Atualização 10/2013: os queijos mineiros de leite já podem ser comercializados fora do estado. Leia mais AQUI
A maioria dos brasileiros não tem ideia de que produzimos queijos bons. Ótimos, aliás. Nossas prateleiras e geladeiras estão cheias de parmesão, brie, gorgonzola, emmenthal, cheddar – um estrangeiro que der uma passada em nossos mercados, terá certeza que só fazemos Catupiry, Queijo Minas Padrão e Requeijão. Ponto final. Mas o negócio não é bem assim.
Araxá, Campo Redondo, Serra da Canastra, Serro, Serrano, Salitre: já ouviu falar de algum? Já comeu algum? Se você morar em Minas Gerais talvez, porque é a terra da maioria e o único estado no qual a venda é permitida. Se morar em outro estado do país, como eu, você é proibido de provar essas delícias 100% nacionais por conta de uma lei de 1952, que trata como contravenção a comercialização de queijos de leite cru (ou não pasteurizado), caso de todos eles. Queijos de leite cru tendem a ter sabores mais complexos, curar de maneira mais rica. São melhores, enfim (ah, e vendemos produtos nas mesmas condições, provenientes de outros países, tá? Só pra você saber). Por outro lado, em 1998, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), declarou o processo de produção de queijo mineiro artesanal Patrimônio Histórico Imaterial Brasileiro. Ou seja: oficialmente é parte da nossa cultura a ser protegida, mas é proibido.Ê, Brasil.
Um ótimo panorama sobre o assunto foi dado no longa O Mineiro e o Queijo, lançado ano passado.
“Todos esses queijos passam por fiscalização estadual, bem rígida. Ou seja: é bom para o mineiro mas não pro resto dos brasileiros?”, pergunta Bruno Cabral, pesquisador, chef e criador do site de e-commerce Mestre Queijeiro.”A União Europeia entrou num consenso e percebeu que a tradição, a cultura, é muito maior e mais importante que o produto em si”, finaliza. Sim, gastronomia é tão parte da cultura de um país, de uma região, como teatro, cinema, tv, literatura. E deve ser tratada com o mesmo respeito. Não dá pra vivermos em 2012 com regras, e realidade, de 1952.
Só para marcar bem o absurdo extremado desta lei, ela também não permite a fabricação de doces de frutas em tachos de cobre (goiabadas, figadas, etc), por considerar o metal danoso ao organismo. Alguém fez um estudo científico para averiguar quantas toneladas de doce alguém precisa comer para ter (talvez!) algum tipo de sintoma ou efeito colateral? Não que eu saiba…
Percebendo o absurdo jurídico/cultural/gastronômico, muitos chefs incluiram os queijos no menu (especialmente o Canastra, o mais famoso), para incentivar o consumo e divulgar o produto – mesmo correndo o risco de levarem multas e, até, terem seu estabelecimento fechado.
Fernando Oliveira, da Alimento Sustentável, viaja o país atrás de pessoas que fabriquem bons queijos, com alma. “Agora vou começar a trabalhar com um queijo de Serra da Conquista, feito na região de Caxambu, agridoce e salgado. O cara começou o laticínio em 1938. Para ter aceitação, batizou de parmesão. Porque essa síndrome de vira-lata? Temos que fortalecer as produções locais, os pequenos produtores, e ensinar o brasileiro a valorizar nossos bons produtos”, diz Fernando.
Onde provar Alimento Sustentável e MESTRE QUEIJEIRO. Oferecem Serra da Canastra (R$ 45, quilo), Araxá (R$ 45, quilo), D’Alagoa (R$ 35, quilo), entre outros. Preços não incluem frete.
Comente
Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados