Minha primeira impressão do Esther Rooftop não foi das melhores.
Estive ali há dois meses, algumas semanas após a inauguração, num domingo. Liguei para reservar: “não fazemos reservas”. Cheguei 15 minutos após sua abertura e, mesmo com o salão sem um ser humano, encarei espera de uma hora. E aquelas mesas vazias? “Estão reservadas”. Ãhn?!
Decidi ficar. Durante a longa espera, instalada no bar, observei o movimento: os bartenders não usavam medidores para nada, vertiam toneladas de açúcar (e não xarope de açúcar, algo básico num bar profissional), preparavam coquetéis de uma marca de destilado no copo com logotipo de outra e havia praticamente uma linha de produção de algo que tive bastante dificuldade de compreender – depois, numa consulta ao menu, vi que se tratava do “Mojito Esther“.
Gin, algumas folhas de hortelã maceradas com uma plantação inteira de cana de açúcar, gelo. Por cima, espuma de fruta (manga, maracujá e wasabi; morango, pimentão e manjericão), confeitos de chocolate em pacotinho de papel não comestível (?!), palito de biscoito banhado em chocolate, gergelim e, para coroar, marshmallow colorido. O preço: trinta reais. Trinta reais por uma péssima ideia.
Não se deve infantilizar bebidas alcoólicas. Jamais. Durante o período em que acompanhei o serviço, três crianças pediram aos pais para provar o tal mojito: o que não é de se estranhar, visto que parece mesmo um doce. Isso não é um drinque, é um cruzamento de mesa de buffet infantil com o Grand Gateau do Paris 6 e um farto toque de falta de noção.
Sessenta minutos após minha chegada, nada de lugar. O salão borbulhava de gente. Setenta e cinco minutos e uma porção engordurada de rolinhos crocantes de lagostins (R$ 42) depois, eis que a garçonete consegue uma mesa de dois lugares para nós: o problema é que estávamos em três. Desisti, fui embora e demorei dois meses para voltar.
Minha segunda impressão do Esther Rooftop, casa cujo um dos sócios é o apresentador Olivier Anquier, com cozinha comandada pelo francês Benoit Mathurin? Menos pior.
Meu retorno foi durante a semana, no almoço executivo. Por R$ 69 come-se bem servidos entrada, prato e sobremesa em cardápio conciso, de inspiração francesa. Foi possível até admirar a vista do Centro, especialmente da Praça da República, do já famoso terraço do Esther. Não deixa de ser uma experiência sociológica sair da calçada-casa de dezenas de moradores de rua e adentrar o elegante salão do restaurante. Bem Brasil.
Minha entrada foi a sardinha grelhada, descrita como a especialidade da casa (no menu da noite, R$ 25). Peixe bem feito acompanhado de manteiga com algas – com zero sabor de algas – e péssimo pão, com textura de papelão. Minha amiga foi do que é, provavelmente, o melhor prato dali: Terrine do meu avó (no jantar, R$ 32). Preparada com carne de porco, é belamente condimentada, com agradável presença de canela e noz moscada – ao lado, o mesmo, e terrível, pão.
O peito de frango servido com polenta cremosa e pipoca (R$ 57, no menu da noite) estava correto. Já o peixe do fish and chips veio vertendo óleo e precisei separar todo o empanado da carne para conseguir almoçar.
O ponto alto da refeição foi o Brioche Esther: duas gordas e amanteigadas fatias de brioche sob sorvete de caramelo, crocantes peras cozidas e ótima calda de caramelo salgado (no menu da noite, R$ 25). Serve tranquilamente duas pessoas.
Analisando as duas experiências, compreendi que o Esther Rooftop se enquadra na mesma categoria do Terraço Itália: deve-se ir muito mais pelo ponto turístico do que pela qualidade da comida. Quem procura um passeio, vai se divertir. Quem deseja uma experiência gastronômica pode se frustrar.
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