Berlim é uma cidade a ser descoberta. Sempre. Por mais que se conheça. Assim como está eternamente em obras – guindastes fazem parte do seu skyline -, está eternamente em expansão. Alongada, é necessário pegar metrô, às vezes por mais de meia hora, para se chegar de um ponto a outro. Sendo assim, bons lugares para comer e beber se multiplicam, especialmente os voltados a alimentação vegetariana, vegana e saudável (quando digo saudável, me refiro a zero superprocessados): Berlim é o epicentro do movimento de produção orgânica alemã, assim como da exclusão ou diminuição do consumo de carne.
Berlim é uma festa para quem quer descobrir novos sabores e possibilidades.
Abaixo, listo alguns lugares que já amava ou que passei a amar nessa minha breve estada de três dias. A maioria deles descobri com a Cristi, criadora e guia da plataforma Green Me Berlin (vide box no final do texto), especializada em tours que focam o lado sustentável da cidade.
Die Stulle
Instalado numa área calma da cidade, com mesas dispostas na agradável área externa, o Die Stulle é frequentado basicamente por alemães que, ali, encontram versões mais modernas do “stulle” que, pelo que me explicaram, é um hábito centenário de jantar na região: stulle significa “pão com alguma coisa”.
Ali, o aromático pão integral de grãos variados é acompanhado por misturas criativas e equilibradas, caso do habibi burger, que na verdade trata-se de um sanduíche de queijo halloumi empanado e assado, berinjela defumada, hummus com gergelim e salada (9,50 euros). Outra excelente pedida é o tandoori chicken sandwich (peito de frango ao molho tandoori, molho de manga, abacate assado e molho de gergelim, 10 euros).
O Die Stulle também serve muitos itens de café da manhã como panquecas com maple, banana e geleia e muesli caseiro com maçã assada, nozes, berries, creme de baunilha.
Michelberger Hotel
Sempre que vou a Berlim, passo no Michelberger. Além de hotel descolado, também é ótimo restaurante e bar e, ambos, com custo-benefício pra lá de excelente.
O cuidado com os insumos é tão grande que passaram a produzir alguns destilados e licores próprios – vendidos em diversos pontos da cidade – que figuram em seus bem preparados coquetéis. O Moutain Negroni, por exemplo, é feito com Michelberger Mountain (destilado de fabricação própria, herbal, com anis, sálvia, geleia real, casca de limão, zimbro, entre outros componentes) bitters Gran Classico, Casa Mmario Vermouth e custa 10 euros. O Michelberger Sour leva Michelberger Forest (outro destilado de fabricação própria, esse licor leva zimbro, semente de coentro, baunilha, raíz de angélica, anis estrelado e cumaru), gengibre, suco de limão, laranja e menta e sai por 10,50 euros.
Depois de beber, dirija-se ao pátio interno e entregue-se ao menu sazonal do restaurante, a outros coquetéis, aos vinhos naturais e ao clima de eterna festa que reúne turistas e alemães curtindo o fim do dia.
Tribeca Vegan Ice Cream
Sorvetes cremosos, sedosos, com sabores criativos e gostosos pacas – e, além disso, veganos. Assim é o Tribeca. Preparados com leite de castanhas (castanha de caju e amêndoa) e de coco, óleo de coco e manteiga de cacau e adoçados com açúcar de coco ou xarope de arroz, os sorvetes são realmente excelentes – e sem alguém disser que o leite de vaca fez falta, está mentindo.
Prove o de matchá, de curcuma com quinoa, de pistache com lúcuma, de leite de coco com flor de hibisco (famoso, é naturalmente azul), de sour cherrie com pedaços de cookie de chocolate… Cada bola custa 2,20 euros.
Haferkater
Pode parecer improvável um estabelecimento dedicado ao preparo de mingau dar certo (ou mesmo ser interessante). Mas o Haferkater não só deu muitíssimo certo como já conta com três lojas em Berlim. A razão é a alta qualidade do que serve: a aveia, orgânica, é processada na cozinha central e cozida por longas horas até ficar cremosa. Digo uma coisa: nunca comi NENHUM MINGAU DE AVEIA TÃO BOM.
Os alemães passam nas lojas pela manhã e pegam um potinho para comer no trabalho. Mas também é possível sentar tranquilamente e aquecer o estômago com cerca de 10 combinações de ingredientes. O da foto, por exemplo, tem mingau de aveia (lógico!) banana, quinoa, manteiga de amendoim e groselha desidratada. Cada bowl custa entre 5 e 8 euros.
