Receitas familiares e tradicionais da Ligúria.
Comida rústica e saborosa.
Combinações, ingredientes e pratos pouco conhecidos por aqui.
O restaurante é tocado com amor e memória afetiva (e tremendo bom gosto) por um cenógrafo italiano que mora há 10 anos no Brasil. Ele começou a cozinhar para amigos para matar a saudade de casa e… acabou virando cozinheiro.
Assim é o Lido Amici di Amici, inaugurado há seis meses num pequeno imóvel em Pinheiros: basta entrar para ser transportado imediatamente para a avenida beira-mar de alguma pequena cidade italiana. É acolhedor, agradável e sonoro.
O legal é mesmo sentar-se à mesa comunitária (há mais algumas, para duas pessoas, no andar de cima da casa), bem de frente pra cozinha, observar os preparos e bater papo com o chef Roberto Rebaudengo. Ouvir sobre a origem do que se come é sempre uma experiência enriquecedora.
O menu não é amplo mas traz receitas que tem profunda conexão com a vida de Roberto, natural de Gênova. Receitas majoritariamente rústicas, de ingredientes simples e muita presença de mar. Ali, peixes, moluscos e crustáceos são preparados com cuidado e apuro; para garantir o frescor, o fornecedor faz entregas quase que diariamente. Não à toa um dos petiscos mais pedidos é o frito misto do mar (baby lula, camarão e manjubinha, R$ 46).
Entre as entradas, todas para compartilhar, uma ganhou meu coração: farinata (R$ 22). A massa de grão de bico, água e sal entra no forno quase líquida, regada em azeite, e sai dele macia, untuosa e viciante. É possível também pedir com queijo stracchino ou gorgonzola (R$ 28), de boa qualidade e em quantidade exata. Iria lá só pra comer farinata e tomar uma taça de vinho branco…
Prove o Testaroli (R$ 46): a massa de trigo preparada ali é cozida numa chapa de ferro tampada, cortada em formatos irregulares e coberta por um cheirosíssimo e levemente amargo pesto de manjerona e pinoli. Prato icônico da Ligúria, praticamente impossível de ser encontrado fora de lá, pode causar estranheza em alguns. Eu adorei sua intensidade.
Nas duas vezes em que estive no Lido me foi recomendado pelo garçom pedir o Minestrone alla Genovese (R$ 42). Na segunda, acatei a sugestão e compreendi imediatamente a razão dela: em vez de consistência de sopa, é pouco líquido, mais parecendo um purê. Deliciosamente pedaçudo, leva legumes e feijão e é finalizado com colherada generosa de pesto. Reconfortante define.
Como não conseguia encontrar as plantas endêmicas com a qual sua mãe preparava o recheio dos Pansoti de sua infância, Roberto provou diversas das nossas PANCs e chegou a uma mistura com sabor muito semelhante: capim branco, capim preto, dente de leão, urtiga e serralha. Elas são misturadas a ricota para compor o recheio da massa, que é regada com molho de nozes (R$ 52). São poucas unidades de Pansoti e pouco recheio: aqui, faltou um tico de fartura italiana.
O tiramisu – apesar de, pra mim, ser delicado demais no café – é levíssimo, pouco doce, cremoso. O cuidado é tanto que o biscoito é feito na casa, assim como as bolachinhas que acompanham o café.
O Lido é lugar com alma, com orgulho de suas raízes, com afeto. Um lugar único.
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