ESTABELECIMENTO FECHADO
Preços de vinhos em restaurantes costumam me irritar muito. A maioria, infelizmente, coloca uns 40, 50% de margem sobre o valor dos rótulos e os tornam incompráveis – a não ser que o cliente não tenha noção de quanto o mesmo custa na loja ou curta jogar grana pela janela. Por isso fico satisfeita ao encontrar lugares que optam por cobrar valores razoáveis e, assim, vender mais e atender melhor. A nova Bodega Franca faz parte deste time.
Aberta há um mês na Alameda Franca, nos Jardins, a Bodega Franca funciona como uma loja de vinhos no andar superior– e pequeno mercado de produtos gourmet como chocolates especiais, queijos importados e artigos trufados– e restaurante no inferior. Qualquer garrafa tem o mesmo preço em cima e em baixo: ou seja, nada de ficar p.da vida por pagar R$ 45 na loja e encontrar o mesmo vinho pelo dobro na carta. Além disso, os preços praticados são bons, não sendo incomum encontrar rótulos mais baratos ali do que em sites de venda online. O português Raposeira Reserva Bruto, por exemplo, sai R$ 96; o espanho Paco & Lola, R$ 114; o chileno Molinero Carmenére, R$ 39. A rolha custa R$ 50. O responsável pela escolha dos 350 rótulos (que em breve estarão no IPAD) é Rodrigo Gomes, um dos sócios e antigo proprietário da Casa do Porto.
O salão de 95 lugares é bastante agradável. Tem decoração clean, cadeiras confortáveis, belos lustres e teto retrátil que torna o ambiente iluminado e calmo, como um pátio, em dias de temperatura amena. Quem comanda a cozinha é a jovem chef Thaís Bulgareli, que montou cardápio variado, de influências francesas e italianas. Como entrada, prove o crocante e macio Pierogi de Lagosta, pastéis de massa folhada recheada, acompanhados de manteiga de trufa de boa qualidade (R$ 39). Há também carpaccio de magret de pato com caramelo de Vinho do Porto, que seria muito melhor se tivesse textura da carne assada/chapeada/curada, mas é feito no sous vide e, como tudo que passa por essa técnica, fica uniformemente macio porém sem vida (R$ 28). Ô praga moderna, esse sous vide…
Entre os principais, peixes, carnes, massas e risotos. Fiquei bem interessada pela Costela de Javali à milanesa com purê de alho poró (R$ 57), mas acabei seduzida pelo cordeiro em crosta de menta acompanhado por batata gratinada com berinjela e queijo de cabra (R$ 69) que acabou se revelando um bom pedido: gratin bem feito, saboroso, sem exagero de queijo e carne alta, tenra, porém…. feita no sous vide. Estava macia? Sim, muito, mas me incomoda bastante a textura uniforme de todo o corte. Cadê a crostinha do assado ou grelhado? A suculência do exterior mais sequinho e interior sangrento? O prato ficaria infinitamente mais saboroso com outro método de cocção – pelo menos pra mim. Belamente amargo e salgadinho – com cozimento correto- o risoto de linguiça portuguesa, redução de vinho e radicchio (R$ 45).
Único ponto realmente negativo: os pães do couvert. Massudos, pesados, sem sabor, não combinam com o cuidado da casa na execução do restante do menu.
Chegando aos doces, gostei bem do Tiramisú desconstruído, feito com brownie de café (apesar de estar escrito cookie no menu), leve sorvete de mascarpone e espuma de chocolate (R$ 25). Tipo de sobremesa que, quando acaba, dá tristeza. É bom demais deixar o sorvete derreter um pouco e ir penetrando na massa quente do brownie… Sedoso e levíssimo o creme brulê de especiarias (R$ 14).
Para encerrar, espresso de Jacu Bird (R$ 16), feito com os grãos de café ingeridos pelo pássaro Jacu. O animal, então, expele os grãos intactos: o organismo aproveita a polpa e rejeita o resto. Os grãos são separados das fezes, higienizados e torrados. O resultado é uma bebida mais adocicada e ácida, até refrescante.
Bodega Franca: Alameda Franca, 1045, Jardim Paulista, tel.: 3081-3870
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