“Café é café, oras”. A afirmação (bem comum) faz tanto sentido quanto dizer que “uva é uva”— não é necessário ser um connoisseur para saber que o sabor de uma Merlot, de uma Shiraz e de uma Gamay, por exemplo, são completamente diferentes entre si, e por uma razão básica: são de variedades distintas. Com o café acontece o mesmo– só no Brasil, existem dezenas de variedades do grão (catuaí, catucaí, icatu amarelo, acaiá mundo novo, caturra, Bourbon vermelho e amarelo…), e cada uma delas— ou o blend, a mistura entre elas– resulta em uma bebida única. Assim como os vinhos, há os cafés mais populares de sabor amargo, os medianos sem personalidade, e os excepcionais, produzidos com total apuro, em uma pequena área delimitada e cultivados sob regras rígidas— estes “Barolos” do café são chamados de microlotes.
A barista Isabela Raposeiras, proprietária do Coffee Lab, misto de cafeteria e centro de pesquisa e torrefação que acaba de reabrir maior e em novo endereço, é uma das grandes responsáveis por pesquisar, popularizar, incentivar o aumento da produção e do consumo de cafés gourmets, inclusive dos microlotes. “Microlotes são talhões (fileiras da plantação) nos quais o produtor identifica potencial especial, derivado da conjunção de diversos fatores: latitude, longitude, quantidade de chuva, de sombra…”, diz Caio Alonso Fontes, publisher da única revista dedicada ao assunto no país, a Espresso, e sócio da Café Store, primeira loja online do setor.
Mas voltemos ao Coffee Lab: agora numa deliciosa e aromática casa térrea na Vila Madalena, é o melhor lugar do país para você tomar o melhor café da sua vida (além de aprender MUITO sobre a bebida com a bela e simpática Isabela). Experimente apenas uma xícara e você notará na hora como o que costumamos tomar não passa de uma água marrom com gosto de galho… Vai perceber também que só se põe açúcar em café ruim, para mascarar o amargor que não existe nos de qualidade.
A carta oferece uma ótima variedade grãos (espresso, R$ 4; aeropress, R$ 5; pingado, R$ 5), além de ter algo muito muito muito bacana: os rituais. Cada um dos 5 rituais tem como intuito mostrar a diferença de notas, texturas e possibilidades da bebida. O 1, por exemplo, serve para você notar como o MESMO café muda suas caracterísicas só por conta do tamanho da xícara (R$ 7); o 3, para sacar as diferenças que o MESMO café tem por conta da maneira que foi tirado (um é espresso, outro aeropress; R$ 7); o 5, harmoniza a bebida com Grana Padano (R$ 7).
Caso você, como eu, ame um café gelado, peça aquele que é meu vício completo e absoluto: Frapê de Cappuccino. A maravilha se trata de um espresso batido com muito gelo e que, em vez de sorvete, leva ameixa seca como emulsificante natural! Fica absolutamente cremoso, doce no ponto e super mega light (R$ 7). Outro que mostra bem a versatilidade da bebida é o Shakeratto, café gelado misturado com água com gás que se torna uma bebida levíssima e frisante (R$ 7). E não saia de lá sem comer: as opção são poucas, mas todas muitíssimos bem feitas como o Tostex de Brioche orgânico com queijo minas (R$ 9), o ótimo biscoito de polvilho com cream cheese (R$ 5), o brigadeiro de café (R$ 4) e o bolo caseiro fofinho (no dia, de limão; R$ 4).
Além da qualidade de tudo, e de oferecer água filtrada gratuitamente (prática que poderia se multiplicar!), o Coffee Lab possui uma área externa perfeita para passar algumas horas lendo, trabalhando no notebook e se enchendo de cafeína boa sob a sombra da grande árvore de carambola. Ah, sim: na saída, não deixe de observar a equipe trabalhando na lindíssima e moderna máquina de torra de alta precisão, única no país, e de comprar alguns dos microlotes desenvolvidos pela barista.
Coffee Lab: Rua Fradique Coutinho, 1340, Vila Madalena, Tel.: 3375-7400. De seg/sáb, 9h/19h
AEROPRESS: NEM COADO, NEM ESPRESSO, MAS COM O MELHOR DOS DOIS
Criada em 2005 por Alan Adler, um inventor de brinquedos na Califórnia (EUA), a Aeropress é uma espécie de seringa que extrai, em 10 segundos, o sabor do café moído através da pressão criada entre o pó e o pequeno filtro descartável. “Para mim, é o melhor método de extração”, diz a barista Isabela Raposeiras, a responsável pela importação da Aeropress no Brasil. “Deixa o líquido final livre de qualquer resíduo, com o corpo do café coado e a complexidade de aromas e sabores do expresso”. Isso ocorre pois o aparelho quebra sólidos que só a pressurização permite, ao mesmo tempo que mantém intactos os óleos essenciais do grão.
Preço: R$ 135. À venda somente no Coffee Lab
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