Mais um da minha imensa lista de lugares para conhecer. Entro correndo para fugir do calor pós-senegalês de São Paulo. Escolho o salão de cima por ser mais iluminado e arejado. Pinturas de gosto duvidoso, mobiliário simples, paredes de tijolos à vista. Curioso um tom tão rústico no meio dos Jardins. Peço o cardápio e, numa primeira olhada, fico com vontade de tudo.
O novo Micaela tem o tipo de menu cuja a leitura, pra mim, já causa salivação. Pratos brasileiros – alguns de Minas e interior de São Paulo, outros do Pará – com pequenas influências espanholas em molhos e detalhes da composição. Acho bem interessante e peço duas entradas. Então, quando elas chegam, esqueço de vez a decoração feiosinha e a ausência de ar condicionado: o que provo, naquele momento, é tão bom, bem feito, bem cuidado, que poderia ser comido em pé.
A comida do Micaela, comandado pelo chef Fábio Viera (com passagem pelo Hofmann de Barcelona, detentor de uma estrela no Guia Michelin), mostra personalidade, delicadeza, técnica impecável e sabores brasileiros tão bem executados como há tempos não via. Minha refeição começou com os viciantes e adocicados bolinhos de mandioquinha com piracuí (farinha de peixes amazônicos) e molho picón, a base de pimentão e pimenta (R$ 28,60).
Na sequência, o melhor cuscuz paulista que já provei, sem exagero: cremosíssimo e temperado divinamente, com galinha desfiada puxada na cachaça e ovo perfeito (R$ 38,50).
Detalhe para a bela apresentação dos pratos e para a evidente técnica: corte e ponto de cozimento dos legumes, tratamento dado aos frutos do mar, cuidado no equilíbrio das receitas.
Foi bem complicado decidir o principal entre Picadinho com arroz de queijo Serra da Canastra e mandioca chips (R$ 45), Galinhada com pimentões tostados à moda espanhola (R$ 45), Mignon com crocantes de jamón e purê de mandioquinha aos quatro queijos brasileiros (R$ 48). Fui de Canjiquinha mineira com linguiça e camarão (R$ 44). Que alegria e frescor e vibrância.
Dois dias depois, volto com um amigo. Antes dele chegar, me entretenho com os falsos Raviolis de queijo cabacinha, acompanhado por salada de rúcula selvagem (R$ 35). Deliciosos. No lugar da massa, fina fatia grelhada do queijo salgadinho que envolve o potente recheio de hortaliças, ervas e olivada. Quando ele chega, pedimos a única coisa que não me impressionou, os Montaditos Micaela: polvo com molho de tomate frio, tartar de salmão com cogumelos portobelo e zaatar, queijo manchego com cebolas caramelizadas, carne de sol (R$ 36). Mas justiça seja feita: a carne de sol artesanal é muito boa.
O arroz de tucupi e jambú, tão comum em restaurantes em Belém, ali é preparado cremoso e com arroz bomba (a variedade com a qual se faz paella), fartura de jambú fresco e é acompanhado de costelinhas de tambaqui grelhadas (R$ 59). Meu prato por lá até agora. Tá, não fica muito atrás do Arroz de costelinha de porco na lata com ovos (R$ 42): o que facilmente seria algo pesado e gorduroso mostrou-se leve, equilibrado e, de novo, muito bem temperado.
Fraco em doces, a sobremesa de três chocolates e três frutas é interessante – meio amargo com bacuri, ao leite com açaí branco, branco com cupuaçu – mas cara: R$ 26. Então, farte-se nos salgados. Esses, excepcionais.
Durante a semana, a casa oferece menu executivo a R$ 32, 90.
Micaela: Rua José Maria Lisboa, 228, Jardins, te.: (11) 3473-6849
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