Faz tempo que deixei de achar graça no Capim Santo: o lugar é agradabilíssimo, é certo, mas a comida não me empolga. Correta, mas cara demais para o que oferece e sem aquele “Meu Deus, preciso voltar para devorar aquele prato ali da mesa ao lado”. Conheço bastante gente que vai ao Capim Santo muito mais pelo ambiente (grande, com árvores e verde, ótimo pra criançada sair correndo) do que pela comida em si. E eis que, a menos de quinze dias, a chef Morena Leite abriu uma espécie de “Capim Santo de concreto” dentro do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, batizado de Santinho.
No lugar da área verde entrou a arquitetura modernosa de Ruy Ohtake (este prédio, em específico, acho abominavelmente feio, um Frankenstein colorido que parece uma alegoria de escola de samba de proporções homéricas), grandes espaços livres e pé direito altíssimo: vou dizer que é bem gostoso, fresco e calmo, além de ter aquela aura “longe do tumulto” mesmo estando bem no centro dele, numa das áreas mais movimentadas de Pinheiros-quase-Faria-Lima. No lugar do à la carte, bufê. A pegada, a mesma: comida brasileira contemporânea. Deu certo. No meio do feriado do aniversário de São Paulo, o salão estava praticamente lotado.
O balcão do bufê é bonito, colorido e organizado. Já no começo dele, as verduras fresquíssimas, boa variedade de legumes em diversas preparações e queijos dão uma fome danada: o tabule de quinua, levíssimo, e o delicado frango desfiado com iogurte e maçã verde caíram muitíssimo bem naquela terça-feira de calor do verão senegalês.
Logo após está a estação de arrozes (no dia do meu almoço tinha arroz marroquino, um bem preparadíssimo arroz negro meloso com tomate e espinafre, arroz integral e branco), a de grãos (feijão preto, lentilha, grão-de-bico, entre outros), vários tipos de proteínas (bom mignon com crosta de ervas, espeto de salmão com abobrinha, confit de pato, espécie de crumble salgado de frango bem úmido e gostoso, carne seca acebolada, camarão em creme de tapioca) e sobremesas.
Pratos bem preparados e temperados, nada ressecados (apesar do mignon estar menos vermelho do que gosto e o salmão muito cozido, mas bufê tem desses problemas), nitidamente frescos e com ingredientes de qualidade. Coisa rara em bufê, levantei da cadeira vezes para provar “só mais um prato” e, olha, gostei bem da maioria deles. Para acompanhar, um suco de limão e couve (R$ 5,80) e outro de abacaxi com capim santo (R$ 6,20).
As sobremesas são focadas no tradicional: queijo branco com doces (brigadeiro, brigadeiro de capim santo, goiabada cremosa, doce de banana: bons, mas pecam pelo excesso excesso excesso de açúcar), delicadíssima e ótima salada de frutas (taí uma coisa que acho sem graça… mas essa é primorosa, com pequenos pedaços de frutas maduríssimas e sem aquele suco de laranja medonho que a maioria dos lugares insiste em enfiar nela). Para terminar, um ótimo expresso do Octávio Café, acompanhado por mini-porções de brigadeiro tradicional, de capim santo e cocadinha mole.
O cardápio varia todos os dias, o que é ótimo, e a casa só abre para almoço. De terça à sexta, o valor do bufê fica em R$ 38,50; sábados, R$ 53; domingos e feriados, R$ 58,50– sim, não é barato mas, hoje em dia, principalmente em São Paulo, o que é? Pelo menos lá é certo que você comerá bem e voltará o mais feliz possível para o escritório.
Santinho: R. dos Coropés, 88, Alto de Pinheiros, tel.: (11) 3034-4673, São Paulo
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