A Rua Padre João Manoel, nos Jardins, certamente não tem o charme ou a paisagem deslumbrante da Riviera Francesa, mas tem a mesma quantidade de gente endinheirada circulando- provavelmente foi essa a razão da escolha do endereço para a abertura da primeira filial da Brasserie des Arts, cuja matriz fica em St-Tropez.
Bem ao lado do Piselli, a Brasserie é daqueles bares recheados de loiras lindas, morenas arrasadoras, modelos/socialites, moços de camiseta pólo e gel no cabelo ligeiramente comprido, senhores de meia idade com Ferraris estacionadas na porta. Entre os sete sócios, Rico Mansur e Luigi Cardoso Alves, do Brown Sugar, na mesma rua.
Se você não curte tanto este tipo de ambiente, vá pelos drinques, certamente entre os melhores de São Paulo. O responsável pelo bar é o talentoso Marcelo Serrano, ex-MYNY, que montou sua carta com uma boa mistura de clássicos- Negroni (R$ 23), Pisco sour (R$ 23), Manhattan (R$ 23)- com excelentes criações. Entre os melhores, o Organic é uma equilibrada, seca e aromática composição de gin Hendricks com infusão de pepino e rosas, semente de zimbro, vinagre orgânico de maçã, limão, açúcar demerara orgânico (R$ 27), tipo de bebida que poderia passar a noite toda tomando, com o maior prazer.
Quem prefere notas mais adocicadas porém não gosta de bebidas doces (vulgo “de menina”) vai curtir bem o Lafayette, feito com Gin Hendricks, chá de camomila doce, néctar de gengibre, Chartreuse, aromatizado com água de flor de laranjeira (R$ 27). Para as garotas recomendo o jardim líquido – incrível como é floral, sem ser enjoativo-, Red Pepper Martini, que leva Grey Goose L’Orange, infusão de maracujá fresco, pimentão vermelho, suco de cranberry e bitter de ameixa (R$ 25). Todos tem as marcas da moderna coquetelaria internacional: destilados de alta qualidade, ingredientes frescos, infusões artesanais. O resultado são coquetéis vigorosos, brilhantes, limpos.
O menu de comida não é amplo, mas oferece uma gama razoável de opções, executadas pelo chef francês Xavier Torrentes. Entre as entradas, bem bom o Carpaccio de filé mignon rústico (R$ 34)- praticamente um pastrami-, acompanhado de lascas de Grana Padano e de trufas negras em conserva, não descritas no cardápio. Medíocre o Hot dog BA com brie (R$ 21), que não passa de um cachorro-quente de festinha infantil, com pão frio e sem graça e queijo gelado e duro. Fiquei de olho na bela Burrata caprese (R$ 24) do meu vizinho, mas preferi poupar apetite para o prato principal.
De principal, fui de bem feito Steak au poivre – alto, com exterior levemente crocante dado pelo fogo e interior completamente rosado/meio cru e mega macio – com purê de batatas trufado, excessivo na manteiga, o que o emplastrou e pesou (R$ 56). Aliás, um à parte: o menu abunda em “trufados”, o que se torna enjoativo pacas, principalmente pelo fato das trufas não serem frescas… Pasteuriza o sabor de pratos originalmente bem distintos. A outra escolha foi Risoto trufado ao mascarpone (R$ 59)- olha o trufado aí de novo!-, de execução e cozimentos corretos porém sem personalidade. Há também Nhoque com molho de tomate fresco (R$ 36) e Atum em crosta de gergelim com purê de batata ao gengibre (R$ 49)
Para acompanhar a Torta de maçã com sorvete de canela (R$ 16) – com a fruta preparada a maneira da Tarte Tatin e corretamente amanteigada-, quis provar o interessantíssimo Manauara (vodca Stolichnaya, cupuaçu, Frangelico, limoncello, bitter de chocolate e espuma de jambu, R$ 23), mas devido a falta de jambu fiquei só na vontade. Troquei pelo Brasil Connection (Cachaça, chá de pêssego, limão siciliano, capim santo, aromatizados com grapefuit maçaricado, R$ 27), refrescante, mas nem de longe meu favorito.
Apesar de não ser meu tipo de bar – não tenho nenhum par de Louboutin e não peso menos de 55 quilos-, voltarei quantas vezes forem necessárias para provar todas as criações de Marcelo. Vale a pena.
Brasserie des Arts: Rua Padre João Manuel, 1231, Jardim Paulista, tel.: (11) 3061 3326 ou (11) 3061 3556
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