Petí Gastronomia: uma pequena joia da cozinha contemporânea em Perdizes

Uma das entradas do menu completo a R$ 38,50: Camarões grelhados, asinha de frango, milho tostado e molho vierge

Ao passar na frente ninguém diz que ali funciona um restaurante. Tudo o que se vê é a fachada da Pintar Materiais Artísticos. Ao entrar, também não se vê nada além de tintas, telas, pincéis, aquarelas. É andando até o final do corredor principal, e descendo alguns degraus, que aparece o salão claro e agradável, a pequena horta orgânica, a cozinha do novo Petí Gastronomia.

Couvert: bons pães artesanais, manteiga e sal

Por que abrir uma casa em lugar tão pitoresco e escondido? “Depois de trabalhar alguns anos entre Irlanda e França, voltei querendo ter meu próprio restaurante. Esse espaço, na loja dos meus pais, já existia como um café. Decidi reformá-lo e criar o Petí”, diz o chef Victor Dimitrow, que comanda a graciosa casa.

Entrada do menu de almoço que muda quinzenalmente: Creme de couve flor, farofa de bacon, gema de ovo caipira e brotos de mostarda

Consommé de cebola tostada com tortellini artesanal de ricota

Formado pela faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo, Victor cursou pós-graduação na Escola Paul Bocuse em Lyon, e trabalhou em casas como Le Chateaubriand (Paris) e Patrick Guilbaud e Camden Kitchen (Dublin).

Belo currículo, é certo. Mas não significa muita coisa se o ato de cozinhar vira apenas uma demonstração de técnica – coisa que me aborrece profundamente. Abomino exibicionismo sem talento ou sabor. Não é o caso de Victor.

Costeleta de porco, repolho roxo braseado, terrine de mandioquinha e purê de maçã verde do novo Petí Gastronomia, em Perdizes

Dourada com alcaparras, vôngole, couve flor tostada e nhoque de endro.

A cozinha do jovem chef é autoral, contemporânea, privilegia ingredientes da estação e composições tão saborosas quanto bem apresentadas e equilibradas. E tudo isso por R$ 38,50 – o menu completo.

Aberto apenas durante o almoço, de segunda à sábado, o Petí oferece menu executivo com couvert, entrada, prato principal e sobremesa. Não existe à la carte. A cada quinze dias são sugeridos oito pratos (entre eles, duas sobremesas) e é só. E não precisa de mais.

Bacalhau fresco, batatinhas ao forno com emulsão de alho e endro, edamame e ervilhas salteados

A refeição começa com macios pães artesanais, manteiga, azeite e flor de sal. Enquanto espera sua refeição, aproveite para observar o trabalho dos cozinheiros – aberta pro salão, a cozinha é pequena e organizada.

Salão de 34 lugares do Petí Gastronomia: nos fundos da loja Pintar Materiais Artísticos

Entre as entradas do menu que provei, a que mais me impactou foi a composta por gordos e tenros camarões grelhados acompanhados por suculentas asinhas de frango, milho tostado e molho vierge (molho francês a base de azeite, suco de limão, tomate e manjericão). Linda a delicadeza e notas adocicadas do camarão misturando-se ao sabor potente e crocante da pele tostada do milho.

Mousse de banana, banana caramelizada e bolinho de chuva

Fui feliz nos dois pratos principais: Bacalhau fresco (precisava ser selado um ou dois minutos a mais para dar textura mais firme a carne), batatinhas ao forno com emulsão de alho e endro, edamame e ervilhas salteados e a perfeita Costeleta de porco com repolho roxo braseado, terrine de mandioquinha e purê de maçã verde.

Deliciosa sobremesa do menu executivo do Petí: brownie, mousse de chocolate branco com cumaru, gel de hibisco (quase nem nada de açúcar, o que é sensacional) e granola artesanal dando aquela crocância amiga

A sugestão vegetariana da quinzena é Polenta grelhada, ricota caseira, pimentão defumado, legumes da horta e brotos.

Pudim de leite com cumaru e viciante caramelo aerado

As sobremesas, ali, tem o mesmo grau de cuidado e apuro que o restante do menu – coisa, ainda, não muito fácil de se encontrar em São Paulo, mas uma das marcas mais evidentes de bons chefs. Estes sabem que o começo da refeição é tão importante quanto o final dela…

Tomara que você tenha a sorte de pegar no cardápio a trilogia bananística (o termo é meu, não da casa!): mousse de banana, banana caramelizada e pequenos bolinho de chuva.

Feliz em ver um novo nome, de evidente talento, despontando na gastronomia paulistana. E fora do circuito “gourmet”.