Serafina: filial de italiano de Nova York abre nos Jardins

Domingo, 20h30. O salão do Serafina— luz baixa, agradável, decorado no estilo sou-moderno-mas-também-rústico-chique–  estava completamente lotado. Tá, tinha vaga uma mesa de dois lugares, na qual sentei. Mas para um restaurante aberto há menos de 15 dias, é um fenômeno.

Ao meu lado, dezenas de rostinhos conhecidos das colunas sociais e de sites que vivem e prosperam por mostrar a vida leve, doce e borbulhante da alta (ou que quer aparentar ser) sociedade. Misturados a eles,  gringos conversavam em tom acima da média convencional em restaurantes paulistanos, confortáveis e relaxados como se estivessem na sala de estar de suas casas, o que não deixa de ser verdade, já que o Serafina existe em oito endereços repleto de endinheirados em Nova York e arredores. São Paulo é sua primeira filial fora dos EUA.

Enquanto esperava minha Focaccia Serafina (feita com queijo robiola e rúcula, R$ 35), pensava na razão que faz casas como esta e  P.J. Clarke’s escolherem São Paulo como sua morada fora de seus locais de origem– descontando o fato óbvio de São Paulo ser um mercado em expansão porque, até aí, Hong Kong também é… A focaccia chegou. De massa fina pra média e textura bem crocante, trazia fartos quatro pedaços com recheio fresco, ingredientes de qualidade. Para acompanhar, azeite siciliano suave. Minha linha de raciocínio foi cortada mas, no final do jantar, teria a resposta que procurava.

Não tive muita dúvida para escolher meu prato principal: fui no que a casa diz ser um dos seus carros-chefes, o Tris de Sofia, composto por ravióli de ricota e espinafre salteado na manteiga e sálvia, nhoque ao pesto e paglia e feno com molho de tomate e creme de leite (R$ 38).  O menu, repleto de opções de salada (garotas ricas não gostam de engordar nem quando saem para jantar), algumas de peixes e  carnes e muitas massas artesanais, satisfaz uma ampla gama de gostos. Algumas coisas que me chamaram a atenção: Ravioli com lagosta e bisque (R$ 39) e tilápia ao Pinot Grigio. Meu acompanhante optou pelo rigatoni à bolonhesa (R$ 28). Enquanto esperávamos, os garçons atenciosos jamais perdiam de vista o nível de bebida de nossos copos e corriam para enchê-los.

Meu Tris de Sofia desapontou. O paglia e feno estava completamente sem sabor; o nhoque, com pesto amargo demais (vem com pedacinhos de vagem e batata); o melhor foi o delicado ravióli com sálvia. Melhor estava a versão menos calórica (sem a presença de tanta pancetta) do rigatoni à bolonhesa: massa perfeitamente al dente, apesar de carecer de uma quantidade maior de molho. Bom, talvez as sobremesas justificassem a animação dos paulistanos com a chegada do Serafina a cidade.

Torta de chocolate com calda de nutella e sorvete de laranja por R$ 23? Tiramisù por R$ 25? Bom, aquilo me assustou um pouco: odeio quando sinto que sou lesada no preço do vallet, dos vinhos ou das sobremesas. Mas fui experimentar o tiramisú descrito no cardápio como “igual ao da sua avó. Talvez melhor”. Melhor que o da minha avó pode até ser– ela nunca teve mão pra tiramisù– mas não o melhor que já comi no Brasil (e pelo preço teria que ser!). Bom, pedaço até farto, com gostinho de café no ponto certo, mas pouquíssimo sabor de Marsala e inteiro da mesma consistência, sem o que mais gosto nesta sobremesa: a textura ligeiramente mais firme da savoiardi.

Depois que paguei a conta e observei a fila de espera que se alongava até a rua, saquei porque São Paulo é o primeiro destino de várias redes internacionais: paulistanos são loucos por um produto gringo, seja ele um batom, um tênis ou prato de macarrão. E pagam por eles o valor que o “hype” impõe. Sem reclamar. E com sorrisos.

Serafina: Al. Lorena, 1.705, Jardins, Tel. (11). 3081 3702

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