Menu do Acre no Brasil a Gosto. Conselho? Vá rápido

Lombo de tartaruga - DE CRIADOR CERTIFICADO PELO IBAMA- laminado, com emulsão de óleo de castanha do pará, chicória da Amazônia e alfavaca

Acre. A maior parte dos brasileiros jamais fez turismo por lá. Tampouco sabe algo sobre a culinária do estado. Não por culpa própria, mas porque não temos o menor incentivo governamental para conhecer nosso país: estradas ruins, passagens de avião caríssimas, etc, etc.

Bolinho de mandioca recheado com carne moída e acompanhado por molho de pimentas acreanas

Riquíssimo em ingredientes, situado em plena floresta amazônica, o Acre é um desconhecido da maioria. Mas o movimento de valorização da nossa cozinha feito por chefs como Alex Atala, Roberta Sudbrack, Felipe e Thiago Castanho, Rodrigo Oliveira vem, aos pouquinhos, suscitando mais curiosidade em nós sobre o que se passa debaixo do nosso nariz. Também pertencente a este grupo de cozinheiros está a chef do Brasil a Gosto, Ana Luiza Trajano, que acaba de colocar em seu restaurante o Menu Acre (permanece até fevereiro de 2012).

Ana Luiza é, não de hoje, uma grande pesquisadora da gastronomia nacional. Dá para ver o interesse e paixão que tem pelo assunto já pelo menu do Brasil a Gosto, com explicações minuciosas de ingredientes e sua história. Então, quando você se senta à mesa, pode assistir os lindos documentários feitos por sua equipe pelo Brasil, sempre focando pequenos produtores artesanais de produtos que, se não dermos valor, podem sumir sem deixar rastro.

Voltemos ao menu do Acre. Em uma palavra: sensacional.

SENSACIONAL caldeirada de pirarucu com feijões acreanos em leite de castanha do pará e farofa de mandioca de Cruzeiro do Sul

Eu e meu namorado pedimos tudo: um petisco, uma entrada, dois pratos principais e uma sobremesa. O começo foi o melhor bolinho de mandioca que comi, e acho que comerei, na vida: casquinha absolutamente crocante e fina que revelada um interior sedoso como purê e, dentro dele, carne moída lindamente temperada. Para acompanhar, molho de pimentas acreanas, repleto de nuances de sabor e no qual a picância era só um detalhe.

Depois, o prato mais polêmico de todos: lombo de tartaruga, feito em baixa temperatura, com emulsão de óleo de castanha do pará, chicória da Amazônia e alfavaca. A TARTARUGA SERVIDA LÁ É DE UM CRIADOR CERTIFICADO PELO IBAMA. E não me venha ficar com dó da bicha porque daí você também teria que ter dó da vaquinha, do cordeirinho, do porquinho. Posto isso, posso dizer que a carne da tartaruga tem textura parecida com a da carne vermelha, porém absolutamente branca, macia e menos fibrosa, com gosto que remete – no bom sentido- ao barro e plantas do rio. E o tempero… delicioso, delicado, com o frescor dos brotos de ervas e verduras dando o toque final.

Rabada ao tucupi com farofa e purê de mandioca

Pratos principais: SENSACIONAL, de novo, caldeirada de pirarucu e feijões acreanos com leite de castanha do pará e farofa de mandioca (R$ 82). Sabe quando você não espera muito de algo e simplesmente pira o cabeção? Então, foi isso. Os feijões de tamanhos, texturas e sabores diferentes, mergulhados num molho divino, encorpado e cheiroso que banhava os gordos e macios pedaços de pirarucu… daí, pra ficar melhor, misturava uma colherada da farofa crocante e gotas da pimenta acreana e PUM! Nussa.

O outro prato – muito bem preparado mas que não me impressionou tanto- é a rabada ao tucupi com purê e farofa de mandioca (R$ 79).

Beléu com caldas de cajá e açaí com sorvete de banana comprida e farofa de castanha do pará

Para finalizar, a sobremesa com a qual poderia dormir abraçada, de tanto que amei:  beléu, bolo de massa de mandioca e gramixó (açúcar mascavo) servido com calda de cajá e açaí, sorvete de banana comprida e crocante de castanha do Brasil (R$ 26).

Ah, sim: muitos produtos acreanos estão à venda no restaurante: farinha de tapioca e  farinha Cruzeiro, feita com mandioca e considerada um patrimônio do Acre,  feijão manteiguinha, o mudubim de rama, o mudubim de vara, o peruano vermelho e o quarentão branco de arranca.

O salão da casa, completamente lotado

Sabe a única coisa triste? 90% dos clientes eram gringos… Passou da hora de valorizarmos o que é nosso e bom. Porque, se não o fizermos, vai desaparecer.

Brasil a Gosto: R. Professor Azevedo do Amaral, 70, Jardim Paulistano, Tel. (11) 3086-3565

 

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