Os preços dos restaurantes portugueses em São Paulo torna-os quase “infrequentáveis”. No Bela Sintra ou no Antiquarius, por exemplo, para comer uma posta de bacalhau escoltada por algo como batatas ou brócolis, não se deixa menos de R$ 120 por pessoa. Se você quiser uma entrada, a conta do casal sobre para uns R$ 320– isso sem incluir nem água. Será possível fazer boa comida portuguesa a preços, senão baratos, menos espantosos? A nova Tasca do Zé e da Maria é prova que dá sim.
A equação começa pelo ambiente em ostentação porém bonito e bem agradável na sua simplicidade: cadeiras de madeira azuis, papel de parede clássico/contemporâneo, iluminação bem feita (se bem que à noite é escurinho demais). O segundo item é a alma empreendedora dos sócios, que nunca tiveram dinheiro sobrando, mas sempre sobrou sonho e vontade de abrir um negócio próprio– três dos quatro sócios trabalharam antes em restaurantes de alta gastronomia como no A Bela Sintra, La Brasserie Erick Jacquin e Antiquarius. O terceiro, e talvez mais importante, é o desejo de servir comida portuguesa de alto padrão– a cozinha é comandada pela chef Anna Ramalho, de 29 anos– e orgulhar-se ao ouvir seus clientes das outras casas proferirem, no final da refeição: “Esse bacalhau está melhor que o do Antiquarius!”. E, vou dizer, o meu estava mesmo.
Antes de me tacarem pedra: a Tasca não é baratinha. Você não janta aqui com o preço de um temaki. A Tasca tem um custo-benefício MUITO melhor que seus pares de estilo de comida. Uma vez entendido isso, vamos ao que interessa.
O menu é enxuto e traz clássicos de Portugal. O couvert (R$ 12) vale pelos primorosos mini-bolinhos de bacalhau e croquetes de carne, ambos de fritura perfeita e repostos várias vezes. Há também pães, queijo fresco e manteiga. Provei o Queijo Serra da Estrela e…. gizuis, como é bom. Cremosíssimo, Pungente, com aquele final levemente amargo– meio custa R$ 50 e inteiro, claro, R$ 100.
De entrada, escolhi o polvo gordo, macio e com aquela casquinha crocante e ligeiramente queimada dada pela grelha— como gosto desse sabor– acompanhado de pupunha (R$ 32). Entre os principais, quase pedi o Bacalhau à lagareiro (empanado, com cebolas caramelizadas, batatas, brócolis e azeitonas verdes , R$ 80) mas demorava 30 minutos para ser preparado e estava com fome. Então fui de Bacalhau à Braz (desfiado, com batata palha feita na casa, ovos e azeitonas pretas, R$ 49).
Meu namorado oscilou entre oArroz de frutos do mar (R$ 79) que passou pelo salão para ser servido na mesa ao lado– pratão lindo, grande, aromático, repleto de gordos camarões e lulas e mariscos– mas rendeu-se a um de seus pratos prediletos, o Arroz de pato (R$ 52).
Ó, o melhor bacalhau à braz que comi. Mesmo. A porção generosíssima trazia sal no ponto certíssimo, a batata palha (feita na casa) tinha a parte externa crocantinha e o exterior macio, as azeitonas foram colocas sem excesso e o bacalhau… macio e mega bem temperado. E o arroz de pato? Preparado com arroz português Carolino, bem gordinho, estava um desbunde. A carne é cozida por cerca de 10 horas em vinho tinto com temperos, o que resulta numa textura de desmanchar no garfo e num sabor de me fazer salivar até agora, 12 horas depois de provar. Sensacional.
Para finalizar beeeeeeem light, pedação de ótimo Toucinho do Céu (torta de ovos, açúcar e amêndoas, R$ 12) e siricaia com sorvete de pistache da Vipiteno (R$ 20).
Tasca do Zé e da Maria: R. dos Pinheiros, 434, Pinheiros, tel.: 3062-5722
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