O deslumbrante Salar do Atacama. Centenas de flamingos se alimentam de microcrustáceos ancestrais que nascem e se reproduzem apenas neste bioma extremo – o salar do Atacama tem cerca de 3mil quilômetros quadrados e 1450 de profundidade. A água acumulada nesse ponto do deserto é decorrente da água da chuva que cai nos Andes e vai para o subsolo. A cor rosada do flamingo vem da concentração de betacaroteno desse microcrustáceo.
Vista do Hotel Alto Atacama: misturado à paisagem de San Pedro de Atacama
O tempo ali é largo, antigo, medido em milhões de anos.
Para onde se olha vê-se algo arrebatador, intocado, magnífico.
A ausência de umidade é tão constante quanto a presença de uma estranha sensação de conforto por pertencer a um universo tão mais velho, complexo e majestoso do que nossa mente cotidiana compreende.
Por do Sol no Vale da Morte (também conhecido como Vale de Marte) preparado por nosso guia do Hotel Alto Atacama: queijos, jamón, frutas, vinhos e cervejas: nasci pra isso
Em Machuca, povoado no caminho de volta dos geysers: empanadas artesanais vendidas em um povoado de 5 pessoas perto dos géiseres – é exatamente o fluxo de turistas que os mantém ali.
O recheio é de queijo de cabra produzido por duas irmãs (que moram em casas mega rústicas construídas com blocos de argila, abundante na região) que mantém a criação de 10 cabrinhas especialmente para isso, sua fonte de sustento. As bichinhas comem apenas vegetação nativa desta área, um oásis no Atacama. Fritas no azeite de oliva extra virgem (pois é, fritas!), essas empanadas tem massa crocante e leve – dá pra comer de baciada!
Dunas, montanhas e a insignificância das pessoas no Vale da Lua, no Atacama
O Atacama me arrebatou.
Não só por ser complexo bem além da palavra deserto – é o local mais seco do planeta e, concomitante a isso, repleto de vida, de paisagens diversas, de cores.
Me tocou não apenas por seu tamanho descomunal – domina 105 mil km quadrados – e imponência.
Não somente por ter o céu mais limpo e estrelado do planeta.
O deserto do Atacama me tocou por ter a habilidade de nos fazer sentir ínfimos, comicamente passageiros e parte de algo tão maior que nós mesmos: a evolução.
Mais deslumbramento: Vale da Lua. No meio, o vulcão Likankabur. Ao fundo, altiplano.
Em Machuca, caminho de volta dos geysers del tatio: vicunhas em seu habitat natural. Coisa linda!
Como essas parentes da lhama e do guanaco comem um tipo de arbusto que só nasce entre 3500 e 4500 metros de altitude, bem, é só nessa altitude que elas são avistadas. E hoje tive a sorte de topar com vários pequenos grupos delas. Hoje preservadas, quase entraram em extinção pela caça descontrolada que visa a retirada de seu pelo, com valor de mercado altíssimo. Mas ainda há caçadores ilegais que as matam (esfolam, na verdade) para atender aos delírios consumistas de madames europeias… mesmo correndo a velocidades que chegam a 60 km/h, não tem chance contra espingardas.
Cai a noite mais estrelada do mundo. No Hotel Alto Atacama
Nascer do dia nos Geyers Del Tatio, no Atacama
Acordar de madrugada e sentir o frio cortante do nascer do dia enquanto se observa a fumaça fumegante dos geysers Del Tatio invadindo o azul escuro do céu.
Assistir o sol se por no Vale de La Muerte – repleto de dourados e púrpuras – por detrás do vulcão Likankabur.
Hipnotizar-se pelo movimentos leves das centenas de flamingos alimentado-se de crustáceos ancentrais – que conferem o tom rosa a ave – no maior salar do mundo, que abrange 3 mil quilômetros quadrados.
Relaxar à beira de uma das piscinas privativas do Hotel Alto Atacama, tomando cerveja artesanal chilena e ouvindo… o nada. O silêncio total cortado, eventualmente, por um pássaro.
O Atacama me ganhou por completo.
Entre um passeio e outro, almoço no hotel: suculentos filés de avestruz (carne bem consumida por aqui) com molho de cranberry (o Chile é um dos maiores produtores de oxicoco do mundo) e lentilhas cozidas. No Hotel Alto Atacama
Piscos sours para brindar a chegada no Hotel Alto Atacama: lá, todas as refeições e bebidas (alcoólicas e não) são inclusas na diária, assim como os passeios
Cerveja artesanal chilena Kross e carpaccio de avestruz no almoço à la carte do hotel Alto Atacama
Espeto de lhama: animal muito respeitado pelos locais no Atacama, apenas os machos são abatidos e tudo deles é consumido.
Boa parte da experiência incrível vivida por mim tem a ver com o local em que me hospedei: Alto Atacama. Instalado num oásis que inclui o povoado de San Pedro de Atacama – não sabia, mas o Atacama tem vários oásis, o que permite a vida tanto de animais quanto de pessoas -, o hotel tem arquitetura completamente integrada a natureza, quase misturando-se às montanhas avermelhadas.
Quarto do hotel Alto Atacama: amplo, belamente decorado e com um pátio que provoca relaxamento…
Uma das várias piscinas privativas do Hotel Alto Atacama: um ótimo lugar para relaxar dos dias repletos de atividade pelo deserto
Vinhos produzidos no vinhedo mais alto do mundo, a 3000 metros de altitude, no Salar do Atacama. Pena que são ruins… Nem tudo o que é artesanal é bom.
Cristais de sal – sim, podem ser usados como sal de cozinha – no Vale da Lua. Devido ao acesso de exploração, as minas de sal são proibidas hoje em dia.
Ali, tudo existe para tornar a estada tranquila e enriquecedora: a comida repleta de ingredientes locais (como carnes de lhama e avestruz), os vinhos chilenos, os quartos amplos e confortáveis, os passeios diários. Ah, os passeios… em grupos de no máximo seis hóspedes, eles nos levam a paisagens tão distintas umas das outras que quase duvidamos estar em um deserto: montanhas, vales, lagos, geysers, salares. Informações preciosas são passadas em cada trajeto, por que viajar não é apenas ver, é saber, entender, ter noção do todo.
Geisers! Acordamos às 5 da manhã, subimos a mais de 4300 metros e encaramos -1 grau de temperatura. Faria isso mais cem vezes. Atacama, seu estonteante. Estar aqui é sentir como somos passageiros, ínfimos perante a natureza e os milhões de anos que moldam nosso planeta.
Um bom fim de tarde com cerveja chilena artesanal na piscina aquecida do Hotel Alto Atacama
Tuna, o fruto do cacto típico desta região, com sabor de pera. Conhecido no Brasil como figo da índia. Esse eu comi no bufê de café da manhã do Hotel Alto Atacama
Neste post penso que as fotos e suas devidas legendas falarão bem melhor sobre esse destino do que qualquer palavra minha… Mais uma coisa que o Atacama me ensinou: calar, por vezes, fala muito mais alto do que palavras.
Salar do Atacama: três mil quilômetros quadrados e 1450 metros profundidade de sal
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