Hallmann und Klee
O lugar ocupa um imóvel de esquina numa área mega tranquila da cidade. Iluminado, ventilado, tem menu ‘cafédamanhãzístico”, com ótimos pães integrais de produção própria servidos apenas com manteiga e geleia ou compondo sanduíches equilibrados e fartos como o que traz excelente rosbife da casa, queijo feta, pesto, bacon crocante e salada (13,80 euros).
Há também panquecas, croissant, bowl de muesli com frutas, saladas e pratos rápidos, caso do tagliatelle com cogumelos porcini, tomilho, alho e parmesão (21 euros).
Rawtastic
Não chego a ser entusiasta de comida crua – foi o advento do fogo e do cozimento de ingredientes que nos fez absorver mais nutrientes dos alimentos e, desta forma, ter mais energia mental e física -, mas sou sincera em dizer que o Rawtastic serve opções bem saborosas… Cruas E veganas.
Minha preferida foi a “pizza” cuja com massa é feita de trigo sarraceno germinado, linhaça, maçã e abobrinha levada ao desidratador até virar um biscoito fino e crocante. Sobre ela, molho de tomate, cogumelos desidratados, “cheddar” de castanha de caju, rúcula e orégano (16 euros).
Outras delícias são o gaspacho (7 euros) e o Sarma&Mash, folhas de repolho recheadas com mistura de cogumelos e tomate, creme denso de parsnip e salada (10 euros). Ah, a foto é da degustação de cinco pratos do menu, por isso as porções são pequenas.
Velvet
O Velvet é o melhor bar de coquetel em que já estive: e olha que, sempre que viajo, vou a bares de coquetel.
Tudo ali me impressionou: a carta que traz dez drinques autorais e muda todas as semanas por só trabalhar com ingredientes frescos sazonais e locais, a criatividade absolutamente talentosa nas misturas, o conhecimento técnico e simpatia do bartender/sócio Ruben Neideck. Tive a sorte e ir em uma noite calma a ponto de Ruben poder me mostrar a cozinha/laboratório na qual produzem todos os xaropes, destilados não-alcoólicos de plantas e tinturas (possuem um destilador a frio e um separador de óleos essenciais).
Na minha visita, tomei o espetacular Sage (Jerez Amontillado, sálvia destilada, vermouth, tônica inglesa; 10 euros) e o improvável e delicioso Last Autumn’s Pear (tequila blanco, shrub de pera, calvados, sour grape verjus, saquê não filtrado, pimenta rosa destilada; 13 euros).
Daqueles lugares que, sem dúvida, irei todas as vezes em que estiver na cidade.
Almodovar Hotel
Único hotel ecológico de Berlim, fica na região de Friedrichshain. Hoteis ecológicos são aqueles que servem comida sazonal, orgânica ou biodinâmica; xampu, sabonetes, cremes, óleos, etc, são feitos à partir de produtos naturais, sem químicos nocivos; produtos de limpeza são biodegradáveis; móveis, apenas de madeiras de reaproveitamento; decoração com o máximo uso de fibras naturais. Mas se isso sozinho não o convence a se hospedar lá, digo que é também confortável, calmo, com tarifas atraentes e possui um gostoso café da manhã vegetariano.
Green me Berlim: tours inesquecíveis e imperdíveis
Sou fã da Claudi.
Já havia feito um tour com ela há dois anos, quando acabava de lançar o seu projeto Green Me Berlin (você pode ver aqui). Na época, achei encantadora a possibilidade de conhecer, numa tarde, diversas lojas, restaurantes, docerias e cafés com menus sustentáveis/orgânicos/veganos. Atualmente, mais estruturada, sua empresa (sim, de projeto virou empresa, com merecimento!) organiza os melhores tours de Berlim, além de ter se multiplicado em podcast e guias online gratuitos.
Green Me Berlin dedica-se, claro, ao lado mais verde da cidade. Mas não apenas comida: você pode agendar tours focados em projetos sustentáveis em arquitetura, lifestyle, moda, etc. E ela é uma tremenda curadora! Uma tarde com Claudi é uma injeção de conteúdo. Atenção: os passeios são feitos em inglês.
Indico 101%.
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