Um dos melhores confeiteiros, doceiros ou chefs pâtissier do Brasil (depende de quem profere o título) foge bem da imagem que a maioria tem de quem trabalha com açúcar. Ele não é a versão XY da bonachuda Dona Benta nem tem voz com tom perenemente caramelado. É um cara simpático, sim, mas meio tímido. Cheio de tatuagens. Curte heavy metal. Faz chocolates em formato de caveiras e carrancas– mas tem a mão tão leve que suas criações parecem flutuar no estômago. Flavio Federico, como ele mesmo diz, luta “por uma confeitaria digna, verdadeira e de nível elevado, defendendo a utilização das técnicas e ingredientes nacionais, sem ser o chato que carrega a bandeira do Brasil no bolso”. E, sim, consegue.
Numa cidade onde abundam endereços com doces lindos e medíocres, profissionais que investem mais na própria imagem no que no aprimoramento, uma visita a Flavio Federico Dolci é um alento. E uma putsa delícia.
Logo na entrada você vai notar a presença dos ingredientes nacionais na área da vitrine dedicada aos macarons, doces franceses feitos com farinha de amêndoas, açúcar e claras de ovos e recheados com… cupuaçu com rapadura (eita, coisa boa!), abacaxi com coco, caipirinha, além de outras criações sensacionais como o Sex on the Beach (pêssego, laranja, vodca e groselha), o de baunilha de Madagascar com marzipan, maçã com canela, maracujá com avelã (R$ 3,25 a unidade). Então você levanta os olhos e dá de cara com os brigadeiros. PQP. Sério, o de chocolate com laranja é um torpedo de alegria no centro do cérebro– tem também o tradicional, o de cupuaçu, o de pistache e o ótimo Mantiqueira, feito com banana caramelada, gianduia e café (R$ 3 cada). Isso porque você nem começou.
Você ainda está atento a vitrine principal. Permaneça aí por um tempo. Olhe mais pra baixo– encontrou os cannoli? Ótimo, peça um. Ou dois. ou três; A melhor versão nacional que comi deste doce típico da Sicília tem massa frita fina e mega crocante feita com vinho marsala e recheada com creme diáfano de cream cheese e ricota (“A ricota nacional é muito diferente da italiana e não dá ponto sozinha”, diz Flavio). Na versão tradicional, que mais adoro, leva apenas poucas frutas cristalizadas– há também o de pistache e o de limão siciliano (R$ 6,90 cada). Delicadíssimo. Bom pacas.
Mas a vitrine continua lá e se você virar um pouquinho pra esquerda… os doces! Torta de limão, Suprema de chocolate, Bolo de brigadeiro, cheesecake de frutas vermelhas, Tarte Tatin. Uns 25 tipos (R$ 9,85 cada) que tornam a escolha um tanto complicada, visto que você provavelmente já comeu macaron e cannoli e brigadeiro. Provei o Homenagem ao Porto, uma esfera de capa crocante de chocolate que, quando quebrada, revelava o interior de chocolate, de textura sedosa e aerada como uma mousse, feita com um toque de vinho do Porto– tudo montado sobre um bolo de chocolate.
Mas, espere. Vá para a outra vitrine porque você não pode sair de lá sem provar o sorvete que Flavio está fazendo com a Bamberg Schwarzbier. Senhor, iluminai! Juntou duas coisas que amo dum tanto: sorvete e cerveja. O que aconteceu foi um creme (ele não usa espessante) com sabor intenso de café e cacau, oferecido pela cerveja. (R$ 8 uma bola; R$ 15, duas). Podia abraçar o pote e ser feliz a tarde toda.E, pelamor, como o MELHOR PÃO DE MEL DO MUNDO CONHECIDO (R$ 7). Compacto, denso, repleto de especiarias, coberto por ótimo chocolate. Puts.
Flavio Federico ama o que faz. Sempre está testando novas receitas e possibilidades em sua cozinha– e parece se divertir bastante com isso. Enquanto muitos chefs desejam a fama como objetivo final, ele busca a excelência, fato evidente para qualquer um que coma um simples brigadeiro em sua loja.
Sorte dos clientes.
Flavio Federico Dolci: Alameda dos Arapanés, 540, Moema, tel.: 5051-5277
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