As maiores lembranças que tenho de Istambul são aromas e cores. O ato de andar pela rua é completa sinestesia: carnes misturadas a pimentões e pimentas assando em espetos gigantes (döner, o que chamamos no Brasil de churrasco grego), romãs sendo espremidas na hora e tornando-se espessos sucos, infindáveis lojas de doces repletos de nozes e mel, milhos tornando-se crocantes na brasa, turistas fumando narguilés inebriantes.
A comida turca é colorida, aromática, tentadora. Talvez minha gastronomia preferida na terra – e enfim São Paulo volta a ter um representante dela, o Kebab Salonu.
Volta porque o Kebab Salonu existiu na Rua Augusta até dezembro de 2011, quando fechou as portas. No final de 2014 reabriu na Rua Heitor Penteado – bem menor, muito mais simples (instalado em um daqueles mini shoppings de bairro, não tem garçons e os pedidos são feitos e retirados no caixa) e tão bom quanto. Ou melhor.
Lá é servido, por exemplo, um dos melhores falafel que já provei. A receita, tradicional turca, leva zero fava, muito grão de bico, coentro, salsinha e especiarias – o resultado da mistura frita perfeitamente é um bolinho de verde intenso, cremosíssimo e leve. Ele pode vir dentro Kebab incrementado com homus, taratour, folhas, cebolas assadas ao limão, azeite e sumac, tomate fresco e berinjelas fritas (R$ 21) ou com a salada tunisiana, homus e taratour (R$ 27).
O pão que envolve os kebabs, o lavosh/lavash – de origem armênia e muito popular na Turquia, Irã e Líbano – tem espessura fina, sedosa e é feito na casa e aberto na hora. A diferença que esse cuidado faz é tremenda. O lado negativo: o pedido demora um pouco a sair. Mas, na boa, quem tem pressa quando o que é servido é tão bom?
Outros kebabs que me agradaram muito: picanha de cordeiro com folhas, salada de cebolas assadas ao limão, azeite e sumac e tomate grelhado (R$ 32) e o indiano, adocicado, feito carne bovina, chutney de banana, folhas, salada de cebolas grelhadas ao limão, tomate grelhado e coalhada artesanal (R$ 28). Há ainda Kebab de picanha de cordeiro com folhas, salada de cebolas assadas ao limão, azeite e sumac e tomate grelhado (R$ 32) e shish tavuk, composto por espeto de frango, folhas, cebolas assadas ao limão, azeite e sumac, tomate grelhado, coalhada e batatas fritas (R$ 23).
Se você puder programar sua visita, vá às 12hs, 16hs ou 18hs: são os horários das fornadas de pide, esfihas turcas, que acabam em minutos. Com massa feita ali, são delicadas e saborosas como há muito não provo, servidas nas versões escarola com coalhada, carne e queijo temperado (R$ 3,90)
Na minha terceira ida ao Salonu, praticamente tive um gastro-transporte para a Turquia na primeira (e todas as seguintes) garfada do prato composto por salada turca, shish de cordeiro refogado sobre pão lavosh, bulgur pilavi – grãos de trigo integral quebrados e pré-cozidos, usados na mesma maneira do couscous – e cebolas refogadas no sumac (R$ 31). Acidez, dulçor, potência de especiarias, maciez: todos abraçando fraternalmente uns aos outros.
Para acompanhar, há porções de coalhada artesanal (R$ 10), homus (R$ 7,50) e fritas ao zaatar (R$ 6).
Diariamente há produção de uma ou duas sobremesas como malabie e lokum, o onipresente doce das “turkish delight”, feito à partir de amido de milho e açúcar e aromatizado com tangerina, laranja, água de rosas…
Voltarei ao Kekab Salonu muitas vezes, certamente. Ainda tenho que provar todos os outros itens do menu e dar sorte para pegar a fornada eventual de Lahmacun, grande esfiha oval de carne, ervas e vegetais.
Kebab Salonu: Rua Heitor Penteado, 699, loja 6, tel.: 2373-9258
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