Checho é um cara único: coberto de tatuagens, jeitão de mau (mas é um doce de pessoa!), falante quando se sente à vontade e mudo caso contrário, sem papas na língua e com um olhar tanto prático quanto generoso sobre a gastronomia, que pode ser resumido em “menos pose e mais barriga no fogão”. O cozinheiro não curte muito ser chamado de chef, apesar de ser – o que é oposto do que acontece na maioria dos casos, tendo em vista que chef é cargo e não profissão. Sua comida, latinoamericana e belamente condimentada em essência (boliviano, Checho mora no Brasil há décadas), o fez ter sucesso arrasador na Comedoria Gonzales, casa dentro no Mercado de Pinheiros com menu fortemente baseado em ceviches (excelentes, por sinal).
Agora, no novo Mescla, Checho envereda por uma pegada mais autoral e prepara receitas cheias de personalidade, de caldo e sabor. Pratos criados para serem compartilhados, feitos do zero com insumos sazonais e sem amarras a estilos. Ali, quem manda é o cozinheiro: e isso é ótimo.
Com iluminado salão de pé direito alto, cozinha integrada e mesas compartilhadas – afinal, em geral, ninguém morde! – o Mescla tem conciso cardápio alterado de acordo com a vontade de Checho e os ingredientes/peixes da estação. Entre as entradas em vigor, vale provar a porção de gordos porquinhos (peixe) empanados e fritos, servidos com batatas chips da casa e bom molho tártaro (R$ 25) e as macias e bem temperadas almôndegas de carne mergulhadas em delicado molho de tomate com toque de aliche (R$ 25).
Principais, são cinco, sendo um sempre vegetariano (no caso, abóbora, batata, milho e queijo, R$ 40). Em geral, servem bem duas pessoas. Recomendo com força a posta carnuda e suculenta de prejereba escoltada por molho de castanha de cajú deliciosamente ácido, abóbora assada, espinafre, crisp de couve, “tapenade” de azeitona preta e porção de arroz (R$ 60). Há também Bochecha de porco ao vinho tinto (R$ 52) e Peixe vermelho com camarões e coração de galinha (R$ 71).
Sobremesa não é o forte nem de Checho, nem do Mescla, por isso há apenas uma opção. Mas nem por isso faz feio: a atual é sedoso Creme queimado de milho verde (R$ 15).
Assim como o cardápio, a carta de vinhos também é pequena e bem resolvida, com rótulos entre R$ 64 (Gadiva, português com Malvasia fina, Síria e Golveio) e R$ 117 (Funkehausen, rosé argentino em garrafa de 1 litro).
Lugar agradabilíssimo, ideal para ir com amigos, tempo e papo para colocar em dia.
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