Finalmente começo a encontrar em restaurantes partes “rejeitadas” de legumes e verduras – e compondo pratos deliciosos.
Isso é louvável, é sensato e gastronomicamente inteligente.
Louvável por ser um esforço do cozinheiro para sair do pântano do imenso e inaceitável desperdício cotidiano; sensato pois ao se utilizar o alimento inteiro, não se joga, também, dinheiro fora; gastronomicamente inteligente porque quem tem talento sabe que o sabor não está apenas na parte tolamente considerada nobre. Posto isso, realmente me impressionei com a qualidade da comida e com o cuidado nos detalhes do novo Ae! Cozinha.
Esse pequeno restaurante na Vila Mariana oferece comida autoral e sazonal em menu no qual brilha o reino vegetal. Como dita a sensatez climática/ambiental, há pouca carne – e muito bem trabalhada.
A cozinha, comandada pelo casal Walkyria Fagundes (confeiteira) e Ygor Lopes (chef), aproveita ao máximo os ingredientes locais e da estação portanto, seguindo a oferta da natureza, o menu muda constantemente. Nota-se uma bela base francesa na formação do chef, que prepara impecáveis cremes, caldos e purês, porém com mão leve na gordura (um alento). Contudo, a brasilidade não é apagada do cardápio. Muito pelo contrário: ali estão plantas alimentícias não convencionais, chocolate bean to bar brasileiro, bom café nacional e mel de abelhas nativas.
Gostei bem do custo-benefício do Ae!: no jantar e aos finais de semana, o menu com entrada, prato e sobremesa custa R$ 90. Caso o cliente prefira, podem consumir os itens individualmente, com preços entre R$ 27 e R$ 45.
No dia da minha visita, havia delicadíssimo Velouté de abobrinha com espaguete de abobrinha, impecável tempurá de peixinho-da-horta e botarga (R$ 27), Couve flor frita com leve purê de couve flor (que leva também o talo), denso e saboroso pesto de nozes e cogumelos salteados (R$ 27).
A minha escolha de principal foi mini arroz de abóbora com rama e talo crocante de brócolis, leite de amêndoas, mini arroz frito e folha de brócolis desidratada (R$ 38). Havia também Peixe do dia com alho poró grelhado, pupunha e molho de cúrcuma (R$ 45) e “Medalhão”, creme de batata, couve e cebola tostada (R$ 43).
Vale um adendo ao medalhão entre aspas: é reclamação recorrente entre os chefs que a maior parte dos clientes pede sempre as mesmas coisas, estando geralmente fechados a provar qualquer item que saia da zona conhecida filé de frango-salmão-filé mignon. Ao olhar, a carne deste prato remete mesmo ao (chaaaaato) medalhão de filé mignon. Em realidade, é algo muito mais interessante: maciíssima bochecha de boi baseada e servida com seu próprio molho.
Para quem chega cedo ou quer apenas petiscar enquanto conversa, o Ae! oferece boas opções de drinques, vinhos naturais (entre R$ 87 e R$ 145, a garrafa) e petiscos, caso dos croquetes de milho verde, ricota defumada e parmesão (R$ 18, 6 unidades) e dos pasteis de queijo Lua Cheia (R$ 19, 5 unidades).
As sobremesas seguem a mesma linha de valorização dos ingredientes nacionais de qualidade. O potente cremoso de chocolate amargo, por exemplo, é preparado com matéria prima da Casa Lasevicius e servido com sorvete de café e flor de laranjeira (R$ 25). Para quem, como eu, gosta do sabor do cacau e não do leite nem do açúcar.
No final da refeição, prove o equilibrado blend da Martins Café desenvolvido especialmente para o local (servido apenas coado).
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