“Meu plano de expansão é abrir um restaurante a cada 40 anos”, diz Rodrigo Oliveira, em tom irônico. A brincadeira revela o cansaço do chef que há meses se desdobra entre o tradicional Mocotó, palestras e eventos pelo Brasil, estudo de ingredientes e o comando da cozinha do seu filho mais novo, o Esquina Mocotó.
Instalado ao lado da casa-mãe, o Esquina é menor, mais moderno (cozinha aberta, paredes pintadas pelo artista plástico Speto), mais calmo. A grande diferença do menu? “Aqui eu sou livre pra criar. No Mocotó procuramos homenagear a cozinha nordestina; no Essquina, meu objetivo é trabalhar com ingredientes locais, de pequenos produtores, frescos”, fala Rodrigo. Ali, a cozinha brasileira tem toque de autor e, pelo que provei, Rodrigo colocou toda a experiência adquirida nos últimos anos, e talento, em prol do sabor. Resumindo: bom pacas.
O menu é conciso e não deve crescer muito. “Vamos incluir mais duas ou três entradas e uns dois pratos principais”, diz o chef. Na boa, não precisa ser maior. O grau de dedicação e apuro nas preparações é raro de se encontrar. O preço? Justíssimo. Por exemplo, os excelentes pães de fermentação natural feitos na casa – muito dono de boulangerie vai querer se jogar da ponte quando prová-los- são oferecidos como cortesia no couvert, acompanhados de manteiga. O almoço executivo sai por R$ 39,80 (couvert, entrada, prato e sobremesa).
Com pouco mais de 50 dias de vida, um dos aperitivos já virou paixão entre os frequentadores e é mais fotografado no Instagram do que Look do Dia ou unhas pintadas. A belezinha atende pelo nome de A Porcaria. A tábua farta é uma homenagem a carne de porco. De novo, tremendo apuro desde o corte finíssimo dos excelentes salames de Catanduva até o inacreditável rillete coberto por manteiga de garrafa e flor de sal. A Porcaria é composta pelos viciantes dadinhos de tapioca, desta vez recheados com porco; salames normal, picante e extra picante; Presunto Salamanca, também de Catanduva; compota de cebola roxa; terrine de porco; rillete de Copa Lombo com manteiga de garrafa (R$ 36,90). E a foto que você vê aqui é da MEIA porção, ok?
Não deixe de comer, comer de novo e lamber os dedos: Codorna a passarinha. A carne macia de peito e sobrecoxa é mergulhada no próprio molho da ave, então empanada na tapioca e frita à perfeição. Para acompanhar, limão tahiti e rosa e maionese de pimenta (R$ 22,90). Ficaram para as outras visitas itens que me causaram salivação como o Ovo mole, cogumelos, legumes salteados e caldo de galinha (R$ 18,90) e o Creme de batata com linguiça defumadam frango, cambuquira e jerimum (R$ 16,90).
Com a liberdade que criou na cozinha do Esquina, Rodrigo pode se dar o direito de ir por caminhos até antes estranhos para quem acompanha sua jornada. Já imaginou encontrar hambúrguer num cardápio dele? Pois encontrará e será um dos melhores ever. De novo misturando técnica, criatividade e talento veio ao mundo o Porcoburger: burger de porco recheado com rillete de porco, maionese de cumari, bacon crocante, folhas de mostarda fresca, catchup caseiro, pão de mandioca artesanal (R$ 22,90). Prazer nível 10.
Como quem costuma ler o Gastrolândia bem sabe, sou apaixonada por coquetéis. Pra mim, coquetelaria é algo tão complexo e belo quanto a cozinha e, em determinado ponto, se funde a ela. Qual minha alegria ao provar um dos melhores Negroni (R$ 19,90) da minha existência e saber que ele tinha sido feito com … cachaça! O menu inteiro de drinks é baseado em cachaça, algo absolutamente pertinente a um restaurante brasileiro.
O segredo de Ahron Rosa, o talentoso barman, para este Negroni é infusionar a cachaça com ingredientes comumente usados na fabricação de gin (cardamomo, zimbro, anis-estrelado, entre outros). Mais potente, elegante e bom de morrer. Para quem curte os amargos, há também o Martinez (cachaça Jacuba Prata com especiarias, vermute doce e amargos; R$ 19,90) e os adeptos de sabores mais adocicados vão curtir o Tommys (João Mendes prata, xarope de agave e limão tahiti, R$ 18,90)
Entre os pratos principais, provamos o saboroso Frango no molho, angu de queijo Canastra e legumes caipiras (R$28,90) e ficamos de olho grande no Nhoque de mandioca com legumes, tucupi e queijo de cabra (R$ 28,90) e no Arroz de ossobuco com cogumelos e tutano (R$ 32,90). Mas nem eu consigo comer tanto assim num dia só!
As sobremesas mantém o padrão, altíssimo, da casa. Sedosa, geladinha e levemente doce, a CajaManga (purê de manga com baunilha baiana, sorbet de cajá e coco crocante, R$ 12,90) é de uma delicadeza linda. A Umbuzada Pannacotta – como o nome diz, pannacotta coberta por geleia de umbu (R$14,90) – trouxe uma das melhores execuções do doce típico italiano. Agora preciso me refestelar na Goiaba, goiaba e goiabada: sorbet de goiaba branca, goiaba confit e goiabada com vinho (R$ 14,90).
Acho que é melhor já gravar o caminho da Vila Medeiros no meu GPS.
Esquina Mocotó: Av. Nossa Senhora do Loreto, 1.108, Vila Medeiros, tel.: 2949-7045
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