O Grupo Fasano ganhou dezenas de prêmios por sua cozinha durante os 13 anos em que o chef Salvatore Loi esteve à frente da gastronomia das casas – não por menos, pois sempre foi competentíssimo. Mas ali, basicamente reproduzia receitas clássicas, anos após ano, sem liberdade para sair do “Carbonara- à la Norma”. Quando ingressou no Grupo Egeu, comandando a cozinha do finado Girarrosto, tinha toda a estrutura de que precisaria para criar, a promessa de tal, mas não a liberdade. De novo. O mesmo aconteceu no Loi Ristorantino (hoje, Ristorantino): seu nome estava ali, mas sua vontade de inovar era abafada pela necessidade comercial de agradar os mesmos clientes de sempre, com os mesmos pratos clássicos de sempre.
O que se vê hoje em seu novo empreendimento – Salvatore Loi -, é o chef em seu melhor. Menu criativo, delicado, ousado e que revê algumas receitas tradicionais com maestria. O comensal não encontrará espaguete cacio e pepe ou nhoque ao pesto: ainda bem, por que São Paulo parece parada no tempo quando se trata de cozinha italiana. Loi finalmente está livre.
O salão é elegante, old school (belas toalhas, copos de cristal, serviço atencioso) e o cardápio é amplo (46 pratos), até com certo sobrepeso. Compreensível, visto que seu ímpeto criativo ficou preso por tanto tempo. A tendência é o que o passar dos meses vá equalizando, e enxugando, o menu dividido em Antipasti, Le Paste, Le Paste Sarde, I Risotti, I Pesci e Le Carni (e sobremesas, claro).
Entre as belíssimas releituras está a pequena torta de Berinjela à parmegiana, exclusiva do menu executivo, que vale cada um dos oitenta e sete reais. As finíssimas fatias do vegetal são assadas ao ponto da crocância e envelopam mais camadas dela, entremeadas por mozzarella e molho de tomate.
No executivo pode-se encontrar também carpaccio de filé mignon com couscous e verduras, o imperdível nhoque de batata com cogumelos e demi glace de vitela, costela suína com espinafre e purê de maçã, abacaxi caramelizado com creme de mascarpone, sorvete de pistache com creme de chocolate.
A maestria de Loi já se evidencia nas entradas: ele possui domínio de ingredientes e técnicas como poucos. As pequenas lulas brancas vem perfeitamente fritas, pinceladas de adocicada geleia de cebola roxa e acompanhadas por tutano – aplainado como bife fino – crocante (R$ 52). Lindo.
Sua versão de pasta e fagiole também tem resultado brilhante: creme espesso de feijão rosa, massa fresca curta artesanal e tenros pedaços de polvo (R$ 49). Suave, a polenta taragna (rústica, com adição de trigo sarraceno) leva boa dose de queijo taleggio e salame fresco da casa, de textura cremosa (R$ 55). Pela cozinha aberta para o salão, é repousante admirar o trabalho calmo e centrado de Loi no preparo dos pratos…
Entre as pastas, uma das mais autorais e ousadas é o ravióli sem ovos recheado com creme brulê de grana padano, pancetta e pão fresco (R$ 70). Há também Maccheroni ao molho de quatro tomates, purê de azeitonas italianas e alcaparras fritas (R$ 75), Pappardele recheado com ossobuco ao molho de gremolata (R$ 73) e Lasanha com ragu de vitela, trufas negras e fonduta de grana padano (R$ 75).
A seção de risotos traz seis versões, muitas sem manteiga, com cozimento e equilíbrios notáveis. O Rossini leva arroz italiano preparado com prosecco, finas fatias de língua de vitela ao balsâmico envelhecido e quenelle de cremoso foie gras (R$ 75). Mais cremoso, o Risolio é mantecato com Grana Padano e complementado por limão siciliano confitado e ovas de salmão (R$ 76).
O prato mais emblemático desta nova fase de Loi é, possivelmente, um dos mais interessantes do menu. O que não é pouco. Nele, uma “porchetta” é preparada com javali, recheada com cogumelos e ervas, ladeada por crocantes de trigo sarraceno e acompanhada por nhoques de catalônia ao molho de tamarindo (R$ 89). Tudo está ali: a untuosidade da gordura da carne, o amargor leve da verdura, a maciez da massa, a potência do tamarindo. Bela composição.
Para terminar, vá de famoso Pudim de pistache – que, agora, vem com creme de cumaru (R$ 35) – e mergulhe em um dos melhores Tiramisù que já provei (R$ 35).
No novo Salvatore Loi a alegria de comer bem é relembrada em cada garfada, do começo ao fim da refeição.
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