Chios: a Grécia desconhecida (parte 2)

Uma das primeiras coisas que ouvi ao chegar em Chios foi “Você precisa conhecer o Hontzas Tavern. A melhor comida da ilha”. Eis que, na  noite de sábado, finalmente fui. Sim, era a melhor comida da ilha; e isso não é fácil em um lugar onde cozinhar é quase uma declaração de amor.

Maria Damala, minha amiga grega, ligou para Giannis Linos, o proprietário e chef, avisando que uma jornalista brasileira estaria por lá à noite. Evento!  Como disse no post anterior, eles raramente veem uma brasileira por lá… O Hontzas Tavern— negócio de família que já existe há 70 anos–  fica na vila de Kampos, bem pertinho do centro de Chios. Não é de frente pro mar, mas tem um pátio lindo, repleto de oliveiras sob as quais as mesas de madeira com toalhinhas à la cantina são dispostas. Os 38 graus daquela noite não incomodavam porque  o vento fresco fazia o papel de ventilador natural. E os gatos, onipresentes na ilha, perceberam que os amo e ficaram me rodeando durante toda a refeição para pedir comida que eu, claro, dei.

O  cardápio já deixou claro o tom da cozinha: ingredientes frescos, da estação, com receitas autorais. A salada grega estava lá, assim como o Tzatziki, mas também havia porco grelhado com figos turcos secos e vinagre de maçã. Já me animei. Pedi uma porção de Strapatsada (ovos mexidos com tomates; 5 euros), o tal porco (10 euros), torta de abobrinha picante e Soutzoukakia (bolinhos de carne  com cominho cozidos em molho de tomate adocicada, 6 euros).

Vou tentar resumir para não ficar aqui descrevendo cada mordida: ovos mexidos perfeitos, temperados com o tradicional molho adocicado de tomate de Chios; filezinho de carne de porco suculentos, que dispensavam facas para serem cortados e casavam em felicidade eterna com os pedaços de figo turco; “almôndegas” tenras, extremamente bem temperadas, cobertas pelo molhinho de tomate doce/picante; a torta de abobrinha…  bom, essa merece um parágrado à parte.

“Giannis”,– conversei a noite toda com ele porque, oxalá!, ele falava um ótimo inglês– “além de endro e ovos, o que mais você coloca nesta torta para ela adquirir esse sabor intenso, complexo, fresco?”, perguntei. “O segredo é fazer essa receita só na temporada de abobrinha, que é agora, porque o sabor dela fica mais intenso”, ele disse. “Ralo bem a abobrinha, misturo com muitos, mas muitos, ovos, cebola roxa picada fininho, anis, pimenta-do-reino, bastante queijo mastelo ralado e forno. Só.”, completou.

Só? O negócio estava maravilhoso! A refeição que pedi daria, na boa, para três pessoas. A torta, para duas. Eu comi a torta INTEIRA. Não cansava daquele sabor… Ainda vou escrever para Giannis e pedir essa receita, tim-tim por tim-tim.

Então, a sobremesa. Uau! Colocaram na minha frente uma maravilhosa torta de massa phylo caseira, finíssima, recheada com o creme à base de leite, açúcar, gemas e baunilha mais sedoso e suave que comi na vida! Outra vez, os ingredientes eram simples mas a qualidade deles, a procedência, o frescor e a mão do cozinheiro transformaram o comum em delicioso.

Saí do Hontzas tarde da noite, depois de tomar duas cervejas Mythos– uma das mais consumidas na Grécia, com teor alcoólico de 5– papear com Giannis por horas e ter uma das mais prazerosas refeições da minha vida. Por 34 euros.

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