POST PUBLICADO EM 2011.
O RESTAURANTE DUI NÃO EXISTE MAIS E O CLANDESTINO ACONTECE APENAS UMA VEZ POR MES EM NOVO ENDEREÇO. PARA MAIS INFOS, CLIQUE AQUI
A chef Bel Coelho é uma mulher bonita– e isso, incrivelmente, tem sido um problema para ela. Ridiculamente, tem sido um problema.
Bel ficou famosa há cerca de 6 anos, ao assumir a cozinha do finado Sabuji; não tardou para sair em diversas publicações de gastronomia. Chamou atenção também das revistas masculinas e, em março de 2007, foi capa da Trip, em um ensaio sensual. Não basta ter assumido, após isso, a cozinha do Buddha Bar, ter estudado em Londres ou aberto, há dois anos, o seu bem sucedido DUI. Os críticos mais babacas preferem ignorar o evidente talento e dedicação da chef e bater na tecla “a cozinheira que se importa mais em ser gostosa do que em ser boa no que faz”. Quer dizer que para ser boa profissional uma mulher precisa ser feia e ensebada? Sei lá, mas isso me parece bem machista e preconceituoso.
Bel é bonita, sim, e também é uma cozinheira criativa, inquieta. Bonita E talentosa— características que, de forma alguma, são excludentes. Do mesmo jeito que alguém pode ser corintiano e japonês ou peruano e vegetariano. Simples assim. Quando feiúra se tornou sinônimo de estrelas Michelin?
Mas vamos ao que interessa.
Além de mudar alguns itens do cardápio do DUI com frequência, Bel tem o projeto Clandestino, no qual coloca na mesa seu lado mais autoral. O Clandestino funciona no andar de cima do restaurante, com apenas 30 lugares que ficam de frente para cozinha aberta de onde sai o menu de 13 etapas. Somente nos jantares de quinta, durante alguns meses por ano, Bel serve essas trezes delícias sutis, impactantes, criativas e, acima de tudo, saborosas. Seu talento, ali, fica evidente até para o mais anencéfalo gastrochato.
Não tive a oportunidade de provar o menu do no ano passado, mas posso dizer que o cardápio deste ano está… impecável. Com criações de finalização feminina como o Caramelo com creme de marrom glacê e ragú de costela de porco ou inovadora como a Saladinha brasileira (creme de pupunha, gelatina de tomate, beterraba crispy e espuma de pepino), uma refeição no Clandestino é uma ótima experiência.
O salão a meia luz, o serviço eficiente, a possibilidade de observar a chef trabalhando, a sequência de sabores e texturas, tudo faz o jantar no Clandestino ser especial, calmo, interessante. E, porque não, bonito.
O menu custa R$ 195 por pessoa (é necessário reservar). Se quiser harmonizar com vinhos, sai mais R$ 140— os rótulos são Cava Gramana Rosé Brut Pino Noir, Obession Symphony, Tokaji Furmint, Barmès Buecher Pinot Noir Villes Vigne, Winemaster´s Reserve Noble Nederburg Late Harvest, Jérez Pedro Ximenez El Maestro. Mas, olha, peguei uma garrafa de bom branco português por R$ 70 e me diverti bastante.
A refeição começa com um bom Croquete de mandioquinha com queijo meia cura e viciante farofa de aviú (camarãode água doce) seco.
Segue com a deliciosa mistura doce do Caramelo com creme de marrom glacê recheado com um denso e aromático ragú de costela de porco.
Então, o sensacional Bombom de foie gras com gelatina de cachaça, limão cravo e compota de cajú.
O prato que veio depois causou um furor na mesa: todo mundo queria pedir uma porção tamanho família da coxinha líquida. Para ser comida numa bocada só, a carne desfiada do frango, super bem temperada, vinha coroada por farinha panko e uma esfera de catupiry que também continha o sabor da massa. Aquilo explodiu na boca, com a panko dando a textura da fritura– coxinha nota 10!
Para não dizer que não comemos salada, a ótima Saladinha brasileira: creme de pupunha, gelatina de tomate, beterraba crispy e espuma de pepino.
O Carpaccio de vieiras com tamarillo, bottarga e vinagrete de wasabi
O Atum em crosta de chá preto com chutney de manga, bok choy(acelga chinesa) e tarê de coco
Costela de tambaqui em baixa temperatura ao molho de açai, purê de banana e farofa de castanha do Pará
O Pato no tucupi com gosto sutil demais do… tucupi, mas textura excepcional.
Ovo P.F.: ovo perfeito realmente perfeito (gema moliiiiiiiinha que espamarrava sobre o feijão), couve crocante, farofa de linguiça e creme de feijão
Primeira das sobremesas, a Zona da Mata trazia sabores cintilantes de frutas como siriguela e cajá.
O sensacional e sedoso Doce de abóbora Clandestino
E, para finalizar, o sensacional Creme brulê com chocolate 100% cacau com azeite e caramelo de especiarias.
Um jantar memorável.
Clandestino: apenas no jantar de quinta, à partir das 20h30, somente com reserva. Alameda Franca, 1590, Jardins, tel: 2649-7952
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