Não sei você, mas adoro encontrar lugares que levam comida a sério. Proprietários que se preocupam não só com a decoração ou com equipe descolada/tatuada, mas principalmente com o que servem aos clientes. Cozinheiros que pesquisam, testam, testam de novo, até chegarem ao melhor resultado possível.
Gostei do Tigre Cego porque, ali, sanduíche não é um empilhamento de produtos industrializados. Ali tem pão caseiro, excelentes recheios de longo cozimento, molhos artesanais. Por que qualquer comida – de pratos “estrelados” a sandubas – pode ser mais ou menos ou boa pacas.
A casa abriu no final de dezembro, na Vila Madalena. Serve apenas tostex, em 7 recheios diferentes. Grande, o pão feito na casa com farinha de trigo, farinha de trigo integral e farelo de trigo, é fino – para não pesar até a última mordida – levíssimo, belamente crocante por fora e um perfeito receptáculo (olha, falei bonito!) para os recheios. E é nessa área que o negócio merece elogios: comi quatro, em duas visitas, e todos estavam impecáveis.
Carnes assadas looooongamente, caso do úmido Brisket (tenro peito de boi assado, cebolas caramelizadas no vinho tinto, provolone defumado), do Pulled Pork (Costela de porco assada, molho barbecue da casa, cebolas caramelizadas com açúcar mascavo e vinagre) e do Cordeiro do Mineiro (pernil assado com alecrim, azeitonas e vinho branco; molho de iogurte com hortelã).
Há também Queijo quente (Serra da Canastra, Reino e Coalho, molho de tomate e funghi seco) e dois com acento oriental, caso do picante e saboroso Ragu tailandês (curry verde de filé mignon) e do Chicken Tika Masala (Peito de frango desfiado, molho indiano Garam Masala, tomate e iogurte).
Mas meu preferido é o cremosão e bem temperado Siri Catado, montado com fartura de carne de siri, endro, pimenta dedo de moça, catchup artesanal de pimentão e emmenthal na dose certa para não salgar além da conta. Uma belezinha. Todos vem acompanhados de salada e molho – custa R$ 30, cada, e são uma refeição e tanto.
Acompanhe com a melhor porção de batata frita da cidade; na verdade, um trio de mandioquinha, batata e batata doce (R$ 15) que serve tranquilamente duas pessoas. Mais uma vez, o cuidado com produtos e execução fazem toda a diferença. Comendo a mandioquinha cremosa por dentro, com casquinha dourada e sal no ponto, recordei porque fico tão p. da vida quanto uma lanchonete ou restaurante me serve batata frita industrializada…
Minha única ressalva ao Tigre Cego são os drinques. Apesar de, na teoria, as combinações terem tudo para resultar em coquetéis interessantes, foram bem decepcionantes: aguados, doces em demasia, destilado morto. Praticamente sucos. Isso se repetiu nos três que provei, o Masala Thai, feito com manga, garam masala e rum (R$ 22), o Delhi Punch (maçã, gengibre, rum e chá preto, R$ 22) e o Thai Breath (abacaxi, água de coco, chá darjeeling, vermute seco infusionado com capim- limão, R$ 22). Prefira a concisa e boa seleção de cervejas especiais, como a brasileira Way Beer (R$ 12).
Encerre com o cremoso – e, neste caso, com açúcar na medida – pudim de pistache (R$ 15).
Tigre Cego: Rua Girassol, 654, Vila Madalena, tel.: 3586-8370
P.S.: Ah, sim, o nome bizarro: tem algo a ver com sentidos apurados do animal, ainda mais quando não enxerga. Enfim…
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