A cozinha do Rothko não tem uma definição estabelecida: pode ser brasileira com influências multiculturais, contemporânea ou criativa/autoral. Seja lá qual for a “seção” correta para encaixar o novo restaurante da Vila Madalena, ele está, decerto, na minha lista “voltarei mais vezes”.
O chef Diego Belda (também artista plástico, por isso a casa tem o nome de um dos seus pintores favoritos) esteve à frente, como proprietário e chef, do finado CB Bar, na Barra Funda, mas resolveu fechá-lo depois de passar um ano estagiando em cozinhas na Europa e perceber que seu negócio era mesmo entre panelas.
O Rothko é pequeno, 40 lugares, tem decoração clean e agradável, luz baixa, ótima trilha sonora que mistura jazz e rock (em volume ideal, que dá para conversar sem gritar), um bonito bar e um menu criativo com resultados bastante bons.
Comecei com uma das costelinhas suínas mais interessantes que provei ultimamente: Porco Bebinho (R$ 13). Trata-se de dois pedaços maciíssimos de carne marinadas e glaceadas em caipirinha, finalizada com um toque de mel de laranjeira e acompanhada por banana da terra refogada. Alcoól surpreendentemente intenso e aromático, que não rouba nenhum dos outros sabores e ainda fica perfeito com o toque adstringente.
Depois, um dos miúdos que mais gosto, feito de uma das maneiras mais simples e deliciosas que já comi: língua (R$ 12). No Rothko, ela é cozida até ficar bem macia e, então, finaliza na grelha, onde adquire uma ligeira crocância. Para acompanhar, um delicado molho de tomate à temperatura ambiente.
Vários pratos principais me deixaram interessada (todos podem ser pedidos em versão reduzida, como entrada) mas estava meio viciadona em costela, entonces fui de Costela de boi confit, desfiada, com canjiquinha, ovo perfeito (cozido a 65ºC por cerca de duas horas;, a gema continua líquida e clara, firme e delicada) e raspas de queijo Serra da Canastra (R$ 40). Carne bem temperada e tenra, canjiquinha suculenta regada com o molho reduzido da carne e uma pequena montanha de canastra ralado na hora, que derretia e ia se misturando ao caldo da canjiquinha… Bom. O único deslize foi a clara do ovo perfeito, mole demais, esparramava pelo prato e invadia tudo.
Porco na Lula, Lula no Porco (R$ 38): estufar uma lulona com pancetta artesanal fresquíssima soa estranho pra muita gente. Ainda mais se o prato vier acompanhado de torresminho, tentáculos de polvo empanados e fritos, mandioca crocante e molho frio de tomate. Mas tudo funciona em harmonia: pela pancetta ter pouco sal, é possível sentir o sabor da lula e da carne de porco; a crocância dos acompanhamentos fazem o contraponto para a textura mole e macia da lula; e o tomate picadinho dá umidade ao prato. Simples, gostoso e bem executado.
Para terminar, sobremesa feita por Diana Benevides, a responsável pelos doces da casa: Pamonha bruleé com compota de frutas vermelhas, sorvete de iorgurte com limão e castanhas-de-cajú glaceadas (R$ 12). Pode parecer ingredientes demais, mas a intensidade do milho combinou perfeitamente com a acidez das frutas e o gelado do sorvete. Original, ousada e ótima.
Foi uma refeição ótima em uma semana de péssimas refeições. Tenho que voltar logo no Rothko para provar a cozinha de massa de mandioca recheada com confit de pato, lichias e pimenta biquinho, ao molho de mexerica (R$ 12).
Rothko: Rua Wisard, 88, Vila Madalena., tel.: (11)3032 4295
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