ESTABELECIMENTO FECHADO
Quando ouvi falar que havia aberto um restaurante que misturava cozinha brasileira e japonesa, tremi. Tinha tudo para ser o desastre do ano– porque, vamos convir, a cidade está abarrotada de japas repletos de invencionices que não funcionam nem um pouco. Daí, ontem, fui conhecer o tal Banana Sushi. Depois de duas horas e alguns pratos, saí de lá com uma certeza: quando o cardápio é criado por alguém que entende de gastronomia, curioso e com bom gosto, até as coisas aparentemente esdrúxulas tendem a funcionar. Algumas, funcionam bem pacas!
O conceito de mixar ingredientes tipicamente brasileiros em receitas tipicamente japonesas é do chef Mauricio Ganzarolli, do ótimo Bananeira, no Morumbi. Ele se juntou a alguns sócios, contratou o sushiman Alexandre Gonçalves e abriu a nova casa no final de abril.
Comecei minha refeição com um ótimo drinque (e olha que sou bem chata quando se trata de drinques) chamado Banana Cristal. A bebida leva saquê, banana ouro macerada, suco de maracujá e grenadine (R$ 20) e é refrescante, divertido, nada doce nem bananento. A primeira entradinha foi um harumaki de moquequinha de camarão (R$ 21) de massa delicada, fritura no ponto, com um recheio sutil e sabor equilibrado.
Segunda entradinha: guioza vegetariano de shiitake, verduras e abóbora (R$ 19). A fritura deveria ser menos oleosa, mas o recheio veio cremoso, perfeitamente temperado e com o toque adocicado, que tanto adoro, da abóbora.
Terceira entrada: Beiju de tapioca com ovas de salmão (R$ 29). A apresentação do prato é linda (vide foto lá em cima), as ovas tem sabor poderoso (por isso aconselho só para quem ama a iguaria) e os beijus estavam delicados, crocantíssimos, fininhos. O sabor levemente adocicado da mandioca fez um ótimo equilíbrio com o salgado naturalmente presente nas ovas. Mega aprovado.
Pedi também dois temakis: spicy tuna, pimenta biquinho e 7 spices (R$ 16) e camarão, coco e lima (R$ 19). Ambos traziam nori bem fresca e crocante, arroz perfeito e tamanho ideal. O primeiro era surpreendemente bom e poderoso; o segundo, delicadíssimo e com gosto beeeem sutil.
Então, o prato principal, um combinado de nome Banana Brasil, para duas pessoas, contendo todas as criações da casa (R$ 95). Vamos lá: 6 fatias de sashimi de peixe branco, 6 de atum selado, 6 de robalo com limão; 2 niguiri de salmão gordo cobertos por catupiry, gengibre e capim santo, 2 de atum com pimenta biquinho e flor de sal, 2 de shiitake, 2 de robalo; 2 uramakis de atum com coco, camarão, ovas, catupiry e salsinha; 2 kiruramaki; 2 hot banana com salmão. A qualidade e frescor dos peixes: inquestionável. A apresentação do combinado: lindíssima. As criações: algumas ficaram divinas; outras pecaram pelo excesso de queijo que, para mim, não nasceu para casar com peixe…
O que mais gostei: o niguiri de salmão gordo que levava um delicado purê de catupiry (pouquíssimo, só para dar corpo) com gengibre e capim santo– fresco, trazia todo o aroma do gengibre que “quebrava” a gordura do peixe. Também adorei o hot banana: fatia de banana ouro quente coberta por salmão. Os que não funcionaram: o enrolado de pepino com catupiry e banana (a consistência molona do queijo na boca, misturada ao crocante do pepino, deu arrepios).
Para terminar, doces! Bolinho de banana e gengibre com sorvete de canela e calda de kinkan (R$ 13) e Brulee de banana com kinkan e gengibre (R$ 11). Como você vê, banana, kin kan e gengibre são os reis do cardápio… Ambas as sobremesas estavam boas (não incríveis), mas o brulee não é creme brulee, e sim um creme sedoso com base de leite condensado.
Meus pré-conceitos foram por terra. Não é que a invencionice japa/brazuca resultou em algo bem interessante? Só espero que não se espalhe, porque odiaria ver coisas como temaki de feijoada ou sushi de carne-seca…
Banana Sushi: R. Joaquim Antunes, 234, Jardim Paulistano, Tel. (11) 3061-2312 e (11) 3061-0830.
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