Juliano Valese é um cara legal, na melhor definição do termo. Grandão, falante, extrovertido, sem muitas (ou quase nenhuma) papas na língua, contador animado de histórias, o chef/proprietário do Torero Valese é também um apaixonado por cozinhar, por prover alimento de qualidade a seus comensais – e isso é bem diferente de querer sonhar com a fama, pirar em sair em colunas sociais e ser “badalado”. É um chef que toca seu restaurante no dia-a-dia, fica na cozinha, vai até o salão conversar com os clientes, se preocupa com eles. Viaja, pesquisa. Se isso faz diferença pra quem vai comer no Torero? Opa, se faz.
A primeira coisa bacana é que Juliano não pira nos preços do seu menu, mesmo servindo ótimos ingredientes: “As pessoas pararam de ser tontas e gastar R$ 300 em qualquer e todo jantar”, diz. “Cada vez mais, querem comer bem e com custo-benefício bom”. E, olha, isso é algo que o Torero tem. Comida boa, daquelas que dá vontade de voltar toda semana pra repetir.
Ele acaba de lançar seu novo menu-degustação, servido apenas com reserva (basta ligar e dizer o número de pessoas). Não há uma sequência fixa, pois ele gosta do improviso da cozinha e, principalmente, prioriza trabalhar com ingredientes sazonais e frescos. Ou seja: toda visita é uma novidade.
Vou ao Torero há alguns anos e noto nitidamente a evolução. Se já curtia, hoje posso dizer que adoro. A comida tem equilíbrio, seja entre o tradicional/autoral, seja entre o mar/terra. São pratos simples que trabalham com as melhores características do insumo, com o sabor mais natural. A degustação de seis etapas que fiz esta semana foi uma alegria em bocados, mas não só tapas: haviam também pratos encorpados, de cocção lenta, como o expecional Cochinillo (leitãozinho) com poivre vert e maçã verde empanada -o bichinho é marinado em temperos por 18 horas antes de ir para uma longa estada no forno. A simplicidade também está ali, no pan con tomate (e que tomate saboroso! coisa rara no Brasi), nos aspargos a la plancha com jamón, no mega macio Pulpo galega (selado) com aioli com toque mostarda em grãos.
Então as duas criações de Juliano, que me conquistaram: Foie gras a la plancha com vinagrete de framboesa, chutney de manga e purê de pera com balsâmico e Pescada amarela com molho de cava rosé, gengibre e açúcar mascavo. O foie tinha o balanço perfeito da untuosidade do fígado com acidez e toque adocicado das frutas; a pescada, em posta gorda de textura carnuda, banhava-se no molho encorpado, sem excessos.
Alguns acham que o Torero Valese é um bar por conta do ambiente mais informal e da música um tiquinho animada no volume. Outros pensam que é um restaurante por ter uma cozinha consistente e que não oferece só petiscos, ou tapas. Eu vou ao Torero por que é bom, sem frescura, com alma. E, claro, talento.
Ah, o preço: R$ 85 por seis etapas do menu-degustação. É ou não é um ótimo custo-benefício?
Torero Valese: Avenida Horácio Láfer, 640, tel.: 3168-7917
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