Há tempos sou fã do Piselli. Gostava demais dos pratos do italiano Boris Melon e por isso fiquei meio preocupada com sua saída, há alguns meses: será que a casa decairia de alguma forma? Pelo que vi e comi na sexta-feira, o chef atual, Paulo Kotzent (ex-Supra) conseguiu um feito: deixou o Piselli ainda melhor. Aliás, deixou-o impressionante.
Não bastasse a simpatia de Juscelino Pereira, o proprietário, e a presteza dos garçons, minha refeição ainda começou com outra jóia: o branco La Corte, da vinícola piemontesa Castello di Gabiano. Com ele, duas entradas: o fresco Tartar de Centola sobre cama de verdes coberto por pequeníssimas e crocantes ovas de arenque (experimente estourá-las contra o céu da boca!) e o Batuto (versão da casa para a tradicional carne cruda italiana, um primo do beef tartar) de filé temperado com azeite e limão, acompanhado de um levíssimo e saboroso zabaione trufado. A sedosidade da carne casada com o aroma terroso da trufa foi um presente para o paladar.
Então, começaram os principais: Plin (pequenos agnolotti recheados de carnes de boi, porco e coelho) na manteiga e sálvia. Aqui, um à parte: estou certa de que foi uma das três melhores massas que comi na vida- e olha que sou de família italiana. A delicadeza do tamanho e da textura- o agnolotti se desmanchava ao toque da língua- somado ao sabor encorpado e equilibrado da mistura de carnes e a quantidade exata de manteiga (nada de ficar boiando) me deixaram boquiaberta. Ah, sim, harmonizado com o vinho da casa, o Rubino di Cantavenna (também Castello di Gabiano), 70% Barbera, 15% Grignolino, 15% Freisa.
Na sequência, o maciíssimo Stracotto di Manzo (vitela), cozido lentamente no vinho tinto, servido com o encorpado molho e acompanhado de purê de batata. A harmonização? O delicioso e cheio de personalidade Adornes (100% Barbera), o meu preferido de toda a degustação.
Para encerrar, uma sobremesa delicada, equilibradíssima, suave, sedosa… Semifreddo de mel de flor de laranjeiras, servido com farofa de cantuccini e calda de frutas vermelhas harmonizado com Il Giardino do Flora, um malvasia di cazorso levemente frisante com notas inesquecíveis de mel e cereja.
É em dias assim, em refeições assim, que fica claro o que torna um restaurante um lugar realmente especial: a preocupação com os menores detalhes (do tipo de talher à cordialidade do serviço), o anseio constante pela perfeição, o amor do chef e de todo o staff pelos seus trabalhos, a eterna busca do aprimoramento, o prazer em fazer os clientes ficarem- a cada visita- agradavelmente surpresos. Por tudo isso, o Piselli é meu italiano preferido nesta cidade semi-italiana.
PS: uma refeição como essa sai, em média, R$ 200 por pessoa. E, creia, vale cada real.
Piselli: Rua Padre João Manoel, 1253 – 3081-6043
Ailin Aleixo é fã de |
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