz Cid.
Pois bem, com consultoria de Juscelino Pereira (proprietário do Piselli) e Ricardo Trevisani (ex-gerente do Gero e proprietário do Mare Monti e do Gaiana, na Riviera de São Lourenço ), o projeto virou realidade e está aberto há cerca de 10 dias numa rua tranquila do Itaim, ao lado do Varanda: Tre Bicchieri. A primeira coisa que se nota– depois da já comum fila de espera– é a decoração aconchegante, com belas cerâmicas da Toscana — inspiração também do menu– e a luz baixa no ponto “acolhedor” e não “alguém me dá uma lanterna para eu ler o cardápio?” (coisa beeem comum na cidade). A segunda, a linda adega envidraçada no meio do salão com cerca de 250 rótulos, “E uma carta exclusiva de Chiantis”, diz Marcos Freitas, “Queríamos homenagear esse vinho tão característico da região”.
O cardápio que traz muitas opções de massas frescas, secas, carnes e risotos, ganhou uma seção sazonal dedicada à trufas negras (Risotto alla parmeggiana com trufas, por exemplo, sai por R$ 78) e opções tradicionais de entradas como Panzanella (R$ 20 a pequena; R$ 32 a grande), Vitello Tonnato (R$ 23; R$ 38); mas fui de Polenta Tre Bicchieri porque tenho paixão incondicional por polenta. Cremosa e fina, com gosto bem acentuado, traz tallegio derretido e uma fatia crocante de pancetta. Também provei o battuto di manzo… polêmico. Tradicionalmente, o filé picado na ponta da faca vem numa montagem parecida com a do steak tartar (uma pequena montanha de carne no centro do prato); este veio em fatias de grossura média, parecendo um carpaccio vitaminado. Bom, estava. A carne, de primeira e fresquíssima, desmanchava na língua, parecendo seda úmida e tenra. Mas ainda tenho dúvidas se dá para chamar de battuto.
Muitas das massas servidas são feitas na casa, em máquinas importadas da Itália e em formatos pouco usuais para os brasileiros, caso do biggole (tipo de espaguete mais grosso e mais al dente, produzido no torcchio), que, aliás, foi um dos meus pedidos: biggole com ragú de pato (R$ 41) delicioso, bem temperado, de sabor potente que invadia gentilmente cada papila. Delicadíssimo o Tortelini de massa finíssima, recheado com cavaquinha acompanhado de molho reduzido do crustáceo (R$ 48) e um pouco decepcionante o risoto (salgado em excesso) com radicchio, Chianti e Tallegio— o vinho dominou o paladar, matando o queijo e soterrando o amargor– absolutamente necessário nesta mistura– do radicchio. Meu preferido de todos, o Papardelle com ragú de coelho e pimenta verde estava primoroso, equilibrado, suave, levemente picante– daquelas massas que, ao chegar ao final, dá vontade de comer outro inteiro. E lamber o prato.
Para encerrar a refeição, 10 opções de sobremesas englobam vários clássicos italianos: Tiramisú (bom, com bastante sabor de café; R$ 18), Pannacotta (R$ 16)e Pastiera di grano (R$ 22), meu pedido. AMO Pastiera di grano e, de família italiana, cresci comendo isso em casa. Praticamente todo domingo. A do Tre Bicchieri tem ricota de qualidade, bem úmida, mas pouquíssimo trigo, além de terem faltado as frutas cristalizadas… A moderna emulsão de zabaione que acompanha dá um “up”, mas ainda prefiro a receita mais seca, com mais grãos e fartura de frutas.
Mesmo sendo recém-nascido, o serviço é simpático, eficiente e competente.
Tre Bicchieri: Rua General Mena Barreto, 765, Itaim, Tel: 11 3885-4004 11 3885-4004
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