Já era a quinta volta que o taxista dava sem conseguir encontrar o restaurante. A cada tentativa, nos perdíamos mais entre os milhares de contêineres do porto de Copenhagen. “Você tem certeza que esse restaurante é aqui? Nunca trouxe ninguém no porto pra comer…”, reclama o motorista em um inglês enrolado. Sim, eu tinha certeza. Absoluta. O bom senso o fez ligar para um amigo– então, a sexta volta foi a última. Havíamos chegado. Paguei a conta absurda (ele não deu desconto pela própria enrolação) e saí do carro. Do meu cabelo ao meu pé, tudo gelou: os oito graus negativos daquela tarde pareciam ainda mais polares naquela área descampada. Mas, enfim, estava lá: Bo Bech Paustian, o único restaurante que Claus Meyer (chef, sócio do NOMA, proprietário do Meyer’s Deli e dezenas de negócios ligados a gastronomia e um dos fundadores do movimento da Nova Cozinha Nórdica) havia me indicado pessoalmente no dia anterior. “Você vai ter uma das refeições da sua vida”, disse. A ver.
Bo Bech Paustian ficava no mesmo prédio da megaloja de decoração Paustian, mistura de Tok&Stok com Gabriel Monteiro da Silva. Após a simpática acolhida do host, me dirigi a minha mesa, bem no centro do salão de 40 lugares, pé direito alto, iluminado, de decoração moderna sem exagero, aconchegante— e olha que não é fácil deixar um restaurante aconchegante no meio da área portuária. Decidi, em um instante, ir no menu confiance de cinco pratos (na época, custou 440 DKK, cerca de 140 reais). Sozinha, como viajo frequentemente, tive calma para reparar nos detalhes, como a louça feita à mão, a atenção dos garçons (todos estrangeiros, estudantes, bilíngues), o ruído das panelas bem atrás de mim. Ao me virar, deparei com uma cozinha minúscula, completamente aberta e integrada ao salão. Nela, apenas duas pessoas: um ajudante e o chef Bo Bech, finalizando todos os pratos. TODOS. COM A MAIOR TRANQUILIDADE DO UNIVERSO. Era esplêndido ver sua feição relaxada, tão oposta ao nernovismo e estresse que sempre observei nas cozinhas. A devoção ao ato de cozinhar, e o amor em fazê-lo, eram evidentes. Embriagadores.
P.S.: O Bo Bech Paustian fechou em julho deste ano– a loja pediu o espaço de volta. O novo restaurante do chef está programado para abrir em fevereiro de 2011. O local ainda não foi divulgado.
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