Gourmet, foodie, gastro: termos que vem se tornando cada vez mais comuns, pessimamente empregados e, por vezes, rizíveis – outro dia passei por uma “petiscaria gourmet”… Raros são os locais que usam tais palavras para especificar cozinha cuidadosa, excelência no serviço, rigor na escolha de ingredientes. Mas eles ainda existem. Mais do que isso, em tempos que São Paulo vê uma avalanche de aberturas de bares e restaurantes caros e medíocres – e fechamentos, aos montes -, é um alento notar que alguns empresários/chefs ainda se preocupam muito mais em servir boa comida do que em virar hype. Este é o caso do novo Camden House.
O autodenominado “primeiro gastropub de São Paulo” pode não ser o primeiro, mas certamente tem na cozinha da talentosa chef Elisa Hill e na afinada e competente equipe de salão dois grandes trunfos.
Elisa trabalhou com Erick Jacquin no começo dos anos 2000; depois foi para França e Londres, cidade na qual morou entre 2002 e 2013. De volta a São Paulo, usou sua experiência com a gastronomia inglesa para montar o menu do Camden House, que traz clássicos como fish and Chips com molho tártaro da casa (R$32, mini; porção grande, R$ 41) executados belamente: robalo com empanamento perfeito, molho delicioso como há muito não vejo, fritas rústicas gordas e sequinhas. Mas ela vai bem além de frituras de bar.
Para petiscar, a moela cozida por 48 horas no sous vide com cerveja Ale inglesa (R$ 33). Dou o braço a torcer e digo que aqui o sous vide foi muito, muito bem empregado: de maciez ímpar, a moela vem mergulhada em molho apurado e super bem temperado, ideal para chuchar a porção de ótimo pão artesanal. Bom dizer: a irmã de Elisa, Lucia Caparroz, faz ali todas as massas, pães, doces e sorvetes. Estes últimos, aliás, levíssimos.
Ainda nas porções, não perca o Croquete de rabada cozida em cerveja stout acompanhado por molho barbecue artesanal (R$ 37, 6 unidades grandes). Com pouquíssima farinha, lembra a intensa cremosidade das croquetas espanholas.
No bar, os pints vão de R$ 15 (Bamberg Pilsen) a R$ 22 (Guinness): são seis opções que mudam constantemente. Se quiser cidra inglesa de maçã, sai a R$ 19. Entre os drinques, corretos os Gin tônica de Tanqueray 10 com grapefruit (R$ 32) e de Bombay Saphire com limão siciliano e ervas (R$ 28).
Se você, como eu, não aguenta mais tanto hambúrguer por tudo quanto é canto – de repente parece que os cozinheiros paulistanos só sabem picar carne -, pense de novo em face do Camden Burger: suculento hambúrguer de Angus acompanhado por gostosa maionese defumada, queijo raclete, tomate, fritas da casa e coleslaw (R$ 43). Pão macio, sem excesso de gordura e que suporta o caldo da carne até o fim, sem melar.
Os principais trazem rigatoni, ragu de galinha d’angola e funghi (R$ 47), Pato confit com mousseline de batata, legumes e tatin de cebola (R$ 59) e um prato do dia, que em uma de minhas visitas foi perfeito lagostim com risoto de legumes e “couscous” de couve-flor (R$ 61).
E a casa faz bonito também nas sobremesas, caso do Sticky Toffee – bolo denso de tâmaras e especiarias coberto por caramelo levemente salgado – escoltado por sorvete de baunilha artesanal (R$ 21) e do Trifle de morango e uísque, espécie de pavê com camadas de morango marinado, chantilly e creme (R$ 21).
A novidade é o excelente mousse de chocolate e Guinness com chantilly batido na hora (R$ 21).
De segunda a sexta, o almoço executivo custa R$ 45 (entrada, prato e sobremesa) e oferece opções como massa ao ragu de galinha d’angola e ovo pochê e salada de abóbora, folhas e gorgonzola doce.
Taí um lugar que pode, tranquilamente, usar o termo “gastro” no nome.
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