Não fosse o nome do chef consultor da casa, o hoje famoso Henrique Fogaça, provavelmente o novo Jamile seria apenas mais um restaurante a abrir em São Paulo. Se não levasse no menu a assinatura de um dos apresentadores do programa-fenômeno-de-audiência, o MasterChef, certamente não receberia tanta atenção e nem lotaria todas as noites seu salão moderno e envidraçado, instalado entre as tradicionais cantinas do Bixiga.
Mas o peso do nome de Fogaça leva muita gente para lá, mesmo não sendo ele o chef da casa. A parceria, nesse sentido, funcionou brilhantemente. No resultado do que sai da cozinha inteiramente aberta para o salão – no melhor estilo ‘reality show’ -, nem tanto.
Como Fogaça gosta de dizer, sua comida não tem frescura e o quer mesmo é servir “um rango bom”. Cada dia venho gostando mais de pratos que me proporcionam prazer e não me assustem com o excesso de conceituações. Curto muito um ‘rango bom’. E a essência destas composições mais simples é o tempero. O que seria de um feijão sem louro? O que seria de um escondidinho sem sal? O que seria de um bolonhesa sem tempo, cenoura e vinho? E é aí que o Jamile peca: o corpo está ali, mas a alma, não.
Um exemplo disto é o Tagliatelle com linguiça de javali (R$ 55). O embutido é apenas despedaçado (no meu restaram uns pedaços de tripa), passado rapidamente na frigideira e jogado em cima do macarrão. A massa não vem com caldo, molho, nada. A medida que as garfadas vão se seguindo, o excesso de sal da linguiça sobressai a ponto de incomodar. Um prato que seria reconfortante torna-se decepcionante.
Decepção também foi a Moqueca de badejo e camarão com farofa de mandioca com pimenta e coentro (R$ 52). Servida empratada, a estrela da cozinha baiana morreu sem sal algum; o acompanhamento era tão tímido em coentro que este parecia mais decoração do que ingrediente.
Há acertos, sim, como a entrada composta por deliciosos cubos de batata doce fritos, acompanhados de maionese de endro (R$ 21), os saborosos bolinho de arroz com chipotle de maracujá (R$ 25) e o tradiiiiiiça Risoto de gorgonzola com pera (R$ 55) com queijo na medida certa e fruta sem excesso de cozimento, mantendo sua textura. Mas, no geral, falta potência de sabor.
Outro ponto de desconforto foram os preços altos, inclusive de pratos cujos insumos não são nenhuma fortuna: cupim com mandioca amarela e farofa de banana sai a R$ 69; o ragu de rabada com nhoque de batata e agrião, R$ 60; Entrecote com batata rústica, R$ 85. Do bar, o Negroni custa R$ 36 e o Manhattan, R$ 38 (e a coquetelaria de lá é fraca).
As sobremesas, entretanto, entregam o que o resto do cardápio falha em entregar: fartura, rusticidade e preços sensatos. O Jamile tem apenas um mês de existência mas a chef patissière Drika Coelho já tem um carro chefe, o bom e potente Brigadeiro de colher com Jack Daniel’s honey, sorvete de baunilha com crocante de castanha de caju e calda de chocolate (R$ 18).
O sutil doce que leva o nome da casa é composto por pequenos pedaços de especialidade árabe produzida com semolina, coco fresco e sorvete de pistache (R$ 15), Há também Doce de banana com ganache de chocolate 70%, chantilly de doce de leite e farofa de castanha do Pará (R$ 15).
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