A noite na qual jantei a 50 metros do chão (e quase congelei)

A 50 metros do chão, numa noite de 13 graus de temperatura, lá estava eu, pronta para jantar

Na área mais nobre de uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, a Faria Lima, um imenso guindaste erguia uma geringonça semi-balançante com 22 pessoas à bordo, todas sentadinhas e devidamente afiveladas em suas cadeiras, tomando vinho em taças de cristal e degustando um menu de 4 etapas. A 50 metros do chão, o guardanapo do meu vizinho saiu voando pelo céu (ele esqueceu de amarrar no ganchinho) enquanto dezenas de pessoas, lá embaixo, tentavam entender o que era aquilo.

Aquilo era o Dinner in the Sky.

Já no alto e no segundo prato: céu carregado, garoa e quatro taças de vinho pra esquentar

O Dinner in the Sky nasceu na Europa com a intenção de oferecer uma refeição memorável para pessoas curiosas e com grana– a 50 metros do chão, longe de todo barulho e com vista privilegiada da cidade. Excentricidade, é certo, mas bem interessante quando se está em Paris, Estocolmo, Barcelona. Mas estávamos em São Paulo em uma noite fria e garoenta e, confesso, mesmo com cobertorzinho e aquecedor, meus pés começaram a gelar como se eu estivesse tentando me libertar de dentro de um iceberg.

Moqueca de frutos do mar e arroz de jasmim

Fui convidada para o jantar por uma construtora que contratou o Dinner in The Sky para promover seu empreendimento– se ela soubesse que venderia 100% das unidades em apenas 24 horas (um apartamento de 60m2 custava a bagatela de R$ 900 mil– o metro quadrado sai por R$ 15 mil!), talvez não tivesse gasto essa grana preta. Mas, enfim, eu fui, impelida pela minha inata curiosidade.

A vista da "mesa": São Paulo é mesmo uma cidade.... feia pra danar

Nossa subida estava prevista para as 20h45, mas por conta do intenso tráfego aéreo da noite, fomos içados somente às 21h30. Profissionais nos prendem direitinho com dois cintos de segurança aclopados a cada cadeira, o chef e dois assistentes se colocam numa “cozinha” bem ao centro da plataforma– apesar de ter somente uma boca de fogão, é daquele espaço minúsculo que sairiam os três pratos e a sobremesa, depois de pré-preparados na cozinha localizada em um galpão ao lado da traquitana. Porque, afinal, é impossível fazer o preparo em espaço tão diminuto. Devidamente amarrados, subimos.

Papaia com cassis moderninho

Não tenho medo de altura, por isso, me diverti: não foi uma experiência gastronômica sensacional nem uma aventura radical, mas não nego que o inusitado da situação teve lá sua graça. Também não tenho incontinência urinária, então não tive problemas em ficar longe de um banheiro por uma hora e quinze– caso alguém tivesse um piriri, bastava falar para sermos colocados no chão. Eu e os vizinhos de mesa fotografávamos sem parar, fazíamos vídeos e os colocavámos direto no twitter e no facebook enquanto comíamos uma boa moqueca de frutos do mar com arroz de jasmim do chef Gustavo Rosino. Mas eu só conseguia pensar na garoa inundando minha quinta taça de vinho e em como São Paulo conseguia ser mais feia de cima do que quando vista de baixo.

No meu canto, onde o vento gelado fazia a curva: óóóia que vista…

 O Dinner in the Sky é a Disney das experiências gastronômicas: não tem muita graça quando se é adulto, os outros sempre parecem se divertir mais do que você, mas a lembraça dura por um tempão.

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