Taí algo que me causa alegria de ver: cozinheiro apaixonado pelo que faz. Por que, geralmente, essa paixão é grande incentivo para estudar, aprimorar-se e rumar em direção a ser um grande profissional. Ao conversar com Piero Franchini, sócio e proprietário do OpyCo, nota-se a chama do amor à cozinha em seu discurso empolgado e vontade de fazer o cliente não só compreender seu menu modular, como também sentir-se em casa.
O Opyco é um pequeno restaurante de cerca de 30 lugares, localizado numa esquina pacata da Vila Romana e aberto há 5 meses (funciona de terça à sábado, das 17hs até as 23hs.). Um pequeno restaurante de projeto arquitetônico moderno, vencedor de prêmios internacionais, que o faz integrar-se por completo à vizinhança: o salão é inteiro aberto para a rua e a cozinha, envidraçada, vira uma atração para os passantes. A ausência de separação dela com o salão cria uma aura de intimidade quase caseira, visto que Piero vai e vem de um para o outro durante todo o serviço.
O cardápio do OpyCo é interativo. Não existem combinações pré-estabelecidas de pratos: ali é o cliente quem faz a combinação. Quer só proteína? Só acompanhamento? Só petiscos? Beleza. Todos os itens foram desenvolvidos para serem compartilhados ao centro da mesa, tornando a experiência da refeição menos automática e mais presencial, humana. O famoso “menos celular, mais conversa”.
Com experiência em restaurantes de alta gastronomia na Itália e França, Piero gosta de utensílios tecnológicos, caso do termocirculador, que usa para o cozimento em baixa temperatura de várias das carnes servidas, caso do Acém 200 horas, a estrela da casa.
Sou sincera em dizer que não curto sous vide – por razões que já relatei em diversos posts – mas admito quando encontro quem o usa de maneira correta e inteligente. É o caso aqui. A peça de acém é marinada por sete dias numa mistura de 20 ervas; então, cozida no vácuo; depois, defumada longamente com pasta preparada com cebola, zimbro, funghi, raspas de laranja e otras cositas más (R$ 27). Chega à mesa com textura de pastrami e sabor complexo, levemente adocicado, terroso.
Outro caso do sous vide bem empregado: a tarantola. Os belos mini polvos inteiros são preparados no vácuo e, depois, fritos numa mistura de azeite e óleo. Vem escoltados com chips de mandioca e abóbora (R$ 27, inteiro; R$ 19, meio).
Os acompanhamentos também podem virar pratos principais, especialmente para vegetarianos, já que muitas opções desta área não levam carne. Sugiro o delicado Ebó (purê de cará, papas arrugadas e pedacinhos assados de mandioca, mandioquinha e batata doce- R$ 17, inteira; R$ 11, meia) e “arroz” de brócoli, que guarda interessante surpresa: não leva arroz. A couve-flor ralada fina, que dá a aparência do grão, é misturada a pequeníssimos pedaços de brócolis, alho-poró e cebola (R$ 15, inteira; R$ 10, meia).
Há ainda Purê de cenoura (R$ 14, inteira; R$ 9, meia), Porcas e parafusos (massa seca com parmesão, abobrinha e manteiga, R$ 17, inteira; R$ 11, meia) e ovo cozido a baixa temperatura (R$ 8).
Não perca a deliciosa e surpreendente porção de mini Alheiras OpyCo, preparadas com coxa de frango, bacon e curry vindaloo (R$ 19) e o gostoso Waffle de mandioca rosti com (desequilibrado, com especiarias em excesso) catchup de vinho merlot (R$ 13, inteira; R$ 8, meia).
Não sei se você notou algo: os preços. Pois é, eles são excelentes e bem abaixo do que se vê por São Paulo. Mas não é milagre, não, é trabalho com equipe enxuta, imóvel pequeno e fora da rota “gourmet”, uso de ingredientes sazonais e opção por focar em retorno financeiro a médio/longo prazo.
As sobremesas valem muito. Muito, mesmo. Xonei no Mouskito: levíssimo mousse de chocolate amazônico feito no sifão, flocos de cereais crocantes envoltos em chocolate e pepitas de caramelo salgado (R$ 19). Mais parrudo, o Frevo Abafo trata-se de saboroso casamento de contrastes. O sedoso creme queimado de coco queimado serve como base para uma refrescante paçoca cítrica (R$ 22).
Para beber, evite o Biancone, versão do Opyco do NeGroni (vermouth bianco, bitter de coco e baunilha e gelo de leite com coco, R$ 26) mas que mais parece um coquetel caribenho. Prefira, ao mesmo preço, as taças de vinhos naturais.
Não tenho dúvida de que a gastronomia brasileira ainda vai ouvir falar bastante de Piero Franchini. Por que paixão pode nos levar longe.
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