Lado chato – porém natural – da minha profissão é me tornar cada vez mais exigente. A medida que nossas referências se ampliam, vai ficando complicado achar um restaurante realmente bom, daqueles que dá ganas de voltar para provar o menu todo. Às vezes o ambiente é bacana mas a comida carece de tempero; em outras, o talento do cozinheiro é inversamente proporcional à petulância. O serviço é simpático mas os preços são abusivos. As sobremesas são boas mas os drinques, ruins. As variáveis são quase inesgotáveis.
Então, quando encontro um restaurante que desencadeie a tal vontade de retornar para devorar o cardápio todo, fico grata: é delicioso reviver a sensação de ter prazer verdadeiro numa refeição. Quando encontro estabelecimentos assim, torço para que se mantenham desta forma por muito tempo. E foi isso que senti no novo Teus, no Baixo Pinheiros.
Comida boa de verdade não tem nada a ver com insumos considerados ‘nobres’ e é bom deixar isso claro.
Comida boa de verdade tem ingredientes de qualidade, equilíbrio, sensibilidade, técnica. Pode ser coxinha, arroz de forno, pão, pasta ao sugo. O trivial bem feito geralmente é o que mais me emociona, caso do Porco no Pão, sanduíche montado com tenra paleta de porco assada, abacate que traz nuance adocicada e cremosa, cebola roxa e coentro (R$ 29). Para acompanhar, fritas fininhas, no estilo francês, crocantes. Por que bons cozinheiros sabem que um sanduíche não é ‘apenas’ um sanduíche, como sabem que comida não é ‘só’ comida: quem trata com desdém o seu ofício jamais será mais do que mediano mesmo trabalhando com trufas e foie gras.
O Teus tem cozinha comandada pelo chef Francisco Farah, ex-Eñe e Bistrô Charlô. A técnica e o apuro adquiridos com sua experiência ficam evidentes nas coisas mais simples: a fritura perfeita do Pastel de escarola com ovo caipira (R$ 16, 4 unidades), a deliciosa maionese artesanal que banha os ovos caipiras cozidos (R$ 11) e o excelente pão de fermentação natural feito na casa, que dá de dez no de muitas padarias artesanais, por exemplo.
O cardápio é pequeno, bem resolvido, recheado de opções reconfortantes e a preços bem interessantes (algo bem racional em épocas de dinheiro curto). Ao mesmo tempo, é evidente o cuidado com a qualidade e origem dos ingredientes, caso dos ovos e frango caipiras (se você não sabe por que acho isso importante, clique AQUI). Milagre? Não, bom relacionamento com fornecedores e consciência de que paleta pode ser muito mais bacana do que filé mignon; que salmão pode e deve ser trocado pelo peixe do dia…
Prove o ótimo arroz de lulas ao forno, preparado com arroz bomba espanhol e tomate (R$ 44), o suculento Frango caipira braseado, polenta rústica e quiabo (R$ 44) e o saboroso TeusBurger (hambúrguer de fraldinha de Angus, queijo Mogiana, picles de pepino, cebola e maionese de salsinha acompanhado por fritas ou salada, R$ 29).
Os drinques ali são corretos e não salgam a conta: quase todos saem a R$ 25, incluindo os clássicos como Negroni, Gin tônica, bloody mary, Cosmopolitan, etc. Gostei bastante da refrescância do Do verde, que leva gin com infusão de salsinha, manjericão, pepino, suco de limão e bitter de salsão (R$ 25).
Sobremesas são poucas e muito, muito bem feitas. O Choux recheado com creme de confeiteiro é indecente de tão gostoso (R$ 12): creme geladinho, massa macia e fina, doçura ideal. A Torta de chocolate de recheio morno e cremoso, servida com sorvete artesanal de caramelo (R$ 20) me levou imediatamente ao Eñe: lá, era minha sobremesa favorita.
Durante a semana, o menu executivo custa R$ 42 e inclui prato do dia, pão da casa, manteiga, sorvete e água filtrada. Na terça rola peixe do dia com molho de mexilhões; quarta, kafta de cordeiro com coalhada e cuscuz; quinta, frango à milanesa com salada de batata; sexta, bife com alho, ovo frito, fritas e pão.
Desejo longa vida – com a mesma qualidade de hoje – ao Teus. Certamente vai entrar na lista dos meus restaurantes queridos ao lado do Petí, do Tuju, da Enoteca Saint VinSaint, do Micaela, do Miya…
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