Sou cada vez mais fã de comida brasileira. Bom, é difícil falar em comida brasileira, assim, englobando o país todo num balaio só, por que cada região tem seus temperos, ingredientes, preparos. Seria melhor dizer que sou cada vez mais fã dos sabores do Brasil. Haja riqueza, biodiversidade, cultura!
No meio de uma enxurrada de pokes, temakis, pizzas e hambúrgueres, dá alegria ver a inauguração de um restaurante de sabores da nossa terra, que une couve rasgada mineira, tupi amazônico e bolinho de arroz paulistano – e que serve tudo isso com talento, tempero, alma. O Benedita Cozinha é muito bem vindo.
Aberto há cerca de sete meses em Perdizes, numa agradável casa (que costumava ser o endereço de um dos sócios), o Benedita me lembra muito o Jiquitaia: fora da rota gourmet, decoração simples, modelo de menu executivo bem resolvido, jantar com poucos pratos, valores sensatos, brasilidade sem chavões e comida muito, muito boa. Bem temperada. Bonita. Cheirosa.
Durante a semana, no almoço, há três opções fixas a cada dia. Terça tem frango com quiabo e angu de queijo minas. Quarta, Picadinho de porco, verdura refogada, ovo frito e arroz. Quinta, abobrinha recheada com ricota. Por R$ 38, o cliente escolhe o prato e leva a entrada e a sobremesa.
No jantar, o Benedita fica mais autoral, no melhor sentido: sem petulância, sem pirotecnia, com tempero e preparos acertados. Tempero é uma palavra recorrente neste texto por ser recorrente na cozinha do restaurante: usado sem medo e de forma primorosa, enriquece o todo sem soterrar nada.
Exemplo do tal tempero é o levemente adocicado molho que embala a excelente salada de amargos (folhas, quiabo, chips de jiló, semente de girassol e lascas de queijo curado, R$ 21). Delicioso também é o vinagrete de coentro que acompanha cubos de abóbora tostada e creme denso de queijo manteiga (R$ 21), para se comer de colheradas. Gordos, os camarões do Remanso são empanados em tapioca flocada e acompanhados por maionese de tucupi (R$ 32, 6 unidades). E os campeões de vendas, Bolinhos de arroz (R$ 16).
Os pratos do Benedita dão o devido destaque aos vegetais, não cedendo o protagonismo somente às carnes. Vegano, o cozido paraense traz legumes cozidos com toque de tucupi, pirão preparado com caldo de legumes, arroz com jambu e castanha do Pará (R$ 50). Intensidade, acidez, maciez, crocância: tudo está lá, presente.
Dos meus favoritos, a Moqueca de banana vem com creme de coco salgado e incrível farofa de castanha (R$ 38), preparada com farinha tão saborosa que poderia ser comida pura. Pujante, o Arroz de galinhada traz suculentos pedaços da ave acompanhados de muitas rodelas de linguiça de porco (um certo excesso, visto que briga com o gosto mais delicado da galinha), pimenta de cheiro, cúrcuma e vagem (R$ 36).
As sobremesas são reconfortantes no nível máximo. Brigadeirão (R$ 9), Cocada de forno (R$ 9), Bolinho de estudante (bolinho frito de tapioca e coco, servido com doce de leite, R$ 13) e Pavê de doce de leite (R$ 13), que só aparece por lá de vez em quando.
Longa vida ao Benedita. Longa vida a essa simplicidade prazerosa.
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